Esta música foi composta pela própria Lady Gaga e Nadir Khayat e alcançou um grande sucesso e boa recepção da crítica. O clipe é bastante ilustrado com simbolismo, o que deu margem a alguns críticos para interpretar que havia mensagens ocultistas e coisas do tipo. É fácil encontrar estas leituras pela internet.
É curioso como ultimamente se tem falado muito em "subliminar" como um substituto para "simbolismo". A arte sempre foi muito simbólica. Na verdade, boa parte da produção cultural humana. Poesia, música, pintura, dança, religião, encenações folclóricas, tudo está eivado de objetos, imagens, movimentos, formas, cores que contêm significados internos subjetivos que devem ser subentendidos, conotados.
Como a arte é subjetiva, está aberta a muitas leituras que dependem da impressão de cada indivíduo. Desta forma, pretendo expressar aqui a minha leitura do clipe e da música.
Na primeira cena a personagem está sentada num trono, vestida de dourado, cercada de pessoas, ouvindo um trecho de Bach e segurando o botão de pause do aparelho. Em um momento ela solta o botão, a música é pausada e ela faz um gesto de sobressalto.
Esta primeira cena é como o presente. Ela já se encontra numa condição de celebridade e, quando encerra a música de Bach, tem o sobressalto porque sua memória vai experimentar um flashback. A partir daqui ela estará lembrando do passado, do percurso que seguiu de anônima a celebridade. De certa forma, o clipe conta a história do nascimento, progresso e consagração duma estrela.
No flashback, ela está numa espécie de casa de banho, "Bath Haus of Gaga", e sai duma incubadora em que está escrito o nome Monster. Ou seja, agora ela é uma cria, nascendo para uma nova vida. Daí a cruz invertida, pois a cruz simboliza morte e a inversão representaria seu renascimento.
Como um monstro recém-nascido, ela sai da incubadora. Existem outras como ela e estes monstros fazem uma dança que é uma clara homenagem à consagrada coreografia do clipe Thriller, de Michael Jackson, a "dança zumbi".
Num momento ela aparece vestida de preto, olhando-se no espelho. É a personagem já no presente, contemplando-se no flashback, como que dizendo: "Aquela era eu no passado". Ela está de preto por já haver alcançado certa maturidade, enquanto o mostro que nasce está de branco, é ainda inocente, o que se nota também em seus olhos de íris muito grandes e pupilas dilatadas, dando um aspecto infantil ao rosto.
Após nascer, ela é retirada da banheira por umas mulheres, é drogada com vodca e forçada a se apresentar para um homem rico e poderoso, o que é simbolizado por seu queixo de ouro.
Após ser humilhada e jogada no chão, ela começa a se habituar e perder a timidez. No começo da apresentação ela usa uma máscara, representando a timidez, mas vai ganhando ousadia, realiza uma dança sensual perto do homem e ele é convencido a comprá-la ou contratá-la.
Então ela aparece dançando sem a máscara, em pé e não mais rastejando. Ela foi consagrada. Não tem mais timidez e alcançou sucesso. Uma chuva de diamantes sobre ela mostra como está rica e madura, daí novamente vestir-se de preto. Ela também aparece desfilando de dourado, o que mostra que se tornou fashion, da moda.
Agora ela frequenta a casa do homem poderoso. Ele está sentado na cama e desabotoa a camisa, mostrando que terão relações sexuais. Ela se veste com pele de urso, pois é uma prostituta de luxo, e nas paredes do quarto há duas cabeças de cervo, que podem também ser uma decoração de luxo ou ser um símbolo para Baphomet, representando o prazer sexual.
A prostituta se despe e contempla a cama do homem que incendeia. Ela aparece dançando de vermelho e por fim deitada na cama destruída ao lado do cadáver. Aconteceu a sua vingança. Ela traiu e matou o homem que a comprou (escravizou) e o vermelho representa sua culpa pelo sangue do assassinato.
Temos, portanto, uma história passional. A garota primeiro é vítima, é sequestrada, forçada a prostituir-se, mas enriquece, torna-se famosa e ainda se vinga do homem que a comprou. Em toda esta história ela evolui de garota inocente (vestida de branco), para a maturidade (preto) e torna-se capaz de vingar-se (vermelho).
A história também pode ilustrar uma relação em que as pessoas sofrem pela paixão, sofrem e causam sofrimento, um mal romance ("bad romance"), além de também ser uma espécie de biografia da própria Lady Gaga, de artista desconhecida a grande celebridade que para isto precisou mudar, assumir uma nova personalidade, o alter ego Lady Gaga, mais ousada, mais louca, mais sensual, mais bizarra, enfim, a artista que ela mesma define como "monstro".
Notas:
1: Nota em 29,03,2022: Já revi este clipe muitas vezes ao longo de uma década, mas só agora me dei conta de um curioso detalhe. Na cena em que Gaga e outras dançarinas estão de vermelho, uma das dançarinas está com a máscara mal colocada. A parte que deveria encaixar no nariz está mais alta, de modo que também os olhos dela não encaixam corretamente nos furos e o nariz fica exposto. Ela praticamente está dançando sem enxergar nada, pois a máscara tampa os olhos.
Só consigo imaginar três explicações. 1. A máscara escorregou para cima durante a dança e a dançarina, não querendo interromper a performance, simplesmente continuou e também o diretor e o resto da equipe ou não perceberam ou perceberam e também não acharam que merecia uma pausa pra ajeitar. 2. A dançarina propositalmente levantou a máscara, talvez porque ela não conseguia respirar direito, não se sentia confortável com o nariz coberto. Pode ter feito isso discretamente e ninguém acabou notando na hora ou pode até ter pedido permissão pra dançar assim e ninguém viu problema em tão pequeno detalhe. 3. A produção do figurino deixou uma das dançarinas com a máscara torta de propósito, talvez pra dar um toque de estranheza, mesmo porque desde o início há sempre uma intenção de fazer as dançarinas parecerem criaturas estranhas.
Bom, acho mais simples apostar na primeira hipótese mesmo. A máscara escorregou, mas a galera continuou dançando pra não interromper a coreografia.
Com relação ao figurino é bom notar também que sempre a Gaga recebe um tratamento mais caprichado, afinal ela é a estrela e as dançarinas são coadjuvantes. A intenção do figurino é sempre chamar atenção para ela. Nesta cena das roupas vermelhas, por exemplo, as dançarinas não só estão de máscara, como estão com o cabelo preso, o que cria uma uniformidade.
Há ligeiras diferenças nos detalhes das roupas e botas, mas no geral são todas iguais, uma massa humana amorfa. Não há nada de chamativo nelas. Enquanto isto, a Gaga tem um vestido diferente, com decote, com mais exposição das pernas, linhas mais sensuais. Ela é a única com luvas e sem máscara, com o cabelo solto e um penteado estilo Marilyn. Tudo para fazer com que ela seja o centro das atenções. Não à toa, poucas pessoas notaram que uma das dançarinas estava com a máscara torta. Eu pelo menos levei dez anos pra notar.
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