Qaligrafia
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Píramo e Tisbe

Píramo e Tisbe, um cordel
(Metamorfoses, Livro IV, Públio Ovídio)

Nas terras da Babilônia
Dois jovens vizinhos tinha:
Um rapaz chamado Píramo
E Tisbe, uma mocinha.
Ele era o mais bonito
Dos cabra da região.
Ela, moça tão fremosa
Que num tem comparação.

Eles se criaro junto
E o amor nasceu nos dois,
Mas os pais, num gesto injusto,
Proibiram o namoiro.
Mas essa proibição
Num alcança o coração
E se amavam por acenos.
Pois o amor que é reprimido
Fica mais forte e os meninos
Se amavam mais e não menos.

E pia como são as coisa,
Pois num é que tinha um furo
Bem pequeno na parede!
E os amantes, por sussurros
Conversavam toda noite.
E a parede que os afasta,
Na verdade unia os dois.
Mas pr'eles isso não basta.

Resorvero acombiná
Entre os dois certo mistério:
"Quando a noite hoje chegá
Vamo inté o cimitério.
Lá tem uma planta bela
C'os fruto da cor de neve
Que é o pé de amoreira.
Ali você me aguarde
Que debaixo dessa árvre
Nós namora a noite inteira".

Tisbe, à noite, põe um véu,
Sai de casa inté a planta,
Mas percebe uma leoa
Que acabou de fazer janta.
Ela corre (e cai o véu)
E numa gruta se esconde.
A leoa ataca o pano
Sujando de baba e sangue.

O rapaz chega dispois
E vê logo pelo chão
As pegada da leoa
E um véu sujo de sangue.
Desespera, grita e chora,
Corre pro pé de amora
E não vê a sua amada.
"Oh, fui eu que te matei,
Pois fui eu que combinei
E nem vim na hora marcada".

Pega a faca da cintura
E dá um golpe certeiro
Em si mesmo e o sangue jorra
Pintando com seu vermelho
Os fruto da amoreira.
E esses fruto tão alvinhos
Dessa bela planta agora
Ficaram da cor do vinho.

A moça, se alembrando do rapaz,
Sai da toca pra avisar do perigo,
Mas a amoreira não encontra mais,
Pois vê uns frutos de vermelho vivo.
Então no pé da planta vê um corpo
Banhado em sangue, mas inda não morto.
Desesperada abraça o seu amado.
Ela, chorando, o peito dele molha,
Ele no fundo dos seus olhos olha
E então vira a cabeça para o lado.

Ela pega a mesma faca
Que seu namorado usou
E diz: "Nem a morte vai
Separar o nosso amor.
E eu te peço, amoreira,
Que carregues no teu fruto,
Pra lembrar do meu amor,
Um sinal de eterno luto".

E a faca, ainda suja,
Do sangue do jovem Píramo,
Agora o peito perfura
Da bela e sofrida Tisbe.
Mas a prece que ela fez
Parece que teve vez,
Pois inté hoje a amora,
Quando o fruto ta maduro
Fica bem pretinho, escuro,
Em respeito à sua memória.

(23,06,2005)

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