Tenho esse negócio de ficar notando certas expressões viciadas que as pessoas usam, os tais jargões. Eles muitas vezes identificam um grupo, uma turma, uma tribo urbana, uma modinha, até uma faixa etária. Ultimamente esse troço de "lacrar" foi um jargão usado e abusado nas redes sociais.
Originalmente era uma gíria entre os gays e transexuais meio que sinônimo de "abalar", "dar um show". "Você lacrou com esse vestido, amiga!". Mas aí a turma dos justiceiros sociais adotou o termo pra premiar com uma estrelinha quem fez ou falou algo adequado à sua tabela de méritos. "Vi seu post sobre representatividade no cinema. Lacra mais!".
Originalmente era uma gíria entre os gays e transexuais meio que sinônimo de "abalar", "dar um show". "Você lacrou com esse vestido, amiga!". Mas aí a turma dos justiceiros sociais adotou o termo pra premiar com uma estrelinha quem fez ou falou algo adequado à sua tabela de méritos. "Vi seu post sobre representatividade no cinema. Lacra mais!".
Existem certas palavras específicas que são preferidas de determinados grupos, jargões de estimação. E não raro é comum a palavra se tornar uma espécie de credencial de uma profissão ou atividade. Por exemplo, todo mundo nota que jogadores de futebol usam os mesmos jargões quando dão suas entrevistas. Talvez o mais comum seja a expressão "dentro de campo" ou, para os íntimos, "dendicampo". Quase sempre terminam uma frase assim. "Ah a gente se esforçou e treinou bastante e num sei que num sei que lá pro bom resultado dendicampo".
Críticos (e palpiteiros) de cinema adoram falar da "quarta parede". Alguns soltam esse termo como se fossem guardiões de um conhecimento oculto, esotérico, que só os críticos de cinema dominam, como se entender a quarta parede fosse um privilégio de iluminados ou um sinal de profundo conhecimento técnico.
Aí tem os vlogueiros de games (que gostam de se nomear "criadores de conteúdo", sendo que quem criou o conteúdo mesmo foram os designers e programadores dos jogos, enquanto os vlogueiros apenas jogam) que, ao fazer a análise de um jogo, gostam de soltar um "mecânica do jogo". Meu amigo, se eu falo em "mecânica do jogo" é certeza que vou soar como um entendido da coisa. "Ah, o que você achou do jogo tal?", "Bom, eu acho que a mecânica do jogo é bem interessante porque o jogo tem uma mecânica inovadora, diferente da mecânica dos outros jogos porque a mecânica da mecânica...".
Também pode ser considerado um jargão a saudação padrão que muitos desses vlogueiros usam no início de todos os vídeos: "E aí, galerinha". Tem uns mais originais que tentam criar variantes como "olá, pessoas" (e a versão estendida "olá, pessoas do planeta Terra") ou "hey, guys", mas se tem várias pessoas fazendo a mesma coisa, então já não é mais original. Entre as vlogueiras de moda essa saudação assume a forma "Oi, meninas".
A palavra queridinha dos advogados e juristas em geral é "celeridade". Pode observar. "Vamos dar celeridade ao processo". O cara podia ter dito "vamos acelerar o processo", "vamos dar rapidez ao processo", "vamos realizar o processo o quanto antes", mas sempre prefere usar essa palavra que ninguém usa no dia a dia. "Celeridade!".
Os críticos de softwares gostam de "responsivo". Quando você quer falar bem de uma nova versão de um sistema operacional, de um aplicativo qualquer, basta soltar um "o sistema é bastante responsivo". Pronto, não precisa dizer mais nada. Se é responsivo é garantido.
Apresentadores de telejornal e outros programas de TV costumam terminar dizendo "o programa tal vai ficando por aqui" e fazem o convite para assistir a próxima apresentação com um "eu espero você". Também surgiram vários jargões para marcar a entrada dos comerciais. O Jô Soares consagrou o "daqui a pouco a gente volta". O Ratinho e alguns outros falavam "vamos faturar". O Chacrinha transformou seu bordão de anúncio do comercial em música: "Roda, roda, roda e avisa um minuto pro comerciaaal".
O Chacrinha, aliás, criou várias expressões típicas dele, o que já não é jargão, mas bordão. O bordão é a expressão viciada de determinado indivíduo e não de um grupo, é uma marca pessoal, um jeito próprio de falar e um sinal de criatividade, pois, diferente do jargão, que faz você se parecer com várias outras pessoas que usam o mesmo termo, o bordão faz você ser único (pelo menos o criador do bordão, porque depois as pessoas começam a imitar e vira um jargão).
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