Individualismo é uma filosofia de vida. Não deve-se confundir isso com egocentrismo ou egoísmo. O individualismo enquanto filosofia considera que é importante preservar a autonomia de cada pessoa e que não podemos julgar ninguém como parte de um grupo, mas como um ser único e peculiar.
Isso é ótimo, não? Quando cultivamos o individualismo, superamos preconceitos, pois não olhamos para as outras pessoas como membros de uma raça ou religião ou partido ou qualquer grupo que seja, não as julgamos dessa maneira generalizada, antes de tudo vemos um indivíduo que tem seu próprio conjunto de características. Logo, se vamos julgar alguém, que seja um julgamento focado na pessoa em si, em seu caráter e comportamento, não em estereótipos coletivos.
O individualismo nos torna mais cosmopolitas, justamente porque superamos essa visão grupal do ser. Pessoas são pessoas, unidades e não conjuntos. Cada pessoa é um universo próprio e é preciso expandir a mente para aceitar isso, em vez do olhar preguiçoso generalizante e coletivista que aglomera as pessoas em grupos, rótulos e estereótipos.
O individualismo também é bom para a auto estima, pois está intrinsecamente ligado ao cultivo do amor próprio. Ser individualista é ter alta consideração por si mesmo, se dar valor. "Cada homem e cada mulher é uma estrela", alguém já disse.
No entanto, eu sei que é preciso um equilíbrio entre a mentalidade individualista e a coletivista. Há individualistas que superestimam este ponto de vista e chegam a extremos fantasiosos, como pensar que o indivíduo é um deus ou que pode viver realmente isolado das outras pessoas. Calma aí, amigo. Não é bem assim.
Quem de fato já tentou viver longe das outras pessoas? Um eremita talvez, mas convenhamos que seria extremamente difícil para alguém viver em completo isolamento.
Imagine que uma pessoa seja largada em uma ilha deserta ainda criança. Bom, naturalmente é quase impossível uma criança sobreviver por mais que alguns dias sem o auxílio de outra pessoa. Mas suponhamos que, ao estilo Romulo e Remo, essa criança seja adotada e amamentada por uma loba. Ela crescerá e aprenderá algumas coisas com os animais, mas estará muito longe da capacidade intelectual que alcançaria ao usufruir do aprendizado humano, da cultura, da língua.
O simples fato de não aprender a falar já é um prejuízo enorme para o intelecto. A fala, a escrita, a língua, é uma criação coletiva, um produto da humanidade em constante desenvolvimento coletivo, e é simplesmente a principal, a mais importante ferramenta de criação, preservação e transmissão de conhecimento.
Um indivíduo completamente isolado desde a infância não seria capaz de criar algo tão complexo como um idioma. Poderia desenvolver grunhidos, sons aleatórios, mas a riqueza de uma língua é produzida pela coletividade ao longo de séculos e esse patrimônio pode ser herdado por qualquer indivíduo por meio da convivência com as outras pessoas que já dominam a língua. A língua é uma herança, uma riqueza que levou milênios para ser produzida e que jamais um indivíduo totalmente isolado seria capaz de produzir no breve curso de sua vida.
As heranças são formas de cada pessoa possuir bens sem ter que começar totalmente do zero. Se não herdássemos nada da sociedade, teríamos que fazer todo o caminho que a humanidade outrora fez, aprender cada tecnologia, cada passo outrora dado. Felizmente, nós herdamos a cultura e o conhecimento que os antepassados acumularam. Isso é um tesouro coletivo.
Imagine esse sujeito largado sozinho na ilha, descobrindo por conta própria o fogo, levando anos, talvez décadas, para aprender a criar uma faísca e fazer uma fogueira, levando uma vida para aprimorar suas ferramentas de pau e pedra, morreria antes mesmo de saber derreter um minério para moldar uma faca rudimentar.
Na civilização, temos acesso a tecnologias que levaram milênios para se desenvolver. Temos eletricidade e transportes de alta velocidade e alimentos em abundância e remédios e tratamentos para a saúde. Tudo isso são bens coletivos, a soma dos esforços dos indivíduos da sociedade.
Logo, quem acha a sociedade dispensável e que só o indivíduo importa, está sendo tanto ingênuo quando hipócrita, pois afirma isto ao mesmo tempo em que usufrui de todos estes benefícios da vida em grupo. Viver em grupo é vantajoso, mais do que o total isolamento.
Por outro lado, existem aqueles que valorizam tanto a existência coletiva que menosprezam o indivíduo. Outro extremo, outro erro. A coletividade só existe por causa de cada um de seus indivíduos. Uma máquina depende de suas peças. O indivíduo não deve ser sacrificado em nome de um grupo. Isto é crueldade.
O pensamento coletivista também corre o risco de enfraquecer os indivíduos, como em seitas religiosas que transformam pessoas em fanáticos sem opinião própria, até sem vontade própria, escravos do grupo, com suas personalidades anuladas. Aliás, isso ocorre não apenas em religiões, mas em grupos políticos e até fãs de algum entretenimento.
Enfim, o equilíbrio das visões é importante. Valorizar o indivíduo sem desprezar o coletivo. Dar a devida importância ao grupo sem se deixar anular pelo grupo.
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