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A morte das redes sociais e a Web 3.0

Quando a internet se popularizou nos anos 90, o gérmen da rede social era o e-mail. Naturalmente o e-mail se tornou uma forma não somente de comunicação, mas também de integração. As pessoas trocavam e-mails conversando sobre assuntos triviais ou particulares, faziam o que hoje se faz no chat das redes sociais. 

Também enviavam mensagens para um grupo de pessoas, os contatos na agenda, e repassavam conteúdos recebidos, criando uma cadeia de difusão de mensagens que serviu para espalhar apresentações bonitinhas em PowerPoint e muito spam contendo lendas urbanas, vírus, propagandas de todo tipo.

Do e-mail para a rede social propriamente dita foi um pequeno salto. Surgiram o MySpace (2003), o Multiply (2003), o Windows Live Spaces (2004), o Orkut (2004), o Facebook (2004), o Sonico (2007). Algumas delas se especializaram, como o LinkedIn (2003), voltado a divulgar currículos e oportunidades de emprego; o Ning (2005) com ênfase para formação de grupos e fóruns; o MySpace especializou-se em música; o Flikr (2004), em fotografia; o Goodreads (2006) é voltado a literatura; o Formspring (2009), para perguntas e respostas; o Pinterest (2010), para imagens. No Brasil, o Skoob (2009) se assemelha ao Goodreads, também integrando interessados em livros.

E outras dezenas de sites do tipo surgiram, cada vez mais especializados. Algumas redes sociais dedicam-se a jogos eletrônicos, outras a sexo e datting,  cinema, quadrinhos, etc. Ao mesmo tempo vinha surgindo um formato mais simples, o microblog, voltado a postagens breves, concisas. Eis o Twitter, surgido já em 2006. Em 2009 aparece o Tumblr, com mais funcionalidades e preferência por postagem de imagens. A última rede social de peso a ser lançada foi o Google Plus (2011) ou Google+.

Agora vivemos a Era Facebook. Alguns sites que já foram muito populares, como Orkut e MySpace, entraram numa rota decadente, sofrendo abandono de usuários e críticas quanto à sua qualidade. O fato é que os usuários vão aonde o povo está. Se os seus amigos começam a migrar para o Facebook, mais cedo ou mais tarde você também vai, pois não quer ficar falando sozinho no Orkut. Esta é a dinâmica das redes sociais.

A julgar pela história, o Facebook pode experimentar o mesmo ciclo de vida das outras redes. Nasce, cresce, torna-se bastante popular, depois começa a perder usuários para uma nova rede promissora. Seria o Google+ a próxima onda? Bom, não faltaram tentativas da Google para aproveitar esta chance, tanto que antes do Google+ tentaram implantar o Google Wave (2009), sem sucesso.

O fato é que isto que se chama Web 2.0, cuja principal característica é a rede social, parece que aos poucos será substituída pela suposta Web 3.0. Qual seria a grande diferença? A diferença seria que o usuário já não estará focado num site específico, como um site de rede social. 

Ao entrar na internet já encontrará os conteúdos organizados de acordo com suas preferências, com seu histórico de navegação. Seus contatos estarão onipresentes, facilmente acessíveis. A internet inteira será a rede social.

Esta ideia de Web 3.0 é ainda muito nebulosa e não podemos saber como será esta integração do usuário com a internet, mas é certo que os mecanismos de busca terão um grande papel, pois navegar na internet consiste basicamente em fazer buscas. 

Neste caso, a Google se encontra numa posição privilegiada. Talvez o Google+ não consiga superar o Facebook, mas quando o Facebook esfriar, quando as redes sociais esfriarem, a Google ainda estará lá, oferecendo aquilo que vai continuar existindo na próxima era da internet: a busca.

Notas:

Escrevi este texto em 2012. Na época realmente acreditei que o Google + iria vingar. Em termos de funcionalidades, parecia bem mais interessante que o Facebook, mais nerd, pois era voltado à formação de círculos de interesse e classificação de conteúdo. 

O Google + foi mais um que entrou para o cemitério de projetos abandonados da Google. Quanto ao Facebook, continua aí, mas claramente já não tem a hype de outrora. Ele se tornou algo semelhante ao e-mail, algo que as pessoas têm, mas não usam como forma primária de interação. O Facebook virou um álbum velho de fotografias e uma lista de contatos, servindo só para você colecionar parentes, amigos e conhecidos.

Obviamente ainda há muita vida no Facebook, principalmente agora que as pessoas estão fanáticas por debate político. O mesmo aconteceu com o Twitter. Lá em 2012, lembro que o Twitter era uma rede social bem mais lúdica e o normal era você encontrar as pessoas falando de celebridades, músicos, filmes e séries, animes e esportes, além de aleatoriedades e muito humor e memes.

Hoje ainda existe tudo isto no Twitter, mas já não é o conteúdo mainstrean. Agora o tema de todos os dias é a política e todos viraram especialistas nisso. Nota-se que a política dominou o site pelo fato de ser sempre o assunto na maioria dos trend topics.

Quanto à tal web 3.0, continua sendo um conceito nebuloso. Ainda estamos na era das redes sociais e continuam surgindo novos sites, cada vez mais nichados. Como tentativa de concorrer com o Twitter e oferecer uma plataforma com a moderação menos paranoica (pois o Twitter, no esforço por se tornar um ambiente bem moderado, acabou ficando insuportavelmente controlador, banindo usuários com muita facilidade ou reduzindo seu alcance com o tal "ghosting"), por exemplo, surgiram sites como Gab e Parler que, da mesma forma, também estão infestados de política. Onde foi parar a diversão das redes sociais? Why so serious?

Agora, dez anos depois deste texto, as redes sociais continuam vivas, mas perderam a preferência para os aplicativos de mensagem, especialmente WhatsApp e Telegram. É assim que as pessoas agora preferem se comunicar. Os grupos do WhatsApp são frequentados rotineiramente e diversas vezes ao dia por uma pessoa. Este aplicativo conseguiu fazer a inclusão de idosos e semi-analfabetos (ou até analfabetos) na internet, já que basta saber apertar uns botões na tela e, para se comunicar, podem mandar áudio de voz.

As redes sociais devem continuar existindo, assim como o e-mail ainda existe, e vão continuar tendo sua utilidade, mas já não ocupam a liderança entre os recursos de comunicação digital. Agora estamos na "Era do Zap", mas isto continua sendo web 2.0. Quanto à tal web 3.0, talvez daqui a dez anos eu volte ao assunto pra ver o que mudou.

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