Não é questão de otimismo, mas de previsibilidade histórica. Basta olhar para os tantos exemplos do passado. É claro que o futuro é incerto e as coisas podem não acontecer como esperamos, mas há um padrão que se repete há milênios que nos dá ao menos uma estimativa do que está por vir.
Obras literárias de grande qualidade sobrevivem ao tempo, mas o fator determinante para sua divulgação ampla é o poder econômico do país que a divulga. O mesmo se dá com as línguas. Qual é a língua que se torna universal senão aquela exportada pelos povos dominantes?
Foi assim com a língua grega. Só se tornou o padrão nos tempos do império macedônico. Bastou Roma assumir o cetro do poder e o latim gradativamente foi tomando o lugar do grego. Prova disto é que nos primeiros séculos da era cristã as cópias do Novo Testamento eram na maioria em grego. Quando instalou-se o império romano, foram as versões em latim que se tornaram populares.
Depois do latim, o mundo passou por um hiato, enquanto se formavam os estados nacionais, e logo em seguida foi o inglês assumindo a liderança, a princípio devido à influência imperialista da Inglaterra, na época das colonizações, depois a tocha passou às mãos dos Estados Unidos e o inglês ganhou o mundo.
De carona com a língua, viaja a literatura. Não é à toa que os clássicos da literatura grega popularizaram-se durante o império macedônico. Os literatos romanos mundialmente conhecidos viveram no auge da glória romana, como Cicero e Agostinho (este já na fase em que Roma dava seus últimos suspiros). Qual é o autor britânico mais popular senão aquele que brilhou na época em que a influência inglesa estava no topo? Sim, me refino a Shakespeare. Quanto à literatura norte-americana, seus autores mais conhecidos são todos do século XX ou final do século XIX, como Twain, Hemingway, Sidney Sheldon, Alan Poe.
Agora temos uma nova organização do pódio econômico em andamento. A China já parece inevitavelmente fadada a ocupar o primeiro lugar¹. Em seguida vem o Japão. E o Brasil recentemente subiu para a sexta posição outrora do Reino Unido.
Isto significa que a língua chinesa ganhará mundo? Claro. Principalmente quando os empresários chineses começarem a preferir usar sua própria língua nas negociações com os estrangeiros. Mas não significa que o inglês será subitamente aniquilado. O latim, por exemplo, perdurou ainda por séculos depois que Roma caiu, em sua forma romana ou nas variantes mestiças. O inglês vai continuar, mas esperemos mais escolas de mandarim aqui em nossas terras.
Quanto ao português brasileiro e sua literatura, têm diante de si uma oportunidade de ouro. À medida que cresce sua influência econômica, cresce a divulgação da língua. Além disto, temos a vantagem de usar uma língua de caracteres latinos, o que facilita sua difusão no restante do ocidente, diferente do chinês que usa caracteres próprios.
O Brasil já exporta literatura. Exporta novelas, música, livros. Paulo Coelho é de longe o mais bem sucedido exemplo. E agora que cresce o alcance do braço cultural do Brasil no mundo, cresce a demanda. Isto significa mais oportunidades para os produtores de conteúdo, músicos, escritores, até professores de língua portuguesa para estrangeiros.
(10,01,2012)
Notas:
1: Escrevi este texto em 2012. Já na época se falava muito na ascensão comercial da China e havia essa moda de dizer que estava na hora de estudar mandarim, etc. Confesso que era uma visão um tanto ingênua de como funcionam as coisas na geopolítica. Não é do dia para a noite que a ordem mundial vai mudar de tal maneira que o mandarim se torne mais relevante que o inglês. Também nem é certo que isto vá mesmo acontecer. Óbvio que esta é a intenção da China e eles declaram isto abertamente. É uma agenda do Partido tornar aquele país o líder mundial nas próximas décadas. Todavia, a situação global é intrincada e há muitos players em jogo, tanto países quanto indivíduos e instituições.
Anyway, não pretendo nem tenho preparo para analisar geopolítica a fundo. O objetivo do texto era e ainda é observar como o Brasil tem uma oportunidade de exportar sua língua e literatura e, mesmo com as crises que aqui se abateram, esta oportunidade continua de pé. O Brasil é um país rico e com grande potencial econômico. Tem ainda a vantagem de não ter a tendência a se desgastar em conflitos e animosidades internacionais, tanto que possui parceiros econômicos em todos os cantos do globo, seja na China, EUA, Oriente Médio ou Europa.
O Japão se tornou um grande exportador de anime porque se tornou um grande exportador. A divusão de sua produção artística seguiu paralela ao seu crescimento econômico. Assim acredito que a literatura brasileira (e tudo o mais: música, cinema, etc.) deve alcançar um nível de divulgação internacional cada vez maior.
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