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Batwoman, a cosplay de Batwoman

Batwoman (2019-)

Quando vi a Ruby Rose em John Wick 2 (2017), no papel da badass Ares, achei ela o máximo. A personagem era muda, então atuava sempre de boca fechada e só fazendo alguns sinais. Lacônica até nos gestos, esta economia de expressão dava um ar de mistério e combinava com o tipo. Também as cenas de luta foram boas.

Aí veio a Batwoman (2019) e então percebi que Ruby Rose não é mesmo uma boa atriz e só ficou bem em John Wick porque a personagem dela não precisava falar. Ela não tem linguagem facial, algo que mesmo um personagem durão como Batman ou Batwoman deve ter. Os Batmans do Christian Bale, do Ben Affleck e até o garoto David Mazouz, na série Gotham¹, conseguiram transmitir vida emocional. A Ruby Rose é o Cigano Igor da DC.

A CW tem se esforçado em dar mais protagonismo a personagens femininas e a série da Supergirl² é um bom exemplo. No caso da Batwoman, ela não convence. O Batman é um personagem trágico e, diferente de um Tony Stark da vida, ele não é o que é por pura genialidade e fortuna, mas por uma longa jornada de preparo.

De fato, Bruce Wayne é um gênio, tanto da tecnologia quanto da investigação e das artes marciais, mas para tornar-se Batman ele passou por um processo. Ele é um personagem trágico, teve um traumático treinamento com Ra's al Ghul, sofreu várias perdas e tragédias desde a infância, viveu na fronteira da loucura, atazanado por diversos vilões psicopatas, especialmente o Coringa, conheceu a derrota e teve que se reerguer. E ele projetou tudo, a batcaverna, os computadores, os veículos e gadgets.

Aí, na série da Batwoman, o Batman some sem dar explicação e a Kate Kane do nada chega na Batcaverna e pega tudo pronto, todos os brinquedinhos, todo o aparato. Ela não fez nada, nem mesmo teve um treinamento nível Batman. É basicamente uma pessoa comum com um uniforme e que tem noções básicas de luta. Enfim, ela não é a Batwoman, mas um cosplay.

O melhor exemplo de série "urbana" da CW, com personagens geralmente sem superpoderes, é Arrow³. Em Arrow vemos como se constrói da maneira certa um personagem sem poderes especiais. Não só o Oliver Queen, como a Canário e outros que vão entrando no grupo, são a princípio pessoas normais e são lapidadas pela vida, pelas dificuldades. É assim que tais pessoas se tornam duronas.

Já a Kate Kane, ela simplesmente chega na casa abandonada do Bruce Wayne, descobre os equipamentos e resolve assumir a vaga. Parece que a série tinha pressa em dar logo poder a ela, sem criar um arco de preparação. Logo, ela não convence. 

E parece que nem a Ruby Rose se convenceu, pois pulou fora da série após a primeira temporada. A vaga de Batwoman foi ocupada por outra atriz, a Javicia Leslie, mas a personagem Kate Kane vai retornar, só que interpretada por Wallis Day. Isso mesmo, vão usar uma atriz diferente para a mesma personagem e dane-se que elas não têm o mesmo rosto.

A melhor parte da série toda foi apenas no episódio 9 da primeira temporada, pois rola o crossover da Crise nas Infinitas Terras. Depois disto volta ao marasmo de antes.

Death of Superman
Referência à clássica morte do Superman, recriada na Crise das Infinitas Terras da CW.

Notas:




4: Este tipo de "empoderamento feminino" às pressas tem sido comum nestes filmes e séries. Compare-se o arco de queda e reconquista do Thor (ele teve uma trilogia para isso), enquanto a Capitã Marvel em apenas um filme vai de humana comum a personagem mais poderosa do MCU. Ela não tem uma jornada de transformação ou ascensão. É um poder concedido num estalar de dedos (pun intended).

Outro caso foi o da Rey, em Star Wars. Assim como Luke, ela começou como sendo uma "zé ninguém". Luke teve uma trilogia para aprender, treinar, passou por poucas e boas para se tornar um grande jedi. A Rey despertou a força em um instante e fez uma espécie de download mental dos conhecimentos jedi, virando badass em um segundo. Ora, até o Neo, de Matrix, que literalmente fazia download de aulas de kung fu, precisou ainda de um processo de evolução que ocorreu ao longo da trilogia.

Parece que há uma preguiça, má vontade ou impaciência nos roteiristas em dedicar um arco verossímil de evolução destas personagens femininas. É como se houvesse uma pressa em mostrar logo serviço, em dizer: "Olha só, nós temos aqui uma personagem feminina empoderada, então assistam nosso show". Não se tira o bolo do forno antes de estar pronto. Tudo leva um tempo para se preparar e personagens durões requerem um arco. Este arco tem sido negado a estas personagens femininas.

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