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Raio Negro, uma ótima e subestimada série de super heróis

Black Lightning

A safra atual de séries de super heróis começou em 2012 com Arrow e a partir daí o Arrowverse se desenrolou (Flash, Constantine, Supergirl, Legends of Tomorrow). Além do Arrowverse, a DC tem lançado um catálogo diversificado com Gotham (com um estilo gótico Tim Burton), Powerless (que é uma espécie de sitcom e achei bem divertida, mas infelizmente cancelaram), Krypton, Titans (que já tem um spin-off em Doom Patrol) e o que eu chamaria de vertigoverse, com séries baseadas em revistas da Vertigo: iZombie, Lucifer, Preacher (na minha opinião, a melhor de todas estas) e Swamp Thing (que foi cancelada no segundo episódio). Estão a caminho The Boys, Watchmen, Pennyworth (sim, uma série sobre o Alfred) e Stargirl, além de, finalmente, Sandman.

A Marvel também investiu nas suas séries, começando com Agents of SHIELD em 2013 e na Netflix montou um catálogo de séries interligadas, formando um pequeno universo, no caso Jessica Jones, Demolidor, Luke Cage e Punho de Ferro que se reuniram no spin-off dos Defensores. Também faz parte deste universo o Justiceiro. Além destes temos Legion (que é minha preferida destas séries da Marvel), Agent Carter, The Gifted, Runaways, Manto & Adaga e o fiasco Inumanos.

Ufa! Temos aí pelo menos umas 30 séries de super heróis da Marvel e DC produzidas nos últimos sete anos. Venho acompanhando desde o comecinho, com o lançamento de Arrow e até o momento assisti quase tudo (só não vi ainda Doom Patrol, Swamp Thing e The Gifted) e posso dizer que Raio Negro (Black Lightning) é uma das melhores em termos de narrativa e construção de personagens.

A maioria das séries de super heróis ultimamente costuma começar from scratch, com os personagens lentamente descobrindo e desenvolvendo seus poderes. Em Raio Negro o protagonista já é apresentado na maturidade, tendo inclusive se aposentado de suas atividades de vigilante e agora retorna à ativa.

Por isso já no primeiro episódio ele começa chutando bundas, ou melhor, fritando-as. O poder de manipular a eletricidade é sempre legal, ainda mais quando se pode atirar raios. Tem sido assim desde Zeus há alguns milênios, passando pelos quadrinhos com o Shazam, Tempestade e Super Choque e nos games temos o Raiden de Mortal Kombat. 

O vilão da primeira temporada é bem temático. Ele gosta de coisas relacionadas a pescaria. Até o nome dele, Tobias Whale (Baleia), tem algo de marítimo. Ele gosta de jogar pessoas num tanque de piranhas e usa um arpão como arma e em certo momento faz um comentário sobre Moby Dick.

Nota-se que é um tipo lawful evil quando um capanga mata uma dona de casa, então ele estrangula o capanga porque diz que alguém que não tem princípios não é de confiança. Ou seja, ele é um vilão do tipo O Chefão, com um código de ética e tem limites que não ultrapassa.

Tobias, aliás, é um dos melhores vilões que já vi nessas séries recentes de super heróis. É um personagem bem sólido, com temperamento, personalidade, motivações, história, tudo bem construído. A escolha do ator também ajudou bastante. O Marvin Jones III é albino, tem um rosto bem peculiar, meio brucutu, um vozeirão ameaçador e desenvolveu uma aura intimidadora, mas estranhamente carismática, no Tobias.

Ele tem uma guarda costas que é outra de minhas personagens favoritas. Ela é bem estilosa, a começar pelo nome, Syonide. Interpretada pela belíssima modelo Charlbi Dean Kriek, tem um olhar matador e, mesmo tendo poucas falas e poucos minutos de cena (às vezes segundos), a personagem foi construída, sua história é mencionada e definitivamente sua presença é marcante.

Falando em personagens badass, temos o Gambi, que é uma espécie de Alfred do Raio Negro, só que bem melhor que o Alfred. É o nerd que dá todo o suporte tecnológico para o herói protagonista, projeta os uniformes e gadgets e ainda por cima sabe muito bem se virar numa briga corpo a corpo ou usando armas. É um senhorzinho bem duro de matar.

Black Lightning
Syonide, Gambi e Tobias, meus personagens preferidos juntos.

O herói é frequentemente chamado de Black Jesus e esse mito do personagem permeia os títulos dos episódios (o primeiro é Ressurreição e os seguintes sempre começam com "The Book of...", como se fossem nomes de livros bíblicos, terminando naturalmente com o The Book of Apocalypse no fim da segunda temporada).

Enfim, Raio Negro tem o selo CW de qualidade. Assim como Flash, Legends of Tomorrow entre outras, a série não economiza em efeitos especiais e cenas de ação e luta que às vezes são bem estilosas, às vezes são meio galhofa. Poderia muito bem fazer parte do Arrowverse, como as outras séries da CW (Arrow, Flash, Supergirl, Legends of Tomorrow), mas optaram por fazer algo mais isolado, o que é uma pena. Seria legal um crossover, ainda mais com Crise nas Infinitas Terras vindo aí no arrowverse.

A série tem seus altos e baixos, mas tem mais altos que baixos. Os vilões são interessantes e os desafios da vida real que o Raio Negro e as pessoas à sua volta enfrentam são bem retratados. Há uma crítica ao racismo sem parecer um conteúdo forçado, é uma crítica orgânica, feita com espontaneidade. A cena em que o Raio Negro é preso e passa por todo um ritual de humilhação é bem realista e impactante.

Mas a série não tem apenas temas pesados. Há momentos de humor aleatório que são uns dos melhores que já vi em uma série de super heróis. A personalidade e os relacionamentos entre os personagens são assim bem desenvolvidos em seus variados momentos de drama, humor e ação.

Black Lightning

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