Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

Transumanismo alienígena em The Signal

The Signal (2014)

Três jovens, dois deles hackers, partem numa viagem para um lugar ermo simplesmente pela curiosidade de encontrar um hacker que os desafiou. Acabam se envolvendo em uma experiência de contato alienígena e acordam numa suposta base da Área 51. Na tentativa de fuga, descobrem que estão em algo bem maior do que suspeitavam.

O cineasta William Eubank começou sua carreira como diretor de fotografia, em filmes como Collateral (2004) e Superman Returns (2006). Em The Signal ele toma a frente pela primeira vez, na direção e roteiro, e nota-se o capricho que este filme possui em sua fotografia. É algo belo de se ver, com closes elegantes, muito slow motion (quem não gosta de slow motion?) e jogo de cores. Também merece menção a agradável trilha sonora do iraniano Nima Fakhrara (destaque para a música “2.3.5.41”, uma versão dubstep do “Prelúdio em C” de J.S. Bach) e a presença sempre marcante de Laurence Fishburne.

Durante toda a trama, temos impressão que os três amigos estão sendo estudados em uma instalação arcaica da Área 51, onde também há alienígenas aprisionados. Todavia, no impressionante final, nos últimos minutos (e atenção para o grande SPOILER), vemos que Nick, que recebeu pernas robóticas, motivado pelas fortes emoções após a morte da namorada, desenvolve uma incrível velocidade ao correr com estas pernas de alta tecnologia, a ponto de atravessar uma barreira e então descobre que está numa espécie de nave alienígena em uma cidade visivelmente alienígena.

O número da nave é 2.3.5.41, o mesmo número que tatuaram no braço dele, o que significa que ele é um espécime no acervo deste laboratório específico e subentende-se que deve haver muitos outros laboratórios deste tipo. Também o personagem do Laurence Fishburne retira o capacete e mostra que é um robô alienígena. Ele parabeniza Nick por ser uma perfeita integração entre vontade humana e tecnologia alienígena.

Ou seja, os garotos eram cobaias sim, mas não de experimentos do governo americano e sim de alienígenas. Inclusive em certa cena vemos que os cientistas realizam experimentos com uma vaca, o que é uma referência ao mito popular de que aliens abduzem vacas para tal propósito. O objetivo deles é desenvolver uma integração, produzir uma versão avançada e híbrida humano-alien, e em Nick eles conseguem isso com sucesso, pois ele tem o elemento que interessa: a força de vontade emocional característica dos humanos.

Ficção científica à parte, Eubank afirmou que o filme pretende transmitir uma mensagem sobre a tomada de decisões, sobre seguir a razão ou as emoções. Os dois hackers são muito guiados pela lógica, mas em momentos cruciais terão que agir movidos pela emoção, pela força do amor com que se sacrificam e se empenham a ajudar um ao outro. Segundo Eubank, este seria o significado do título “O Sinal”. Não é uma referência a sinais alienígenas, mas ao sinal interior da psique humana.

David Frigerio, um dos roteiristas, elucidou: “Uma vez que a Singularidade acontecer e as pessoas começarem a ficar realmente inteligentes, tipo um milhão de vezes mais inteligentes do que nós somos agora, e isto não parece muito distante... que lugar haverá para as emoções humanas?... Logo, esta é uma de nossas grandes questões”.

Laurence Fishburne, The Signal (2014)

Maniac, uma viagem dentro da mente e seus traumas

Maniac (2018)

Maniac (2018) é uma minissérie original da Netflix que segue um gênero de ficção científica de drama que podemos chamar de Black Mirror like. No caso, o elemento Black Mirror está no fato da história explorar algum tipo de tecnologia futurista para desenvolver a trama de uma forma dramática ou quase trágica.

Julia Garner, Maniac (2018)

Todavia, diferente de Black Mirror, não é uma série de minicontos em cada episódio e sim uma história única focada em dois protagonistas e seus traumas que eles vão enfrentar no ambiente virtual dentro de suas mentes, uma vez que se submetem como cobaias de um experimento científico com pílulas e uma Inteligência Artificial consciente que funciona como uma espécie de tratamento psicológico sci-fi em que você revisita momentos traumáticos da vida num mundo de sonho e irá lidar com eles.

Sonoya Mizuno, Maniac (2018)
Sonoya Mizuno. Essa atriz foi também aquela robô dançarina do filme Ex Machina (2014). Lembra?

Há um leve humor bizarro na série, principalmente envolvendo sexualidade e relações estranhas entre parentes. Ao mesmo tempo possui um drama e uma constante busca de catarse por parte dos personagens. O encontro das duas mentes dos protagonistas Annie e Owen dentro do mundo virtual é uma espécie de versão futurista dos clássicos romances de almas gêmeas.

Maniac (2018)

Também há uma constante referência a Dom Quixote e até ao gnosticismo, a filosofia que afirma que vivemos na verdade em uma realidade simulada e precisamos despertar para enxergar além dessa camada superficial e simulada da existência.

Maniac (2018)

A trilha sonora é, para mim, a melhor coisa dessa série. Simplesmente linda, um moderno clássico instrumental de autoria de Dan Romer. Eis abaixo um exemplo, a música This is Goodbye for Us, que inclusive resume a jornada dos personagens que é aprender a dizer adeus às pessoas que se foram ou ao passado.

This War of Mine e outros jogos simples de sobrevivência

Aqui temos uma listinha de jogos de sobrevivência com um visual simples, 2D, que basicamente consistem em exploração do cenário, aperfeiçoamento do abrigo e equipamentos e, o principal, o cuidado com a vida dos personagens, tratando doenças, ferimentos e matando a fome.

This War of Mine (2014)

This War of Mine (2014)

This War of Mine (2014) é um exemplar bem especial desse tipo de jogo, a começar pelo visual. Ambientado em um cenário de guerra, com casas destruídas e cheias de lixo, a arte do jogo tem um estilo fotográfico, realista e bastante sombrio. Também a música é melancólica e o comportamento dos personagens é cheio de drama.

Você tenta sobreviver em uma casa, fortificando as portas, aprimorando seus equipamentos, tentando manter a geladeira abastecida; deve sair para fazer looting e pode encontrar mendigos inofensivos ou milícias e militares que podem se tornar agressivos dependendo da forma que você lida com eles. A inteligência artificial dos personagens é sensacional para um jogo 2D aparentemente simples. Eles têm diversos tipos de emoção, do medo à tristeza ou fúria e mesmo a depressão e catatonia. 

Se você tiver um mau dia ou se sair matando gente indiscriminadamente, seus personagens podem ficar deprimidos, até mesmo cometer suicídio. Ou seja, você deve se preocupar não apenas em procurar alimento e lidar com intoxicações, ferimentos e resfriados, mas também deve cuidar da saúde mental, procurar ler livros, ouvir música, dormir o suficiente, ajudar pessoas necessitadas... Há toda uma experiência nesse jogo e por isso eu o considero o melhor aqui dessa lista.

Skyhill (2015)

Skyhill (2015) é um joguinho bastante simples, tanto no visual quanto na jogabilidade. Em umas poucas horas ou até em menos de um hora você pode zerar o objetivo, que é sair vivo de um edifício. Todavia, dá pra re-jogar por umas dez horas caso você goste de catar umas conquistas e não perde a graça porque as salas são geradas randomicamente a cada novo jogo, estilo roguelike.

Começando do topo, você vai descendo e explorando os quartos, ocasionalmente enfrentando zumbis que são cada vez mais difíceis. O esquema é o mesmo de todo jogo de sobrevivência: você deve manter a barra de vida cheia, curando ferimentos e envenenamentos, e também uma barra de fome, looteando alimentos e aperfeiçoando sua cozinha pra conseguir juntar ingredientes e fazer alimentos que recuperam mais pontos. Você pode fabricar armas, mas dá pra se virar bem com as que encontra no caminho.

Existe uma história bem detalhada, para aqueles que gostam. Durante a exploração você vai descobrindo notas, diários, arquivos de computador, e, caso tenha interesse, pode ler todo esse material para entender do que se trata aquele apocalipse zumbi. Caso queira apenas seguir jogando, a história de fundo não é obrigatória para zerar o jogo.

Sheltered (2016)

Sheltered (2016). Desenvolvido pela Team 17 (criadora do famoso The Escapists), tem um visual bem minimalista e estilo pixelado que esconde uma riqueza de mecânicas. Não tem a beleza melancólica e a profundidade emocional dos personagens de This War of Mine, mas tem muita coisa pra fazer: você pode ir acumulando personagens no abrigo e dando tarefas automáticas para eles, deixar que se alimentem, tomem banho, descansem e se virem sozinhos, enquanto você escolhe alguns para controlar, sair para fazer missões e lootear.

Diferente dos outros jogos desta lista, aqui você tem meios de transporte para agilizar a exploração, de cavalos a um carro (mas primeiro precisa juntar várias peças pra enfim conseguir usar o carro). O mapa com os locais exploráveis é também o maior dessa lista e os diálogos com as pessoas que você encontra no caminho têm um peculiar humor negro.

Uma vez que você consiga ajeitar o carro, pode simplesmente ir embora e dar o jogo por zerado, mas se quiser continuar sobrevivendo por dias e dias, não há limites. Você pode ficar por dezenas ou centenas de dias assim e com o tempo seu abrigo se torna um lugar com vários equipamentos e um sistema autossustentável de coleta de água e até uma horta para produzir alimento.

ICY: Frostbite Edition (2017)

ICY: Frostbite Edition (2017)

ICY: Frostbite Edition (2017) é um pouco diferente por não ter um cenário horizontal 2D. Durante o jogo você vê o mapa inteiro do cenário e vai explorando e realizando missões, administrando um grupo de personagens e um inventário com itens. Nas missões você pode encontrar lojas de itens ou pessoas e animais perigosos, rolando um combate em turno no estilo dos antigos jogos de RPG. É um joguinho simples e que pode ser zerado rápido, mas achei bastante satisfatório.

Project Winter (2019)

Estes dias o Project Winter (2019) estava gratuito para testes na Steam e fui lá conferir. O visual cartunesco é bonitinho, mas de cara vi que é mal otimizado e mesmo com os gráficos no mínimo eu ainda perdi muitos FPS. De toda forma, deu pra jogar. O que não gostei foi o fato de não ter campanhas singleplayer, o que estraga bastante minha experiência.

Muita gente gosta de jogar este tipo de jogo de forma cooperativa (tanto que Don't Starve lançou até a versão cooperativa Don't Starve Together), mas eu gosto de curtir a solitude, principalmente porque posso fazer as coisas no meu tempo.

Além disso, a proposta de Project Winter é mais de ser um jogo de partidas competitivas rápidas do que propriamente exploração e sobrevivência. E pra piorar, tem um sistema de "traidor". Dentro da sua equipe, você ou outros jogadores podem receber o papel de traidor, aí deve atrapalhar tudo o que os outros fazem. Meh.

Árida (2019)

Árida (2019) é um projeto de um studio indie brasileiro (Aoca Game Lab). Feito em Unity, o jogo se passa no sertão nordestino e cria uma experiência de imersão nesta realidade brasileira. Você deve cavar cacimbas, plantar mandioca, fazer farinha, etc. É legal como material educativo, mas é um jogo ainda mal polido, pouco otimizado, com gráficos feinhos e a jogabilidade um tanto repetitiva.

Ashwalkers (2021)

Ashwalkers (2021) de cara chama atenção pelo visual diferenciado. O jogo é todo em escala de cinza, salvo uns poucos detalhes em vermelho (para indicar, por exemplo, que um personagem está ferido). A ideia é transmitir a sensação de se explorar um mundo pós-apocalíptico que parece estar coberto de cinzas.

Até aí parece um jogo interessante. A jogabilidade, porém, me entediou rápido. Uma limitação que não combina com este gênero é o fato de que não há movimento de câmera e, embora o cenário seja 3d, você não pode girar os personagens e basicamente tem que caminhar sempre pra frente, dando a sensação de que há pouco a se explorar.

Os itens coletáveis também são poucos. É um jogo minimalista em termos de exploração e sobrevivência. Você caminha um pouco, coleta coisas, tem algumas interações estilo RPG, faz um acampamento pra descansar e repete este ciclo. De toda forma, pela estética diferente vale a experiência.

Interstellar, o melhor filme envolvendo um buraco negro

Interstellar (2014)

Interstellar segue a linha de filmes como Contato (1997), Event Horizon (1997)², 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), com um toque de Inception (2010). A civilização humana está morrendo lentamente, em crise de recursos, o planeta Terra já não é tão acolhedor e parece então que é o momento de partir. Num último esforço, a NASA consegue enviar uma nave em direção a um buraco de minhoca perto de Saturno, que supostamente levará para algum planeta habitável.

No caminho há um buraco negro e aí começa a parte Inception do filme, pois sabe-se que buracos negros são monstros gravitacionais e por isso conseguem afetar o espaço-tempo de modo que algumas horas na fronteira do buraco negro equivalem a décadas na Terra (teoria da relatividade). Essa trama com a diferença de tempo também acontece em Inception, onde em cada nível do sonho o tempo corre a uma velocidade diferente e as personagens vão envelhecendo dentro do sonho enquanto permanecem jovens no mundo consciente.

Interstellar (2014)

Tempo, aliás, é um tema que fascina os irmãos Nolan (criadores do filme, bem como de Inception) e está bastante presente em Interstellar, tanto que o objeto que une os dois protagonistas, pai e filha, é um relógio; e até a estação espacial se parece com um relógio, com doze módulos.

Quando enfim o piloto Cooper (Matthew McConaughey) entra no buraco negro, a coisa se torna mais surreal. Como no labirinto multidimensional desenhado por M. C. Escher (No quadro “Relativity”, 1953), Cooper se vê dentro de um ambiente construído por alguma civilização avançada, onde é possível acessar o espaço e o tempo infinitamente. Desta forma Cooper envia dados para sua filha na Terra que servirão para ela solucionar uma poderosa equação, nada menos que a “teoria de tudo”, a teoria que unifica a relatividade e a mecânica quântica e permitiria aos humanos avançarem em conhecimento e tecnologia num nível fantástico.

Relativity; M. C. Escher (1953)

No fim das contas se descobre que foram os próprios humanos do futuro que guiaram os humanos do passado na viagem cósmica para promover o avanço da própria humanidade. É uma trama bem narcisista, convenhamos. Nada de aliens nos ajudando com sua boa vontade, nada de seres de outras dimensões, como acontece em 2001. Os humanos do futuro, num paradoxo temporal, ajudam os do passado de modo a construir o que eles se tornarão no futuro. 

É interessante a presença dos robôs que auxiliam os astronautas, especialmente o TARS, que possui muito bom humor e uma lealdade que surpreende, lembrando o sarcástico Marvin, do Guia do Mochileiro das Galáxias. Estamos acostumados na ficção a ver robôs se rebelando. Mesmo em 2001, do Kubrick, o robô HAL 9000 com seu assustador olho vermelho é perigoso e imprevisível. Em Interstellar somente os humanos se mostram problemáticos, mentirosos, traidores... Os robôs não, são leais e legais sempre. 

Interstellar (2014)
Diferente do HAL 9000, o TARS é gente boa e um verdadeiro herói.

Voltando ao começo da história: Vemos um mundo em crise. Uma praga incontrolável tem destruído as plantações, de modo que a fome parece ter dizimado boa parte da humanidade. Isso não é mostrado explicitamente, mas é subentendido, mesmo porque a crise é tal que até os exércitos e quaisquer pesquisas científicas deixaram de existir, pois o mundo agora precisa de agricultores mais que qualquer outra coisa. 

Até a história humana foi reescrita. A viagem do homem à Lua é ensinada nas escolas como uma farsa, pois não seria útil estimular nas crianças o interesse por viagem espacial quando tudo o que se precisa é de gente trabalhando no campo com as lavouras que ainda não foram afetadas pela praga.

Para completar a tragédia humana, existe uma estranha poeira que está em toda parte, cobrindo as casas, as ruas, aparecendo esporadicamente em forma de tempestade. O que seria essa poeira, aliás? De onde vem? Eu sugiro aqui uma bizarra interpretação: Acho que essa poeira é uma referência aos humanos que morreram, pois morreram bilhões pela fome e as últimas guerras. Por não terem sido sepultados, estes corpos espalhados no planeta foram cremados e as suas cinzas integraram a atmosfera. Sinistro hein. 

Os humanos sobreviventes então estavam a todo tempo respirando e tendo contato com nada menos que pó de gente! Mas isso é só devaneio da minha cabeça. Na verdade, Nolan disse que inspirou-se no documentário The Dust Bowl (2012) que relata uma destruidora tempestade de areia ocorrida nos Estados Unidos na década de 1930 que causou grandes prejuízos aos agricultores em plena crise da Grande Depressão. Neste caso, a poeira é apenas poeira mesmo.

Uma das cenas mais interessantes é quando visitam um planeta próximo ao buraco negro. Devido à forte gravidade do buraco negro, existe uma imensa tsunami que percorre o planeta. A princípio os astronautas pensaram até que fosse uma montanha. A música que toca nesse momento, de autoria de Hans Zimmer, se chama justamente Mountains e possui um som de tiques de relógio cada vez mais rápidos, não apenas para combinar com a tensão do momento, pois a tsunami se aproxima rápido, mas também representando o fato de que cada segundo que passam naquele planeta equivale a horas na Terra. Estão correndo contra o tempo de uma maneira inusitada, pois há dois tempos, o deles e o da Terra. É como as cenas de bomba-relógio, mas agora numa escala cósmica. Escrevi outro post específico sobre a música³.

Interstellar (2014)

Notas sobre a equipe e produção:

Inspirado pelo filme Contato (1997), de Carl Sagan, Steven Spielberg contratara Jonathan Nolan em 2007 para escrever o roteiro de Interstellar, mas acabou abandonando o projeto. Jonathan trabalhou no roteiro por quatro anos e até estudou a teoria da relatividade no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Em 2012 ele convidou seu irmão, Christopher, para tocar o projeto e dirigir o filme. E assim nasceu essa obra em mais uma parceria dos dois irmãos Nolan.

O astrofísico Kip Thorne trabalhou como consultor a fim de fundamentar os aspectos científicos do filme, em busca da maior fidelidade possível. Interstellar não é pura ficção científica especulativa, antes procura explorar ideias que de fato têm base em teorias científicas modernas.

Nolan (o Christopher) e Nolan (o Jonathan) já têm uma tradição de trabalhar juntos, como os irmãos (irmãs) Wachowski (a dupla criadora de Matrix). Assim produziram Memento (2000), The Prestige (2006), The Dark Knight (2008) e The Dark Knight Rises (2012), sempre com Jonathan no roteiro e Christopher na direção. 

Por outro lado, é o primeiro filme, desde 1998, em que Nolan não conta com Wally Pfister, que sempre tem sido seu diretor de fotografia, mas agora estava ocupado dirigindo Transcendence (2014). É a primeira vez, aliás, que Pfister trabalha como diretor geral em um filme. De toda forma, os efeitos visuais de Interstellar não deixam a desejar. Há cenas encantadoras no espaço, perfeitas para a imensa tela do cinema.

Também outra parceria tradicional é a do ator Michael Caine, que já esteve em vários filmes de Nolan como Batman Begins (2005), The Prestige (2006), Inception (2010), The Dark Knight (2008) e The Dark Knight Rises (2012). Anne Hathaway também esteve em The Dark Knight Rises, interpretando a Mulher Gato, de modo que Interstellar é seu segundo filme dirigido por Nolan.

Por fim, vale mencionar a participação de Hans Zimmer, também muito comum nos filmes de Nolan, sempre com uma maravilhosa trilha sonora. Boa parte das músicas possui o ritmo de uma batida por segundo, simulando, assim, o funcionamento de um relógio.

Matthew McConaughey, por sua vez, não é um ator típico de filmes de ficção científica, ainda mais espaciais. Foi escolhido justamente por parecer um homem comum, não um astronauta, mas um fazendeiro com sotaque sulista, escolhido para participar de experiências grandiosas no espaço.

Com 169 minutos de duração, Interstellar teve um custo de produção de 165 milhões de dólares, o que equivale a cerca de 976 mil dólares por minuto de filme! Com dois meses de lançamento ele arrecadou mais de 180 milhões nos Estados Unidos, pagando as contas, e lucrando mais 470 milhões no restante do mundo.

Interstellar (2014)

Curiosidades: 

Para criar o cenário do milharal, Christopher Nolan mandou plantar de fato 500 acres de milho. Ao final das gravações o milho foi vendido, gerando algum dinheirinho. 

A filha de Cooper se chama Murphy, uma clara alusão à Lei de Murphy, que na verdade não significa que tudo vai dar errado e sim que o que deve acontecer, acontecerá.

Interstellar (2014)

Na biblioteca da filha de Cooper, há muitos livros que de alguma forma fazem referência ao próprio filme, como Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez (1967), uma referência à passagem rápida do tempo devido à relatividade; The Big Nowhere, de James Ellroy (1988), relacionado, portanto, ao grande nada dentro do buraco negro, e Outlander, de Diana Gabaldon (1991), um romance que também se tornou uma série televisiva em 2014, sobre uma mulher que viaja no tempo.

Este é o primeiro filme desde Insomnia (2002) em que a palavra “fuck” é usada num filme de Nolan. 

O buraco negro é apelidado de Gargantua, uma referência ao monstro criado por François Rabelais, que possui grande apetite.

Interstellar (2014)

Explicando alguns conceitos científicos:

A teoria da relatividade de Einstein mostrou que tempo e espaço são medidas relativas quando em grandes escalas, de modo que corpos com gravidade muito grande, como buracos negros, podem afetar o espaço-tempo. Por isso, enquanto se passavam apenas horas para os astronautas nas proximidades do buraco negro, na Terra passavam décadas.

A única forma realmente viável de viajar através de galáxias seria por meio dos buracos de minhoca. Primeiro porque a própria teoria da relatividade afirma que é impossível um corpo com massa viajar na velocidade da luz, pois isto iria exigir uma quantidade infinita de energia. Depois, mesmo que fosse possível, de nada adianta viajar à velocidade da luz se mesmo uma simples galáxia tem centenas de milhares de anos-luz de comprimento. Uma viagem entre galáxias levaria milênios. Os buracos de minhoca, por outro lado, são fendas que supostamente podem ser abertas no tecido do espaço-tempo (sim, o universo é feito de uma “coisa”, como uma trama, que é o próprio espaço) e assim seria possível ir de um ponto ao outro sem a necessidade de viajar no espaço em si. É um atalho cósmico.

É improvável que qualquer coisa sobreviva ao entrar em um buraco negro, pois a força gravitacional é tão gigantesca que despedaçaria até os átomos das naves e dos pilotos ou sondas ou qualquer coisa. Mas como nunca foi possível saber de fato como é lá dentro, não se pode descartar a possibilidade de ser um mundo com regras diferentes da nossa física.

Interstellar (2014)

M87 black hole

A representação artística do buraco negro foi uma inovação tanto para o cinema quanto para a ciência. A descrição científica de Kip Thorne somada ao trabalho de artistas gráficos resultou naquela imagem de uma espécie de esfera com dois anéis cruzados e que se tornou a mais acurada imagem de um buraco negro até a publicação da chamada "foto do buraco negro" da galáxia M87, no começo de 2019.

Interstellar (2014)

Simbologia:

Não é raro o cinema empregar símbolos e referências à mitologia e religião em geral, pois são linguagens que interessam ao subconsciente e por isso combinam tanto com a arte e mais ainda a arte audiovisual do cinema. Em Inception, por exemplo, Nolan usou a mitologia grega na personagem Ariadne, que desenha labirintos, uma referência à Ariadne que guiou Perseu no labirinto do Minotauro.

Em Interstellar há alguma simbologia bíblica e gnóstica, como quando descem em um planeta dominado por um dilúvio de imensas tsunamis. O cientista que lidera a missão, Professor Brand, diz que enviou “doze bravas almas” ao espaço, como os doze apóstolos. O projeto inclusive tem o nome de um personagem bíblico, Lázaro, referência à salvação da humanidade que está morrendo.

O próprio Cooper que se sacrifica pela humanidade é, desta forma, um arquétipo do Messias, assim como o Dr. Mann é como um anjo caído que se rebela contra o projeto de salvação e tenta deter o Messias.

O filme é incrível, maaas...

Em termos de ficção espacial, Interstellar é um dos melhores longas, principalmente pelo fato de desenvolver a trama com base nas regras do buraco negro. É este fascinante objeto cósmico que dá as cartas, que determina o desafio a ser enfrentado pelos protagonistas, no caso, a distorção do tempo, o efeito bomba-relógio em uma escala cósmica.

Só que pra não ficar só na fria ficção científica, Nolan inseriu também um drama familiar, a relação do pai que abandonou a família para ir comprar cigarro salvar o planeta, mas, numa espécie de entrelaçamento quântico do amor (é, isso soa meio brega), ele consegue se comunicar com ela através do infinito espaço-tempo. 

A cena da estrutura pentadimensional também confundiu muita gente. Como assim dentro do buraco negro existe uma biblioteca? Na verdade Cooper e TARS foram salvos do buraco negro pelos seres do futuro e colocados nessa estrutura artificial onde então ele pôde se comunicar com Murphy e transmitir os dados que TARS conseguiu coletar do buraco negro, tornando possível resolver a teoria de tudo.

Não era mais fácil estes seres do futuro simplesmente se comunicarem com os cientistas humanos, dando uma ajudinha menos enigmática? O coitado do Cooper teve que passar todos os dados para Murphy em código Morse através das batidas de um relógio! 

Entendo que a intenção do Nolan era brincar com o conceito de ondas gravitacionais e mostrar como elas podem ser usadas como um mecanismo de comunicação que transcende as limitações do espaço-tempo, mas fez de uma maneira desnecessariamente complicada.
Interstellar (2014)

Notas:



We Are The Dwarves, bonito, mas peca na jogabilidade

We Are The Dwarves (2016)

No geral, os dois principais elementos pelos quais um jogo é julgado como bom ou ruim são a estética e a mecânica. Na estética se incluem o visual, os efeitos gráficos, e também o som, a trilha sonora, a sonoplastia, etc. A mecânica tem a ver com a jogabilidade, a forma como funcionam os controles e a interação com o cenário e os personagens.

Pois bem, esteticamente, We Are The Dwarves vai bem. As fases são pequenos cenários com um visual caprichado, detalhista, colorido. No entanto, essa beleza perde importância diante de jogabilidade desagradável. Não sei se a experiência é melhor em um console, mas no computador os controles não são práticos. 

A movimentação da câmera, por exemplo, é feita com o botão direito do mouse, enquanto o caminhar do personagem é guiado por cliques no chão e os ataques são feitos com cliques também. Ou seja, é comum você errar um clique nos inimigos em movimento e seu personagem vai caminhar para o lugar em que você clicou, atrapalhando o combate, e como o mouse serve tanto pra andar, atacar e mover a câmera, é bem desconfortável explorar o cenário. Tudo isso se resolveria se também fosse possível caminhar usando as teclas no padrão WASD e as setas direcionais para mover a câmera.

Outro detalhe que incomodou foi a ausência de um minimapa no topo da tela, que ajudaria bastante a explorar o cenário sem ficar andando em círculos. O jogo possui um lore que vai sendo contado ao longo das fases e ainda tentei dar uma chance à história, jogando um pouquinho cada dia, até que desisti. Poderia ter jogado mais se os controles não fossem tão chatinhos.

Dois shows da Amy Schumer, um bom e um ruim

Amy Schumer: The Leather Special (2017)

Não lembro se já assisti algum filme com a Amy Schumer e a conhecia só de ouvir falar, até que resolvi assistir a um stand-up, o The Leather Special (2017). Nesse show ela usa bastante do humor autodepreciativo, que é bem típico do stand-up americano, e também fala bastante de sexo. Parece ser uma fórmula garantida de produzir risada, mas o show me pareceu bem entediante e sem graça.

Amy Schumer: Growing (2019)

Tentei dar outra chance assistindo o show Growing (2019), em que ela está grávida e fala sobre gravidez, sexo, casamento, menstruação, etc. Dessa vez ela estava inspirada e dei boas risadas. Ela tem uns momentos em que sabe criar uma imagem mental de uma cena, fazendo gestos e expressões. Enfim, valeu a pena ter dado outra chance.

The Umbrella Academy, uma família disfuncional de superdotados

The Umbrella Academy

O primeiro fato interessante sobre The Umbrella Academy é que a história fora originalmente publicada em 2007 como uma série em quadrinhos escrita por Gerard Way, mais conhecido como o ex-vocalista da banda My Chemical Romance.


The Umbrella Academy

Outro dado a se notar é que a revista foi publicada pela Dark Horse, uma editora independente que não é tão conhecida como a Marvel ou DC, mas que já teve alguns títulos alcançando sucesso mundial e o cinema, como Hellboy, Sin City e Os 300 de Esparta. A editora já dá uma dica de que não se trata de uma equipe de super heróis convencional, como Vingadores ou Liga da Justiça. É algo mais alternativo.

The Umbrella Academy

Por fim, vale acrescentar que o criador da série para a Netflix foi Jeremy Slater, o mesmo responsável por dois filmes que foram um fiasco: Quarteto Fantástico (2015) e Death Note (2017). The Umbrella Academy, então, é a redenção de Jeremy Slater, porque dessa vez ele fez um ótimo trabalho.

The Umbrella Academy
A agência de viajantes do tempo, um enorme escritório de burocracia cósmica.

Esteticamente, a série tem alguns elementos steampunk, como a agência de viajantes do tempo que usa máquinas de datilografar e envia recados naquelas cápsulas de tubo de vácuo. Há toda uma mistura de ficção científica e fantasia e personagens bizarros. 

The Umbrella Academy

Temos, por exemplo, um chimpanzé falante, um cara que consegue se comunicar com os mortos, outro que tem tentáculos enormes, outro que tem um corpo de gorila e viveu na lua, a babá das crianças superdotadas é uma robô com um visual de dona de casa dos anos 50 e tem uma dupla de viajantes do tempo assassinos de aluguel que parecem os Men in Black numa versão psicopata.

The Umbrella Academy

A estrela do elenco é a Ellen Page, que já é uma veterana conhecida no cinema, mas a meu ver a atuação dela foi a menos carismática. O restante do elenco principal é formado na maioria por atores novatos ou pouco conhecidos, mas que fizeram um excelente trabalho. Destaco o Aidan Gallagher, um ator adolescente que interpretou o Number Five, um idoso em corpo de criança com uma inteligência, frieza e perspicácia fora do normal. Também Robert Sheehan, que interpretou o histriônico e vida louca Klaus, deu bastante carisma ao papel.

The Umbrella Academy

The Umbrella Academy

O Number Five é de longe meu personagem preferido. Possui uma história bem rica. Tendo a habilidade de saltar no espaço e no tempo (aliás, a habilidade mais poderosa do grupo, depois, claro, da Vanya que pode literalmente destruir o planeta), acidentalmente viaja para um futuro em que o mundo foi destruído e passa décadas vagando sozinho na Terra até ser recrutado por uma agência misteriosa de viajantes do tempo e se torna assassino de aluguel matando pessoas determinadas pela agência a fim de evitar desvios no curso da história.

The Umbrella Academy
Number Five e sua "esposa" Delores.

Enfim ele deserta da agência e consegue voltar para seus irmãos, mas agora ele tem um corpo de adolescente e uma mente de idoso que já passou por muita coisa, inclusive teve um "relacionamento" com uma boneca de loja durante seu tempo isolado na era apocalíptica, Delores.

Older Five vs younger Five, The Umbrella Academy

I understood that reference, The Umbrella Academy
I understood that reference.

No episódio 9 da segunda temporada tem uma interessante cena em que o Five em corpo de criança encontra sua versão ainda idosa de outra linha do tempo, então os dois saem na porrada, o que mostra um pouco da psiquê do personagem, como ele odeia a si mesmo, o que explica seu comportamento sempre amargo.

Esta cena, aliás, é inteligentemente montada. Vemos os dois lutando no fundo do cenário com a lente desfocada, o que pode ter sido feito devido ao fato de que se trata de uma criança batendo em um idoso e igualmente um idoso batendo em uma criança. Apesar de ser a mesma pessoa literalmente batendo em si mesma, o gap de idade torna a situação um tanto ofensiva ou não family friendly, daí o uso do desfoque na câmera.

Outro detalhe importante é que, enquanto eles lutam, toca Dancing with Myself, de Billy Idol, um tema bem apropriado para alguém que está lutando consigo mesmo. Eis um exemplo de outra qualidade da série que é a trilha sonora. A música sempre encaixa bem no contexto e possui um divertido ecletismo, passando por Sinatra, Kiss, Backstreet Boys, o clássico Bach e a indie Billie Eilish.

The Umbrella Academy
Men in Black viajantes do tempo e psicopatas.

The Umbrella Academy

Outro personagem bem legal é o Hazel, também assassino de aluguel dessa agência. Com sua parceira Cha-Cha, ele fica viajando no tempo a fim de matar pessoas, mas a despeito da frieza com que cumpre sua tarefa, ele tem um lado normal guy, gosta de apreciar coisas simples da vida, provar rosquinhas e acaba se apaixonando pela dona de uma lanchonete e passa a viver um romance bem clichê, o que é uma combinação bizarra com seu background de assassino.

The Umbrella Academy

O veterano Colm Feore também fez um bom trabalho na pele do cientista bilionário que adotou as crianças superdotadas e foi um pai problemático, super controlador e afetivamente ausente, às vezes um verdadeiro babaca e que claramente causou vários traumas e complexos nos seus filhos adotivos, de modo que esse grupo de super heróis é uma família disfuncional e perturbada.

The Umbrella Academy

Até o momento, The Umbrella Academy é uma das minhas séries preferidas de super heróis, junto com Legion e Preacher. As três têm algo em comum que é fugir do estilo típico de super heróis infanto-juvenis. É algo mais sombrio e violento e as três têm uns elementos psicodélicos, surreais e absurdos que adoro.

Mistério no Mediterrâneo, um sucesso, apesar de não ser o melhor de Adam Sandler

Murder Mistery (2019)

Adam Sandler e Jeniffer Aniston, que já foram um casal em Esposa de Mentirinha (2011), estão juntos de novo nessa história de mistério policial clássico, do tipo "quem matou foi o mordomo". Ele é um policial medíocre e ela uma cabeleireira e durante uma viagem por acaso fazem amizade com um ricaço que os convida a uma reunião num iate com um idoso bilionário, o bilionário é morto durante a reunião e o resto do filme desenrola toda a investigação dos suspeitos numa espécie de paródia das novelas policiais.

Adam Sandler é uma categoria própria de cinema. Os "filmes Adam Sandler" são odiados por uns, amados por outros, mas o fato é que ele sabe vender. Nos três primeiros dias desde que Mistério no Mediterrâneo foi lançado na Netflix, alcançou uma audiência de 30 milhões de usuários, o que foi até então a maior estreia de um filme nesse site.

O segredo do sucesso não é nenhum segredo. Adam Sandler segue uma óbvia fórmula: produz comédia, algo que muita gente gosta de assistir sem compromisso, no conforto do sofá, só pra descontrair, sem se importar que seja uma obra de arte cult, enfim, é entretenimento puro. Além disso ele sabe montar um bom elenco, como a queridinha Jeniffer Aniston que é um rosto que todos amam ver na tela. 

O humor de Adam Sandler possui um nível que o torna ainda family friendly, mas flertando com o politicamente incorreto, o que faz dele uma intersecção entre humor pesado e leve, atraindo público de ambos os lados. 

De toda forma, apesar do sucesso, acho que esse filme foi fraquinho para o padrão Adam Sandler. Mais focado na coisa da investigação do crime, investiu pouco no humor e no geral não é lá muito engraçado salvo por uma situação ou outra, mas não deixa de ser um bom "filme Sessão da Tarde", como todos do Adam Sandler.

Murder Mistery (2019)

2001, uma Odisseia no Espaço

2001 (1968)

O filme começa com a tela preta por alguns minutos, apenas com música ao fundo. Também há um capítulo dedicado ao intervalo, com uns 4 minutos de tela preta e música novamente. O objetivo era produzir uma experiência agradável na sala de cinema.

As cenas são estáticas, como fotografias; ou então se passam lentamente, às vezes em silêncio. Não há cenas de ação, como se tornou comum em filmes de ficção; não há músicas agitadas, de modo que o filme todo se parece com uma contemplação deslumbrada das cenas.

Até mesmo o momento mais dramático em que o astronauta enfrenta o computador e o “mata”, tem uma lentidão. O computador morre aos poucos, implorando calmamente. Se fosse num filme moderno, a máquina vilã teria de morrer numa explosão ou aos gritos.

O astronauta sofre o drama de matar um ser ao qual se afeiçoou, mas também não esperneia nem se contorce em choro. Ele sofre de uma forma contida, implosiva e internalizada, mantendo o clima do filme. E assim, neste ar de contínuo deslumbre silencioso, também se desenrola o final da história.

Para uma obra feita na década de 60, os efeitos especiais continuam impressionantes e a exploração de poucas músicas fez com que estas se tornassem marcantes. Não nos lembramos muito dos atores, mas a música e as cenas, quando as vemos ou ouvimos, logo identificamos com o filme, principalmente a cena do início em que o macaco aprende a manusear um osso.

Também explora a evolução da humanidade e imagina seus caminhos “além”, e há uma óbvia reflexão sobre a capacidade das máquinas, se um dia poderão se parecer com pessoas, inclusive com emoções. O computador da nave tem até apelido, Hal, e se mostra cada vez mais dotado de emoções, chegando ao ponto de implorar para não ser desligado. O mais interessante é que tal questionamento foi feito numa época em que os computadores serviam apenas para cálculos e umas poucas atividades gráficas.

O computador, a máquina pensante, é a ferramenta última da humanidade, a tecnologia mais avançada. Tudo começou com primatas aprendendo a usar ossos como ferramentas rudimentares, então ao longo dos milênios a espécie humana foi desenvolvendo ferramentas mais e mais complexas e poderosas. Então podemos dizer que Hal é como o osso, uma ferramenta revolucionária para seu tempo, um resultado da evolução tecnológica.

Fury. uma road trip em um tanque de guerra

Fury (2014)

Em 2014 Hollywood produziu muitos filmes de guerra, como American Sniper, The Imitation Game, Unbroken, também com viés menos histórico e mais fantástico como Dracula Untold e 300: Rise of an Empire. E acrescente-se à lista Fury, ambientado na Segunda Guerra e que tem como “protagonista” um tanque, cujo nome está no título do filme.

A história irá acompanhar as tropas do Tio Sam que seguem na missão de consumar a rendição alemã após o Dia D, percorrendo as cidades e enfrentando tropas alemãs que ainda resistem. Durante toda a missão, cinco colegas seguirão em um tanque, apelidado de Fury, como se vê pintado em seu canhão.

Já no começo do filme, admite-se que os nazistas possuíam tanques mais poderosos, o que será demonstrado numa cena em que um tanque alemão enfrenta três americanos, de modo que os soldados americanos vão precisar de algo mais do que tecnologia para ter sucesso nas batalhas. Essa cena da batalha de tanques, aliás, é fantástica, cheia de tensão e realmente passa a sensação da superioridade de um tanque alemão contra os três adversários.

O elenco tem muitos rostos conhecidos do mundo nerd, como Logan Lerman (dos filmes de Percy Jackson), Shia LaBeouf (da trilogia Transformers), Jon Bernthal (o eterno Shane de The Walking Dead e também o Justiceiro da Marvel), Jason Isaacs (o Lucio Malfoy dos filmes de Harry Potter). Estes quatro atores também são judeus, não por coincidência, já que é um filme em que se luta contra nazistas.

Brad Pitt in Fury (2014)

Como estrela principal temos Brad Pitt, na figura de um sargento sério, durão e paternal, o personagem mais denso e complexo do filme, que alterna momentos de gentileza e rigidez, que reprime os sentimentos e mata sem piedade, mas também é protetor e respeita os civis.

O diretor e roteirista, David Ayer, já tem experiência com filmes militares e policiais, como Training Day (2001), S.W.A.T. (2003) e End of Watch (2012). Ele foi em seguida o responsável pelo filme do Esquadrão Suicida (2016), a equipe paramilitar de supervilões da DC Comics.

Fury é um filme de guerra bem montado, alternando cenas de convivência entre os soldados e momentos de combate que ilustram bem as tecnologias e métodos de batalha americanas e alemãs. O tanque usado para ser o Fury é de fato autêntico, fora usado na Segunda Guerra e pertence atualmente ao museu de tanques em Bovigton, Inglaterra.

O relacionamento dos cinco caras é outro ponto forte. É como se fosse uma road trip com amigos atravessando a Europa e vivendo experiências marcantes, só que o carro dessa road trip é um tanque de guerra.

A trilha sonora de Steven Price (mesmo compositor da trilha de Gravity, 2013) é intensa, especialmente por causa do coro em alemão. Enfim, uma boa combinação de drama, ação e ambientação histórica que resulta num bom filme sobre a Segunda Guerra.

Fury (2014)