Life is Strange foi um jogo que gostei bastante e durante as semanas e as dezenas de horas que desfrutei essa aventura fiquei bastante imerso naquele universo. Não tem uma jogabilidade convencional. Você não sai batendo em monstros e coletando loots. É na verdade um point and click extremamente baseado em cutscenes, de modo que você talvez mais assista do que jogue. É um filme ou seriado interativo.
Bom, essa pode ser a primeira impressão, mas para quem curte uma boa exploração tem bastante conteúdo além das cutscenes. Todo o cenário é explorável, há muitos detalhes, easter eggs nerds e pequenas informações extras que enriquecem a história. Além disso a maneira de interagir com toda a variedade de personagens é muito interessante.
Existem muitos, muuuitos personagens secundários com os quais você pode conversar e certas ações e escolhas que você faz em relação a cada um deles vão afetando o curso da história, de modo que uma mesma história possui uma ramificação de variantes. Não apenas a sua ação, mas também a sua omissão pode afetar o destino seu e dos outros. É um jogo fortemente baseado em carma.
Existem muitos, muuuitos personagens secundários com os quais você pode conversar e certas ações e escolhas que você faz em relação a cada um deles vão afetando o curso da história, de modo que uma mesma história possui uma ramificação de variantes. Não apenas a sua ação, mas também a sua omissão pode afetar o destino seu e dos outros. É um jogo fortemente baseado em carma.
Este poder que o jogador tem sobre o destino de todo aquele mundo é muito legal. O poder da Max de manipular o tempo realmente pode ser sentido pelo jogador que então se torna uma espécie de roteirista da história, montando as peças, mudando as partes, refazendo, testando possibilidades. Enfim, esse jogo deu uma nova roupagem ao clássico estilo de gameplay RPG, aquele em que as escolhas importam e a interação com as pessoas do cenário é um rico recurso. A diferença é que este RPG não se passa em um mundo fantástico ou medieval, mas numa cidade comum com pessoas comuns.
Enfim, pra mim foi um jogão e além de divertido também achei emocionante. Me senti meio adolescente assistindo a uma novela adolescente. Mas estes dias estive pensando sobre a Chloe e me deparei com uma interpretação diferente sobre ela.
Já ouviu aquela teoria de que o verdadeiro bully e vilão de Karatê Kid é o Daniel San? Pois bem, às vezes um personagem que claramente é colocado numa determinada posição pode não ser bem isso que parece. Também o contrário pode acontecer, como suspeitarmos que Darth Vader na verdade era um cara bem intencionado.
No caso de Life is Strange, desde o começo a Chloe aparece como a estrela do jogo. Tudo gira em torno dela, de fato. O próprio tempo-espaço acaba girando em torno dela porque o poder da Max se manifesta no momento em que ela tenta acidentalmente salvar a Chloe de ser assassinada e a partir daí todos os eventos e todo o percurso da protagonista vão ser dirigidos na direção da Chloe.
Diferente da Max, que é uma personagem com um estilo simples e discreto, a Chloe é descolada, tem uma personalidade forte e marcante, cheia de atitude, não se deixa intimidar, corre atrás do que quer e enfrenta os obstáculos, é ousada, forte, determinada, motivada, convicta e tantos outros adjetivos que caberiam em um personagem heroico. Maaas... se olharmos por outro ângulo, tipo, na vida real, ela seria realmente uma má companhia para a Max, algo que os próprios pais da Chloe chegaram a admitir.
E não apenas má companhia, ela como que dá azar, atrai problemas, causa problemas com seu jeito impulsivo. Ela se envolveu com traficantes de drogas, agiotas, psicopatas e ainda atraiu a Max pra esse mundo de perigo. Egoísta, em momento algum ela se doa para ajudar os outros e está sempre cobrando atenção e que os outros se dediquem aos problemas dela, especialmente a Max, que então vira sua salva vidas particular a tal ponto que Max começa a bagunçar o tempo e as vidas de todos a fim de "corrigir" a timeline da Chloe.
O próprio furacão é causado por essa bagunça que ela faz no tecido do tempo-espaço e em um dos possíveis finais do jogo a Max escolhe deixar o furacão destruir a cidade e matar centenas ou milhares de pessoas em troca de ficar com sua amiguinha viva. E não estamos falando da Max escolher a morte de estranhos em troca da vida de uma amiga, mas a morte de parentes, amigos e conhecidos. Pode parecer romântico um final assim "eu renunciei a todos por você", mas é bem psicopata, convenhamos.
Mas calma, é tudo ficção. E na ficção estas coisas podem. Inclusive experimentei o final em que a Max dá um foda-se pra sua cidade e vai embora numa road trip com a Chloe e achei bem legal. Um final vilanesco.
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