Este filme teve produção e roteiro da dupla Wachowski (que fizeram fama e fortuna na trilogia Matrix) e foi protagonizado por Natalie Portman (ganhadora do Oscar de melhor atriz em Cisne Negro), mas o maior responsável pelo seu sucesso, a mente por trás da obra de arte, é Alan Moore. É impossível falar de V de Vingança sem falar algo sobre Alan Moore.
Conhecido como o “bruxo dos quadrinhos”, ele é um dos pais das histórias em quadrinhos modernas voltadas para público adulto. Moore, Neil Gaiman (autor de Sandman, Stardust, Coraline, etc.), Frank Miller (autor de Sin City, 300, Batman the Dark Knight) e Grant Morrison (All Star Superman) são exemplos de uma geração de novos roteiristas que se destacaram a partir dos anos 80 com a criação de histórias densas, psicodélicas, muitas vezes mais sombrias e de grande qualidade literária. Ou seja, ajudaram a elevar os quadrinhos a um novo status.
Com estes autores, a indústria mainstream de quadrinhos, liderada pelas editoras Marvel e DC, popularizou uma nova categoria, um novo estilo de revistas. Agora não havia apenas heróis simpáticos trocando socos e saltando prédios. Surgiram personagens obscuros, problemáticos, envoltos em tramas complexas, drama, terror, ocultismo, filosofia, sexo e violência.
Essa nova cara dos quadrinhos se desenvolveu principalmente na DC, que criou um selo próprio para tais histórias: Vertigo. V de Vingança é um dos principais produtos dessa safra de revistas sombrias.
Alan Moore escreveu V de Vingança como uma série em quadrinhos de 10 edições, lançada entre 1982 e 1989. Também foi autor de John Constantine (publicado em 1985 e adaptado para o cinema em 2005), Watchmen (1987, adaptado para o cinema em 2009) e A Liga Extraordinária (1999, adaptado para o cinema em 2003).
A história de V de Vingança é uma distopia, um conto futurista explorando um mundo decadente e tomado pela tirania. Se passa em Londres, num futuro próximo, após uma guerra que devastou os Estados Unidos e levou a Inglaterra a um governo ditatorial e opressor.
A opressão acontece nos moldes clássicos: os civis são rigorosamente vigiados e violentados pela polícia, a classe trabalhadora é submetida a um regime escravista e várias minorias são perseguidas, como negros, judeus e homossexuais.
É neste ambiente que surge uma figura anarquista e revolucionária, simplesmente chamada de V, abreviação da palavra Vingança (Vendetta, em inglês), pois ele teve o rosto desfigurado e passa a usar uma máscara, também numa referência ao Fantasma da Ópera. Na verdade, a máscara de V é uma caricatura do rosto de Guy Fawkes, um soldado que participou da chamada Conspiração da Pólvora em 1605, que pretendia matar o rei Jaime I, um símbolo para a rebeldia contra o governo.
V de Vingança é, portanto, a história de um golpe de Estado, de uma revolução para destruir um governo opressor. Defende ideais anarquistas e não é à toa que a máscara do personagem passou a ser usada pelo recente movimento anarquista anonymous, mostrando a influência que essa obra de Alan Moore exerceu sobre a cultura popular.
O V foi uma letra muito bem escolhida, devido ao seu simbolismo. V lembra não apenas Vingança, mas também Vitória. Além disso, esta letra invertida lembra o A, símbolo do anarquismo. Por fim, V representa o número cinco em latim. E o filme está repleto de menções ao cinco.
A protagonista que se torna protegida de V se chama Evey, um nome que tanto possui a letra V, quanto se pronuncia igual em inglês, e começa com a letra E, que é a quinta letra do alfabeto. Numa cena em que dança com Evey, V escolhe a música de número 5 na jukebox. Em outra cena ele toca a Quinta Sinfonia de Beethoven. Por fim, há referência ao lema em latim “Vi veri universum vivus vici” (“Pelo poder da verdade, eu, enquanto vivo, conquistei o universo”), que é adotado por V e possui 5 palavras, todas com a letra V.
É impossível não observar também o significado místico do cinco, afinal Alan Moore, autodeclarado bruxo, costuma inserir elementos esotéricos em suas obras. O cinco é o número da magia por excelência, da transformação. Está presente no pentagrama, representando o equilíbrio de todos os elementos e o próprio homem.
A letra V lembra o pentagrama invertido, que é justamente um símbolo de revolução, de rebelião contra forças dominantes e a busca pela independência e emancipação do indivíduo. O próprio indivíduo, o ser humano, forma com o corpo um pentagrama, como ilustrado no desenho do Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci.
Por fim, V é a letra do feminino. Sim, da vagina. Sua forma lembra o “cálice” genital ou o útero. A personagem Evey, de certa forma um anagrama para Eva, é o arquétipo feminino.
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