Formiga

Vi andar uma formiga em sua lida cotidiana
e, num surto de capricho, com ela pus-me a brincar.
Obstáculos na linha que seguia eu interpunha,
a empurrava com as unhas para um lado e para outro.
Joguei gotas sobre ela, que lutava pra escapar
da tensão superficial com que a água a encarcerava.
Fiz dela minha escrava, presa dentro de um copo.
Eis que noto, no entanto, que ela não desistia.
Contorcia-se, corria, procurava um livramento.
Logo penso: Assim seria nossa vida de humanos?
Será que os deuses brincam, como fôssemos formigas?
Será que semeiam intrigas, põem pedras nos caminhos?
E, então, vendo a luta e insistência com que vamos
nessa vida caminhando, compadecem-se e nos livram...

(05,04,2010)