O filme Life of Pi é baseado em livro homônimo de Yann Martel (2001). Em Portugal foi traduzido propriamente como A Vida de Pi. No Brasil, As Aventuras de Pi. Foi dirigido por Ang Lee, um taiwanês que ficou conhecido no ocidente após ganhar o Oscar em Brokeback Mountain (2006), mas que antes já havia dirigido um filme espetacular, O Tigre e o Dragão (2000).
O elenco não é muito conhecido do grande público, com exceção de Gérard Depardieu que aparece como o cozinheiro do navio. Na verdade, Ang Lee fez questão de não usar rostos populares, tanto que rejeitou a participação de Tobey Maguire (o Homem Aranha), que atuaria como o escritor que entrevista Pi, escolhendo em seu lugar Rafe Spall.
É uma história de naufrágio. A princípio. Afinal torna-se bem mais que isso, ganha ares de fantasia e espiritualidade. O enredo é: um escritor, em busca duma boa história, entrevista Pi, um indiano que sobrevivera a um naufrágio na adolescência e que passou meses no oceano.
Pi (apelido que ele mesmo criou para se livrar do ridículo nome de nascimento Piscine, que não apenas significa “piscina” como produz um trocadilho com “pissing”, “mijando”) conta que, após um naufrágio, toda sua família morreu e ele ficou sozinho num barco ocupado por uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre.
Quando os animais morrem, resta apenas ele e o tigre e ambos terão de aprender a conviver um com o outro. Desta forma, cria-se um elo, até mesmo uma comunicação telepática, e durante os meses de isolamento no mar, enfrentam tempestades e uma série de eventos milagrosos que vão garantir sua sobrevivência.
Todavia, existe algo por trás dessa história. Há um significado que vai se tornando cada vez mais explícito. Não se trata apenas de um conto de sobrevivência. O tigre representa a natureza humana mais perigosa, o monstro interior que existe em todos os humanos e que deve ser dominado antes que nos devore.
Life of Pi conta, portanto, a história de um jovem que lutou para manter a sanidade em uma circunstância extrema, e como enfim o seu monstro interior se recolheu na selva e na escuridão da alma para que ele pudesse voltar a viver como um ser pacífico.
Deus e religião são bastante mencionados. Desde criança, Pi era curioso e buscava o sentido último da vida, tanto que abraçou com igual fervor o hinduísmo, cristianismo e islamismo, além de receber influências de seu pai cético. De certa forma, o filme promove o diálogo religioso e intercultural.
Numa camada superficial vemos uma saga marítima, aventuras de um náufrago, mas na camada interna trata-se de um drama psicológico e a grande história acontece na mente de Pi. É uma aventura mental, de autodescoberta e de descoberta de Deus, um Deus que não estava no céu, nem nos templos, mas dentro do próprio Pi.
Um fato curioso: Em 1980, o escritor brasileiro Moacyr Scliar publicara o conto Max e os Felinos, sobre um garoto que naufraga e fica à deriva num barco com um felino que a princípio lhe causa medo. Esta história foi traduzida para a língua inglesa em 1990.
Life of Pi, publicado em 2001, ganharia em 2002 o aclamado prêmio literário Booker Prize e, ao mesmo tempo em que o livro e o autor se tornavam conhecidos, o jornal The Guardian publicou uma matéria alegando que a obra seria um plágio de Max e os Felinos. O próprio Moacyr Scliar, no entanto, preferiu não levar adiante um possível processo.
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