Como o título indica, esta série não é sobre um hospital, nem sobre medicina. É sobre um homem e sua personalidade singular e charmosa. Sim, charmosa. Charme significa uma força magnética, uma força que pode ser atraente ou repulsiva.
House é normalmente repulsivo, pois é narcisista, egoísta, antissocial, crítico, sincero. Sua sinceridade o torna repulsivo? Claro, pois a sinceridade é considerada inadequada, por mais que as pessoas se recusem a admitir, uma vez que o convívio social, a boa vizinhança exige que a sinceridade seja suprimida. "Seja sincero", diz a norma social, "mas somente em pequenas doses. Só quando for conveniente". House é sincero de forma inconveniente, pois não se importa se isto irá incomodar as pessoas. Ele tem repulsa pela mentira e por isso também pelas pessoas, pois "todo mundo mente" (este é seu bordão).
E é por essas mesmas características que ele é atraente, principalmente para nós que o assistimos de longe. Se convivêssemos com um House provavelmente ele nos irritaria, diria verdades que não aceitamos ouvir, iria expor nossos defeitos que preferimos escondidos. Mas como ele não nos afeta, é-nos uma figura atraente e virtuosa, afinal como não reputar por virtuoso alguém que diz a verdade doa a quem doer, que é puro em suas intenções, que não usa máscaras, que não finge ser uma boa pessoa, antes se assume da forma que é?
Além disso, ele é um herói no sentido em que é um modelo para nós. Modelo de rebeldia, de autenticidade. Ele faz o que todos nós gostaríamos de fazer: desobedece o chefe, critica autoridades respeitadas sem temor, expõe suas opiniões e não é certinho. Certinhos não podem ser modelo para nós porque eles exibem um jeito de ser que jamais alcançaremos. Somos humanos, não somos capazes de ser perfeitos. House é viciado em analgésicos, burla regras do hospital, não é pontual nem assíduo no trabalho, enfrenta limites éticos, é um sujeito errado como nós. E por isto o público se identifica com ele.
Há uma interessante semelhança entre House e Sherlock Holmes. E não é acidental, pois o autor da série, David Shore, já admitiu ser fã do detetive britânico. O número do apartamento de ambos é 221B, ambos são viciados em alguma droga (House em Vicodin e Holmes em cocaína), House toca guitarra e Holmes violino. O melhor amigo de Holmes se chama John Watson, o amigo de House é James Wilson, ambos, portanto, com iniciais J.W.
A estrutura da série é bastante repetitiva e previsível. Sempre começa da mesma forma, com a cena de alguma pessoa em afazeres comuns e que de repente sofre um sintoma, geralmente dramático como dor forte, desmaio, sangramento ou espasmo. Então todo o restante do episódio envolverá exames e diagnósticos incorretos até que no final, no estilo deus ex machina, o diagnóstico correto surge e o tratamento é rápido e eficaz.
É curioso o fato de certas doenças sempre serem mencionadas durante o diagnóstico. É o caso da famosa vasculite. Na maioria dos episódios esta famigerada inflamação dos vasos sanguíneos é mencionada. Da mesma forma o lúpus e o linfoma. Mas nunca um paciente tem estas doenças. Geralmente será uma síndrome rara e atípica, afinal House é o especialista em casos atípicos.
(23,01,2012)
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