Ela tocava um violão serrado ao meio, cujas cordas flutuavam como pernas de aranha dentro da água. Seria um éter aquele ambiente em que todos estávamos imersos? E se além do éter não existe nada? E se existe? E falei: por que perguntar se não há resposta? Mas não é a pergunta que importa? Ela falou. Aí já não sei, eu disse, por acaso alguém pesca interessado na isca e não no pescado? Ora, e julgamos que o pescador é maior que o pescado. Mas a isca é maior que o pescador. E assim os seus cabelos me arranhavam, talvez porque corressem a velocidades supersônicas. Talvez porque a pele fina não suporta um toque. Mas isto que se define como pele é como dizer que laranjas têm uma casca. E é óbvio que não têm. Tudo não passa de camadas. E camadas dentro de camadas. E o fim de todas as camadas é o todo. Ou o nada. E caminhamos. Não, não caminhamos. Estávamos parados e o mundo é que seguiu debaixo de nossos pés. Afinal, deu-se asas aos anjos para que rastejem, e ventre aos lagartos para que voem. Olhem agora o que aconteceu. Tudo estava cheio de luz e, quando abrimos a janela, a escuridão entrou. Estão com medo? Perguntamos. E disseram: que é o medo? Tive aquele déjà vu de quando perguntara-me Pilatos o que raio era a verdade. Sim, Pilatos, que é a verdade? E o que é esta pergunta? Mas não fiz uma pergunta, ele falou. E por isto ela tocava seu violão. Porque só existe o som. E o silêncio do som.
(01,05,2011)
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