Da era das cavernas até a modernidade, a humanidade experimentou quatro grandes saltos evolutivos. Dois deles envolvem uma maravilha física, um elemento da natureza que proporcionou inúmeras inovações tecnológicas e modificou todo o estilo de vida dos indivíduos e da sociedade: primeiro, o fogo; depois, a eletricidade.
A eletricidade, de fato, é como um tipo de fogo, ambos têm a ver com energia. Aquele é energia térmica, esta é energia elétrica. Energia é a base de toda a vida na Terra e é ostentada diante de todo o planeta há bilhões de anos pela maior fonte de energia em um raio de vários anos-luz: o sol.
Houve dois outros saltos evolutivos envolvendo uma maravilha mental, uma coisa intangível, não uma energia, não o fogo, mas algo criado na mente humana: a linguagem simbólica.
A linguagem possui forma física. Pode ser escrita ou falada. Mas a sua essência é mental, pois se trata de simbologia. Cada palavra, até mesmo cada letra, é um símbolo, um código que deve ser interpretado pela mente para que tenha algum significado.
Os animais têm linguagem. Pode ser em forma de sons como o canto das baleias ou até de mensagens químicas, como fazem as formigas. Todavia, esta linguagem não chega ao nível da simbologia. A linguagem humana é simbólica em um nível avançadíssimo e isto não só a distingue de qualquer forma de linguagem encontrada na natureza, como faz dela uma ferramenta poderosa de aprimoramento cerebral e evolução.
Sim, mais que o fogo e a eletricidade, o grande catalisador da evolução humana tem sido a linguagem. É por meio dela que todo saber é produzido, compreendido, armazenado, transmitido, aprimorado. A linguagem e particularmente a palavra escrita é o maior fenômeno evolutivo da humanidade.
Primeiro descobrimos o fogo e houve uma revolução tecnológica, milênios depois veio a eletricidade e a revolução industrial. Quanto à linguagem, primeiro desenvolvemos a escrita, praticada em paredes, pedras, pergaminhos, papiros, papéis e telas eletrônicas. E eis que veio essa segunda encarnação da linguagem, ou melhor, o seu desenvolvimento em novas camadas: a linguagem da computação.
Essa nova forma de linguagem possui três camadas pelo menos. Em seu nível mais profundo, temos a linguagem binária, de zeros e uns. É por meio dela que as máquinas compreendem e se comunicam. Acima desta camada temos a linguagem de programação, que nada mais é do que uma tradução da linguagem binária para um formato compreensível para os programadores, por meio de códigos, comandos, regras, parâmetros. Os programadores são nossos modernos xamãs, nossos oráculos e profetas que interpretam a linguagem mística.
E então acima do código binário e da linguagem de programação, temos a interface do usuário, que é a tradução de tudo isto que está abaixo para a compreensão de qualquer pessoa que olha para a tela do computador, vendo janelas, imagens, sons, ícones, botões e texto.
É essa nova forma de linguagem em camadas que está nos levando a uma nova revolução tecnológica e ela une aqueles dois elementos que conhecemos no passado: o fogo e a palavra. Agora na forma de eletricidade e bits.
A palavra, portanto (e por palavra nos referimos a toda a linguagem simbólica que desenvolvemos até hoje), é o grande vetor da nossa evolução. Ela tem esse poder fantástico de aprimorar o cérebro, direcionar a criação de uma rede de sinapses entre os neurônios e moldar a nossa mente. Não à toa alguns textos religiosos identificam o próprio Deus à palavra. No princípio era o Verbo. No princípio Deus falou.
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