Não se deve reprimir os seus instintos. Eles fazem parte da energia básica da alma. Na mitologia grega podem ser representados por Eros. Não o Eros chamado Cupido, pelos romanos, filho de Afrodite (a Vênus romana), e sim Eros segundo a Teogonia de Hesíodo. Ele era um dos deuses primordiais, filho do Caos. Representava o impulso, a energia que motivava a criação.
O instinto é muitas vezes associado à libido. De fato, a energia sexual é criadora, impulsiona a reprodução nos animais, dá motivo para as pessoas fazerem muitas coisas, desde cuidar da aparência até constituir família. Mas libido é apenas uma das aplicações desta energia básica. No hinduísmo, a kundalini, energia que promove uma elevação espiritual do indivíduo, nasce no cóccix e sobe até a cabeça, ou seja, tem origem nas partes sexuais, nos quadris.
Em outras palavras, há um impulso básico que pode transformar-se em libido, bem como em qualquer outra força interior - coragem, iniciativa, busca espiritual, intelectualidade, empatia, etc. E também pode se desenvolver como uma força bruta, a princípio incontrolável, a força para sobreviver, para matar, para morrer, para lutar.
Eis a semelhança entre yogues, santos, gladiadores, assassinos, pensadores, músicos, atletas sexuais. Todos estão fazendo uso duma forte energia instintiva, energia que não pode ser contida, aprisionada, comprimida. A compressão produz explosão, produz aquecimento, mal estar.
O erro da religiosidade e moral dos últimos tempos tem sido lidar com os instintos de forma errada. "Se parecem perigosos", dizem, "reprima". E assim dá-se mais força àquilo que se teme. Uma religião que força o celibato a homens que não conseguem segurar seu impulso sexual apenas corrompe esta força e produz comportamentos sexuais aberrantes. Este é apenas um exemplo do perigo que há em se reprimir instintos.
O instinto deve ganhar liberdade, deve sair da jaula, deve ter espaço para abrir as asas. E deve ser treinado até que se torne maduro e independente. Conta a lenda que o pai de Alexandre Magno havia comprado um cavalo, mas o animal era muito arredio, não se deixava montar e até feria as pessoas.
Alexandre, ainda jovem, percebeu que o cavalo, chamado Bucéfalo, temia a própria sombra, então o menino passou a treinar Bucéfalo sempre caminhando em direção ao sol, de modo que a sombra permanecesse atrás deles. Não vendo mais a própria sombra, Bucéfalo aos poucos perdeu os temores e tornou-se a valente montaria de Alexandre.
Notas:
Escrevi este texto em 2012. Agora, uma década depois, eu acrescentaria um adendo: "Não reprima seus instintos, a menos que queira e seja capaz". Ou seja, entendo que a repressão também pode ser um método poderoso de manipulação das energias internas. Ascetas são especialistas nisso. O jejum, o celibato e até treinamentos bélicos podem lidar com a repressão aos instintos, tornando-os mais fáceis de controlar. Todavia, isto é uma arte e uma vocação. Não é recomendado para todo mundo e a repressão forçada só faz mal. Não creio que o total hedonismo seja ideal, pois os instintos, se deixados na liderança, podem levar ao vício e perda das habilidades do córtex. É preciso encontrar o balanceamento entre o córtex o o sistema límbico.
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