Estás brincando?
Não fala assim que é crime!
Não estás vendo que o mundo não permite?
Onde se viu uma ovelha desgarrada
ou algum boi que se afasta da boiada?
Não, isso não pode, pois todos desconfiamos
de tudo aquilo que não anda em rebanhos.
Eia, caminha, engaja-te na fila,
pois solitários despertam só suspeita.
Não são estranhos os tais serial killers?
Devem ser loucos, desgarrados, autistas...
Mas e os santos, os padres do deserto?
E São Francisco, e Santo Antão, decerto
não eram homens dados à solitude?
E quanto a Elias, que fugiu para o monte?
Não achou Buda a luz numa figueira,
longe das praças, dos circos e estaleiros?
Não foi Jesus aprovado no deserto?
E, quando sangue chorou, quem estava perto?
Só que os tempos são outros. Olha em volta.
Nas ruas câmeras, olho mágico nas portas.
E não se engane, que o Olho tudo vê.
Olhe o abismo e o abismo olha você.
Isso que falas, coisas de ermitão,
é proibido; é crime a solidão.
(01, 03, 2011)
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