Enquanto a maioria das séries da DC tem se passado no "universo CW" ou arrowverso¹, a série Krypton (2018-2019) teve outra casa, o canal SyFy.
A SyFy é especialista em produzir uma abundância de séries em filmes focados em ficção científica, futurismo e sagas espaciais. É um canal bem nichado e fiel a um público específico: a galera que curte sci-fi.
Como muitas destas produções têm um orçamento modesto, o SyFy tem certa fama de produzir tosqueiras ou séries genéricas e repetitivas. É o caso de Krypton. No geral, Krypton é uma série genérica de ficção espacial, mas tem seus bons momentos. Só o fato de ser uma ampliação da mitologia do Superman já é um ponto positivo.
A história traz personagens já mencionados nos quadrinhos e até mesmo no livro canônico Os Últimos Dias de Krypton (2007), também bebe um pouco da ambientação criada no filme Man of Steel (2013), bem como aquele conceito de que o S significa esperança, de modo que consegue de fato construir um mundo kryptoniano sólido, com castas, cenários diversos e crises políticas.
A série também ousa em usar um dos vilões mais importantes da DC, o Brainiac, porém bastante nerfado (tem uma hora que o protagonista consegue matar um avatar do Brainiac com... uma paulada!). O protagonista é Seg-El, pai de Jor-El e, portanto, avô do Superman.
O melhor da série mesmo, quem roubou a cena, foi ele, o Maioral, o Lobo, que aparece no começo da segunda temporada. Interpretado por Emmett J Scanlan, este Lobo é meio magrelo, não é o brucutu que esperamos ver em uma versão live action do personagem, tipo um Jason Momoa (difícil pensar em alguém mais adequado para ser o Lobo do que ele, no momento). Mesmo assim, a série respeita o poder do Lobo, embora adote uma abordagem mais de alívio cômico.
A cena mais interessante é quando Lobo está perseguindo Seg-El (na verdade ele está caçando Brainiac, que por acaso se instalou no corpo de Seg-El) e não consegue atravessar uma sala protegida por um campo de força. Lobo mete o braço no portal e o campo de força o amputa instantaneamente. Ele continua sem poder alcançar Seg-El do outro lado do campo de força, mas o braço amputado está lá aos pés do kryptoniano.
O que o Lobo faz? Ele dá um tiro no campo de força, a rajada ricocheteia e explode sua própria cabeça. assim o corpo decapitado do Lobo cai morto, mas eis que ele começa a renascer no braço que estava do outro lado. Tal é a eficácia do fator de cura do Lobo. A partir de um braço ele pode se regenerar totalmente. É uma cena ao mesmo tempo foda e cômica.
O Doomsday também está presente na série e, aliás, tem um visual bem mais fiel aos quadrinhos do que aquele boneco de cera do filme Batman v Superman (2016). A versão do Zack Snyder é oca e sem uma boa história. Em Krypton, ele tem sua origem desenvolvida no sétimo episódio da segunda temporada.
No início, Doomsday era um soldado kandoriano chamado Dax-Bron. Ele possui uma mutação genética única, de modo que os cientistas Wedna-El e Van-Zod o submetem a experimentos para explorar e aprimorar esta mutação. A princípio o processo é feito com o consentimento de Dax, pois é dito que ele se tornará um soldado mais apto a lutar para o fim da guerra civil em Krypton.
A sequência de experimentos é bem sádica. Ele é morto e ressuscitado centenas de vezes, sendo exposto a diversos tipos de agressão, de modo que seu corpo vai desenvolvendo invulnerabilidade a cada ataque, mas também vai se enchendo de cicatrizes, a ponto dele adquirir a grotesca e encouraçada aparência do monstro Dooomsday. O trauma da longa tortura também afetou sua mente, tornando-o um ser bestial.
O momento mais dramático da série foi justamente este episódio sobre a origem do Doomsday, principalmente quando sua esposa aparece para resgatá-lo e se depara com um monstro. Assim como o Hulk é uma versão dos quadrinhos para o clássico O Médico e o Monstro, o Doomsday é uma versão do Frankenstein, um ser criado pela ambição de cientistas e transformado em monstro, desumanizado, restando-lhe apenas cultivar o ódio.
Krypton durou apenas duas temporadas, mas deu uma boa contribuição para a expansão do universo DC em live action.
Notas:
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