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A síndrome do formador de opinião ou O palpiteiro digital influencer

Que a fama já iludiu muitos egos é algo constatado há milênios, mas agora surgiu um novo tipo de vítima da cegueira envaidecedora da fama que é o tal "criador de conteúdo", "digital influencer", "formador de opinião das redes sociais" ou o que seja.

A internet é uma ferramenta e um fenômeno maravilhoso que elevou a nossa civilização a outro nível e deu às pessoas não só uma enorme quantidade de benefícios e facilidades como também a possibilidade de alcançar certas conquistas que até o fim do século passado eram privilégio de poucos. Uma delas é a fama e a publicidade.

Antes da internet, uma pessoa ser conhecida por milhões era algo realmente raro, exclusivo para celebridades promovidas pela TV, grandes revistas, etc. Hoje qualquer pessoa comum pode criar seu perfil em uma rede social, publicar seus vídeos, fotos, textos e alcançar algumas milhares de pessoas ou até mesmo milhões. E assim foram nascendo estas novas celebridades digitais.

Até aí tudo bem e isso é algo fantástico. Acontece que não raro alguns destas novas celebridades se deixam iludir pelo número de seguidores que consomem seu conteúdo e passam a palpitar em assuntos que não dominam, acreditando mesmo que têm capacidade pra isso.

Palpitar é uma boa prática, na verdade. Todo mundo deve exercer a arte de desenvolver uma opinião e praticar o senso crítico. Mas a diferença entre o palpite e a opinião sólida está no preparo. Ora, quando uma pessoa adoece, ela sabe que é mais seguro procurar um médico que estudou e se dedicou durante anos ao assunto do que um vizinho palpiteiro que sugere um "eu acho que você tem a doença tal e podia tomar o remédio tal".

Existem pessoas que se preparam intensamente em determinados assuntos, como política, economia, religião, história, filosofia... Algumas destas têm seus perfis nas redes sociais e opinam sobre aquilo que entendem. Ao mesmo tempo há os palpiteiros que opinam sobre os mesmos assuntos, mas não têm o embasamento do preparo como autenticador de suas opiniões. O que usam como autenticador é o fato de terem muitos seguidores.

Já se viu aí nessas tretas da internet isso acontecer bastante. Um "digital influencer" começa a palpitar sobre um assunto, enquanto entra em uma discussão e é questionado quanto aos argumentos, ele resolve soltar uma carteirada do tipo "eu tenho milhões de seguidores e quem é você que está me questionando e só tem dez?". 

Às vezes o carinha de dez seguidores era de fato alguém entendido em ciência política ou filosofia ou o que quer que se discutia, alguém que leu dezenas ou centenas de livros sobre o assunto, mas sua opinião é invalidada porque ele, ao contrário do famoso influencer, não tem milhões de pessoas a dar atenção e validar o que diz.

Já é um clichê aquela frase "Pare de tornar famosas pessoas estúpidas". Bom, por mim ok alguns estúpidos serem famosos, afinal os estúpidos podem ser bons em entretenimento. Mas quando quisermos adquirir conhecimento embasado, que busquemos a opinião de gente que realmente se dedica a isso e realmente sabe do que está falando. 

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