Nascido em Paris (21 de novembro de 1694), François Marie Arouet, conhecido como Voltaire, foi para a França o que Immanuel Kant foi para a Alemanha ou John Locke para a Inglaterra: fomentou a revolução cultural conhecida como iluminismo.
Nas palavras de Kant, "O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo."
Em outras palavras, o grande ideal do iluminismo era o uso da razão, do livre pensar. Filósofos iluministas nada mais eram do que isto: livres-pensadores. Consideravam que não tinham obrigação de se submeter a nenhuma autoridade intelectual ou verdade consagrada. Opunham-se a dogmas, especialmente os da igreja católica, e viam no uso da razão e do livre pensar um avanço na condição humana, daí o termo "iluminismo", pois a razão trazia luz à civilização obscurecida pela ignorância.
Foi um escritor profícuo, produzindo uma vasta obra de ensaios, cartas, romances, contos, peças de teatro e poemas. Destacam-se como suas maiores obras: Cândido, Cartas Filosóficas e o Dicionário Filosófico.
Satírico e debochado, não poupou críticas à política e religião. Criticou a superstição, a corrupção, as instituições civis, os reis absolutistas, a nobreza e o clero. Mais que o uso da razão, ele enfatizou a liberdade individual, liberdade de pensamento, de crença, enfim, liberdades civis.
Sobre religião, Voltaire era deísta, como muitos dos iluministas. O deísta não acredita num Deus que se revela através de milagres, profetas ou livros sagrados. Era por meio da razão que se chegava à conclusão que o universo é produto de uma "mente divina", mas que em nada se assemelhava, por exemplo, ao Deus bíblico ditador de regras e que exigia sacerdotes ou rituais.
Na verdade, Voltaire via mais mal na religiosidade supersticiosa e fanática do que na ausência de fé. Diz ele: "O ateísmo não se opõe ao crime; o fanatismo o atiça."
Sofreu perseguições políticas e religiosas, chegando a ser exilado. Mas também ganhou prestígio e tornou-se conselheiro de reis como Frederico II, da Prússia. Já idoso, foi admitido com grande cerimônia na maçonaria. Morreu aos 83 anos (30 de maio de 1778).
Sobre ele, diz Robert G. Ingersoll, um livre pensador estadunidense:
"Li Voltaire, o maior homem de seu século, o qual fez mais pela liberdade de pensamento e de expressão que quaisquer outros seres humanos ou 'divinos'. Voltaire, que despedaçou a máscara da hipocrisia, encontrando por detrás do sorriso a carantonha do ódio. Voltaire, que combateu a selvageria da lei, as decisões cruéis de cortes venais; que resgatou vítimas de rodas e ecúleos. Voltaire, que travou guerra contra a tirania dos tronos, a ganância e a perversidade do poder. Voltaire, cujo intelecto arremessou setas farpadas e envenenadas contra os padres; que fez os devotos hipócritas, que o condenaram publicamente, rirem de si mesmos por dentro. Voltaire, que tomou o partido dos oprimidos, resgatou os desafortunados, defendeu os humildes e os fracos, civilizou juízes, revogou leis e aboliu a tortura em sua terra natal." (Ingersoll, Porque Sou Agnóstico).
Algumas das palavras de Voltaire:
A origem do mal foi sempre um abismo de que ninguém conseguiu lobrigar o fundo.
Cada um põe a felicidade onde pode, e quanto pode ao seu gosto.
O catequista anuncia Deus às crianças e Newton o demonstra aos sábios.
É no exercício de todas essas virtudes e no culto de um Deus simples e universal que quero viver.
A amizade é o bálsamo da vida.
Ora, quem faz uma obra senão um obreiro? Quem elabora leis senão um legislador? Existe pois um obreiro, um legislador eterno.
O prudente faz o bem a si mesmo, o virtuoso fá-lo aos homens.
Os tempos mais supersticiosos foram sempre os dos crimes mais horríveis.
O preconceito é uma opinião sem julgamento. Assim em toda a terra inspiram-se às crianças todas as opiniões que se desejam antes que elas as possam julgar.
Sempre notei que se pode curar um ateu, mas jamais se cura radicalmente a um supersticioso.
As pequenas faltas não serão punidas como grandes crimes, pois que em tudo é preciso proporção.
Quando a gente está na correnteza é só deixar-se carregar.
A curiosidade é necessária à natureza humana.
Os exemplos corrigem muito mais do que as censuras.
As pessoas sempre querem destruir aquilo a que temem.
Não desejaria ser feliz sob a condição de ser imbecil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário