O conhecimento é uma quimera de várias cabeças e nenhuma delas tem dominância ou pode existir isoladamente.
O conhecimento empírico, o que inclui a experiência pessoal e o senso comum, é a forma mais comum e acessível de conhecimento. É algo que todas as pessoas desenvolvem, afinal é cultivado naturalmente ao longo de toda a vida, transmitido na convivência entre as pessoas, nos ensinamentos dos pais aos filhos.
É um conhecimento impreciso e bastante diverso. O que uma pessoa aprendeu na vida pode ser bem diferente do que todas as outras pessoas à sua volta aprenderam. Todavia, é a forma mais útil de conhecimento, já que lida com a própria vida em seus aspectos mais cotidianos e triviais.
O conhecimento intelectual, ou puramente racional, é disputado pela ciência e pela filosofia. A ciência é mais focada, mais precisa, mais atomista e dedicada a dissecar, investigar pela repetição, pelo teste, tirando conclusões de forma estatística. A ciência tem um fim bem específico: descrever o mundo concreto e desenvolver fórmulas que permitam manipular este mundo de uma maneira tecnológíca, para fins práticos e também especulativos.
A filosofia pode recorrer aos métodos da ciência, porém não está limitada a isto. Ela envereda pela especulação muito mais que a ciência. A filosofia usa da razão para analisar o mundo concreto, mas também penetrar no mundo irracional e abstrato, o mundo das conjecturas e da imaginação. Neste aspecto, a filosofia assemelha-se à arte, já que muitas das ideias abordadas pela filosofia têm origem na pura imaginação, porém recebem uma investigação racional, de modo que a filosofia consegue unir arte e ciência.
De fato, a filosofia precede a ciência, é a mãe dela. Um cientista que não é preparado pela filosofia torna-se um repetidor acrítico de conceitos e corre um grande risco de se tornar um fanático da ciência, traindo o próprio princípio científico do questionamento. É a filosofia que ensina a questionar, a identificar a falácia e desenvolver a própria técnica da investigação do conhecimento (daí a epistemologia pertencer ao campo da filosofia).
O conhecimento artístico, assim como o empírico, é mais subjetivo, irracional, não escravo da precisão ou da fórmula. O artista pode aprender e utilizar técnicas, que são o aspecto científico de sua arte, porém ele as executa inspirado por sua imaginação e talentos, por suas emoções e visão única de mundo.
O conhecimento místico é a forma mais complexa de conhecimento, pois mistura todas as outras: a experiência de vida, a metodologia da ciência (desviada, obviamente, para objetos abstratos, daí produzir ramos do saber considerados pseudociência, como a astrologia), o questionamento e elucubração filosófica, bem como o trabalho imaginário e emocional da arte.
O misticismo é a quimera das quimeras, um misto de métodos que, isolados, seriam oponentes. Magia é essencialmente mistura, simbolizada na figura do mago ou bruxa que cozinha uma poção. Como na culinária, a magia combina ingredientes. Por isto é a forma de conhecimento mais caótica, já que há nela um pouco de tudo.
O monstro quimérico do misticismo é desprezado pelo cientista puro (mas muitos dos grandes cientistas da história foram místicos. Newton que o diga); é ignorado pelo artista puro (que contenta-se com a arte e faz magia sem saber que o faz) e é debochado pelo filósofo puro (que, arrogante ou egoísta, não reconhece o aspecto filosófico do misticismo).
De toda forma, há magia em toda a busca do saber. Na vida cotidiana, o conhecimento do senso comum se depara com realidades mágicas. O cientista humilde contempla e reconhece o mistério do cosmo. O filósofo de mente aberta expande suas investigações para o horizonte da magia. O artista deixa-se inspirar pelas musas, impregnando a imaginação com influências mágicas.
A melhor forma de comunicação para realizar esta mescla de conhecimentos, para intermediar a diplomacia entre os ramos do saber, é o símbolo. Nos símbolos há ciência, há filosofia, há senso comum e magia. Simbologia é a forma mais eclética de saber.
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