Publicado em 1949, este livro reúne cartas, conteúdo de palestras e ensaios diversos de Albert Einstein, resultando numa compilação de suas opiniões sobre vários assuntos, a maioria deles relacionada às questões humanistas.
O sentido da vida
Aqui Einstein se mostra não como o famoso físico, mas como o cidadão da Terra, o ser humano preocupado com questões sociais e também cósmicas, pois começa pela principal questão: Qual o sentido da vida?
Sobre isto, ele responde:
"Tem um sentido a minha vida? A vida de um homem tem sentido? Posso responder a tais perguntas se tenho espírito religioso. Mas, fazer tais perguntas tem sentido? Respondo: Aquele que considera sua vida e a dos outros sem qualquer sentido é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver."
Religião cósmica e religiões institucionais
Ele resumia a sua fórmula existencial na busca do "bem, beleza e verdade" o que, no decorrer do livro, irá desenvolver e nomear como uma "religião cósmica". Sim, Einstein considerava-se religioso. Mas não adotava um nome ou instituição. Não era cristão, não era judeu (ainda que judeu por etnia e demonstrando grande respeito pela cultura religiosa judaica), não chegava a se denominar ateu ou agnóstico, mas também não declarava crença em algum deus das grandes religiões.
O que era Einstein, então? Era simplesmente um livre pensador. Considerava-se livre para tecer sua própria opinião e sua própria espiritualidade livre de imposições de autoridades religiosas ou credos estabelecidos.
Sobre a religião cósmica, ele diz:
"Todos podem atingir a religião em um último grau, raramente acessível em sua pureza total. Dou a isto o nome de religiosidade cósmica e não posso falar dela com facilidade já que se trata de uma noção muito nova, à qual não corresponde conceito algum de um Deus antropomórfico.
O ser experimenta o nada das aspirações e vontades humanas, descobre a ordem e a perfeição onde o mundo da natureza corresponde ao mundo do pensamento. A existência individual é vivida então como uma espécie de prisão e o ser deseja provar a totalidade do Ente como um todo perfeitamente inteligível. Notam-se exemplos desta religião cósmica nos primeiros momentos da evolução em alguns salmos de Davi ou em alguns profetas. Em grau infinitamente mais elevado, o budismo organiza os dados do cosmos, que os maravilhosos textos de Schopenhauer nos ensinaram a decifrar. Ora, os gênios-religiosos de todos os tempos se distinguiram por esta religiosidade ante o cosmos. Ela não tem dogmas nem Deus concebido à imagem do homem, portanto nenhuma Igreja ensina a religião cósmica. Temos também a impressão de que os hereges de todos os tempos da história humana se nutriam com esta forma superior de religião. Contudo, seus contemporâneos muitas vezes os tinham por suspeitos de ateísmo, e às vezes, também, de santidade. Considerados deste ponto de vista, homens como Demócrito, Francisco de Assis, Spinoza se assemelham profundamente.
Como poderá comunicar-se de homem a homem esta religiosidade, uma vez que não pode chegar a nenhum conceito determinado de Deus, a nenhuma teologia? Para mim, o papel mais importante da arte e da ciência consiste em despertar e manter desperto o sentimento dela naqueles que lhe estão abertos. Estamos começando a conceber a relação entre a ciência e a religião de um modo totalmente diferente da concepção clássica."
Ele discorre sobre o conflito entre ciência e religião e apresenta esta forma nova, diferente da concepção clássica que via um conflito entre ambas. Para ele, é possível uma harmonia, mas não entre ciência e a religião supersticiosa ou das instituições. Einstein faz uma distinção entre tipos de religião, destacando a religiosidade cósmica como algo separado das seitas ou das crendices primitivas.
Deus e o panteísmo
Assim como Schopenhauer, demonstra simpatia pelo budismo, considerando-o uma filosofia mais pura de dogmatismos e mais semelhante ao conceito cósmico que ele descreve. Sobre Deus, Einstein menciona a palavra "panteísmo" e considera o "Deus de Spinosa", que não é um ser antropomórfico, mas um resumo de todo o Cosmo, com a presença de uma Razão universal, o antigo Logos dos gregos.
"1. A expressão 'verdade científica' não se explica facilmente por uma palavra exata. A significação da palavra verdade varia tanto, quer se trate de uma experiência pessoal, de uma proposição matemática ou de uma teoria de ciência experimental. Então não posso absolutamente traduzir em linguagem clara a expressão 'verdade religiosa'.
2. Por despertar a ideia de causalidade e de síntese, a pesquisa científica pode fazer regredir a superstição. Reconheçamos, no entanto, na base de todo o trabalho científico de alguma envergadura, uma convicção bem comparável ao sentimento religioso, porque aceita um mundo baseado na razão, um mundo inteligível!
3. Esta convicção, ligada ao sentimento profundo de uma razão superior, desvendando-se no mundo da experiência, traduz para mim a ideia de Deus. Em palavras simples, poder-se-ia traduzir, como Spinosa, pelo termo 'panteísmo'.
4. Não posso considerar as tradições confessionais a não ser pelo ponto de vista da história ou da psicologia. Não tenho outra relação possível com elas."
Guerra e pacifismo
Sobre a guerra, Einstein a abominava. Foi contra a produção da bomba atômica e chegou a trocar cartas com Freud em que tentava encontrar um caminho para a paz mundial (recebendo de Freud uma resposta severa e um tanto pessimista). Ele claramente se opunha à existência de exércitos. Diz ele:
"A pior das instituições gregárias se intitula exército. Eu o odeio. Se um homem puder sentir qualquer prazer em desfilar aos sons de música, eu desprezo este homem... Não merece um cérebro humano, já que a medula espinhal o satisfaz. Deveríamos fazer desaparecer o mais depressa possível este câncer da civilização. Detesto com todas as forças o heroísmo obrigatório, a violência gratuita e o nacionalismo débil. A guerra é a coisa mais desprezível que existe. Preferiria deixar-me assassinar a participar desta ignomínia.
...O serviço militar obrigatório tem de ser combatido porque constitui o principal foco de um nacionalismo mórbido.
...A certeza de alcançar a segurança por meio do armamento nacional não passa de sinistra ilusão, quando se reflete no estado atual da técnica militar. Nos Estados Unidos esta ilusão se fortaleceu de modo particular por outra ilusão, a de ter sido o primeiro país capaz de fabricar uma bomba atômica."
Ele foi, portanto, um grande pacifista e via no pacifismo a maior revolução que a civilização moderna precisava experimentar. Menciona Gandhi e o tem em alta conta: "Gandhi encarna o maior gênio político de nossa civilização."
Solitude e sociedade
Amante da humanidade e do bem comum, ativista pela paz e o progresso da civilização, Einstein também era um homem recluso. Vivia modestamente com sua esposa, não gostava dos holofotes e da fama que lhe davam e, como todo bom pensador, tinha simpatia pelo recolhimento da solitude.
"Tenho forte amor pela justiça, pelo compromisso social. Mas com muita dificuldade me integro com os homens e em suas comunidades. Não lhes sinto a falta porque sou profundamente um solitário.
...Tenho dificuldade em vencer minha atração por uma vida de retiro tranquilo."
Conclusão
Nota-se, nesta obra não exatamente autobiográfica, mas de confissões, que a grandeza de Einstein vai além de sua contribuição no campo da ciência, particularmente a física. Ele foi um grande humanista, um cosmopolita que sonhava com o fim da intolerância, da guerra e das disputas tribais de crenças e diferenças étnicas ou nacionalistas. Este Einstein, o cidadão do mundo, o homem cósmico, merece mais atenção.
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