Creio que o nível de inteligência de qualquer ser pode ser medido pela sua capacidade de perceber que está sendo observado. Por exemplo, se olharmos as formigas trabalhando, elas simplesmente não percebem que nós as estamos observando, a não ser, claro, que façamos alguma coisa que interfira diretamente. Se apenas olharmos, elas seguem suas vidas ignorando nossa existência.
Já as baratas são um pouco mais espertas, pois elas conseguem perceber melhor que as formigas quando alguém está de olho nelas. Neste caso, a barata percebe que há algum perigo próximo se ela nota que você está caminhando em volta dela e se aproximando. Você pode deitar no chão e ficar com o rosto muito próximo das formigas para vê-las de perto e elas sequer vão notar, já as baratas notarão sua presença caso você se aproxime alguns metros delas.
Animais com um sistema nervoso mais complexo claramente aprimoram essa capacidade de perceber que algo os observa. Aquelas pequenas lagartixas que vivem dentro de casa, por exemplo, experimente simplesmente virar o rosto em direção a uma delas e a lagartixa provavelmente vai se assustar em saber que você a está encarando e vai tentar se esconder. Ela consegue distinguir um rosto e a função dos olhos. Não creio que baratas saibam o que são olhos, mas lagartixas sabem, tanto que ela nota a diferença quando você está com a nuca voltada para ela, ou o rosto com seus olhos ameaçadores.
Os mamíferos são mestres na arte de perceber que estão sendo observados. Tanto um coelho quando uma onça usam vários sentidos para notar qualquer sutileza no ambiente que revele um possível agressor. São bastante perceptivos na visão, sendo capazes de distinguir pequenas formas e movimentos sutis à distância, mas vão muito além disso, pois podem perceber até mesmo aquilo que não veem, por meio do olfato que entrega a presença de algo, e a audição que avalia os sons e deduz se algum som diz respeito a uma ameaça. É preciso uma inteligência muito mais complexa que a de baratas ou lagartixas para realizar estes cálculos.
Por fim chegamos nos humanos. Nossa capacidade de perceber que alguém nos observa é extremamente complexa. Como parte do passado evolutivo em que era preciso estar atento a inimigos até mesmo da nossa própria espécie, nós cismamos quando alguém nos olha com o canto do olho, nós sentimos quando chegamos em uma sala e as pessoas estavam falando de nós e, mais ainda, temos os sentidos da percepção tão apurados, que às vezes temos aquela sensação de que alguém nos olha pelas costas. É como uma intuição, um sexto sentido, uma inteligência delicada para perceber que estamos sendo observados.
Isto vale também para organizações, instituições, países. A inteligência de um país envolve sua capacidade de perceber que está sendo alvo de espionagem e, assim, bloqueá-la.
E se levarmos esta ideia para um nível ainda maior? Um nível cósmico. Será que estamos sendo observados por outras civilizações mais avançadas? Se isto acontece, ainda não temos a inteligência suficiente para perceber. Eis, portanto, o próximo estágio de inteligência que devemos alcançar: a capacidade de perceber que algo além do nosso mundo nos observa.
Naturalmente, a capacidade de perceber-se sendo observado também requer uma capacidade de observar. Assim, quanto mais complexa a inteligência, mais amplo é o olhar. O autoconhecimento é um tipo de inteligência que poucas criaturas alcançam, a capacidade de olhar para dentro de si mesmo, enxergar a própria mente, se observar e perceber-se observado por si mesmo.
Este mesmo olho que olha para dentro também olha para além, a fim de entender o cosmos, transcender. É o chamado "terceiro olho" do hinduísmo e que o apóstolo Paulo chama de "olhos do coração".
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