Este filme sul-coreano de 2003 foi baseado em um mangá de 1997 e compõe uma trilogia do diretor Chan-wook Park baseada no tema da vingança (os outros dois são Senhor Vingança e Lady Vingança).
Um homem é raptado e aprisionado em um apartamento. Nos primeiros dias ele, obviamente, se debate e reclama, querendo ao menos saber por que está ali, mas o único contato que tem com o mundo externo é a pequena portinhola pela qual recebe comida.
"Ei, moço, esse salgado é de quê?" |
No mais, passa seus dias solitário, acompanhado pela televisão e adormecido pontualmente por uma descarga de gás valium. Enquanto está dormindo, recebe cuidados, cortam seu cabelo, analisam sua saúde. Jamais é maltratado, jamais alguém entra no quarto para agredi-lo ou sequer falar com ele. E assim se passam quinze anos.
O que acontece com uma pessoa submetida a este tipo de vida? Isolada, esquecida, todavia educada pelo que vê na televisão e treinada por si mesma, pois o desejo de sair, de vingar-se, de entender o motivo pelo qual foi submetida a tudo isto, torna-se uma meta, um ideal.
Quando finalmente escapa, seus primeiros contatos com o mundo são emocionantes, pois ver humanos novamente é quase uma necessidade fisiológica, de sentir o cheiro, o toque, de conversar. Mas ele já está transformado. Ele não é mais humano ou um humano comum e está obcecado pela ideia de vingança.
A trilha sonora encanta, é dramática e forte. E as cenas de luta são totalmente diferentes do convencional em filmes. Não há golpes bonitos de artes marciais. Ele treinou uma luta imaginária por quinze anos de modo que o resultado é uma espécie de briga de rua, uma troca de golpes imprecisos e animalescos. É uma “luta feia” e por isso mesmo interessante, empolgante. Suas armas são os punhos e um martelo em uma das melhores "lutas de corredor" de todos os tempos.
Sua vida agora gira em torno de duas necessidades: vingar-se de quem o aprisionou e descobrir a verdade, saber por que isto aconteceu. Então ele se empenha numa viagem pela própria memória, vasculhando o passado, e usa de um impressionante poder intuitivo pra adivinhar onde vive seu inimigo e caçá-lo.
Além de todo o drama, da tensão e do suspense, o filme também é interessante pela transformação constante do personagem, uma bizarra jornada do herói. Ele primeiro é desumanizado, enlouquecido. Seu rosto e seus trejeitos são estranhos.
Após libertar-se, gradativamente experimenta uma nova humanização com a ajuda de uma companheira, mas a busca pela verdade e pela vingança é superior e o leva a uma nova transformação.
Por fim, ele chega num momento crucial. Diante do inimigo terá que descobrir a verdade que buscava e consumar a vingança. Mas neste clímax ele também se transforma e sua ira é substituída por um misto de arrependimento e humilhação.
É curioso notar uma semelhança com o Conde de Monte Cristo. Um homem aprisionado por longos anos, que treina de forma rústica para enfim buscar vingança. E em determinado momento há uma referência clara ao Conde de Monte Cristo inclusive. Também há forte referência à tragédia de Édipo.
Oldboy é um drama de grande qualidade. Imprevisível, hipnótico e que ao final nos deixa impressionados. É uma das melhores senão a melhor obra de Chan-wook Park e excelente atuação de Choi Min-sik.
Em 2013 foi feito um remake norte-americano, mas o original é muito melhor em todos os aspectos.
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