Qaligrafia
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A história do livro

Codex Calixtinus

A primeira "página" em que os homens escreviam era de pedra. Nas paredes de cavernas o homem primitivo fazia desenhos representando eles mesmos, animais e outros detalhes que observavam no mundo. Ainda não havia palavra ou alfabeto, mas já havia a representação de ideias em símbolos visíveis. Afinal, o desenho de um boi carrega o mesmo significado da palavra "boi".

Ainda antes de surgirem as palavras propriamente ditas, a escrita fora usada para fins matemáticos. Riscos feitos em um pedaço de pau ou de osso serviam para contar as ovelhas do pastor. Antes de produzir literatura, preocupou-se o homem em realizar contabilidade financeira. 

Assim seria com os fenícios, aos quais é dado o crédito de terem criado o primeiro alfabeto. Sendo um povo mercante, os fenícios também usavam a escrita principalmente para contabilizar suas compras e vendas. 

Os gregos, por sua vez, ao tomar emprestado o alfabeto fenício e desenvolver sua própria versão, foram mais longe e usaram da escrita para registrar a literatura que já possuíam em forma oral. A Ilíada é o grande exemplo disto. Originalmente se tratava de versos decorados e cantados nas ruas por aedos e rapsodos, até que foram compilados em texto escrito, em papiro.

Mas voltemos à pedra. Na Suméria e Babilônia, usavam-se tábuas, pilares e cilindros de pedra. O famoso Código de Hamurabi, um tratado de normas éticas e leis, fora escrito numa estela, uma coluna de pedra. Os Dez Mandamentos de Moisés também tiveram sua forma inicial em duas placas de pedra, segundo conta a Bíblia. 

No Egito, as paredes de pedra dos templos foram adornadas com inscrições que louvavam deuses e contavam a história oficial do país. Eram os hieróglifos (entalhes sagrados). O Egito foi um dos primeiros países a adotar o material mais leve e portátil para escrita até então: o papiro. Foi, com certeza, uma revolução.

Papiro é um junco que cresce na lama do Rio Nilo. Suas fibras já eram usadas há milênios como um tecido rústico, por exemplo para confecção das fitas usadas nas múmias. O aperfeiçoamento da técnica produziu a folha para escrita, que os gregos chamariam de "biblos". Agora já não se usava cinzel pra entalhar pedras e blocos de argila, mas tinta preta sobre a fina, resistente e bastante portátil folha de papiro.

Os livros escritos em papiro não eram encadernados como fazemos hoje com o papel. Eram simplesmente enrolados, de modo que para se ler um livro era preciso ir desenrolando a folha. Isto não era, claro, muito prático comparado aos livros de hoje, principalmente se a intenção fosse encontrar determinado trecho no meio do livro. Neste caso tinha o leitor de desenrolar metros e metros até chegar à parte desejada. 

Isto mudou com a criação do códice. As folhas se tornaram menores e eram sobrepostas e encadernadas, protegidas por uma capa. Surge aí o formato de livro que conhecemos hoje. Por esta época o papiro cedeu espaço para o pergaminho, que era feito de couro animal e, portanto, mais resistente que o papiro. Além disso a matéria prima podia ser encontrada onde quer que se criassem rebanhos, diferente do papiro que só crescia às margens de alguns rios pantanosos, particularmente o Nilo.

O pergaminho foi popular durante a Idade Média até que os árabes trouxeram para o ocidente uma invenção chinesa: o papel. Menos resistente, porém mais leve, fino e elegante, uma vez que as folhas de papel eram brancas, ideais para escrita e ilustração.

Ilustrações sempre foram comuns na literatura. Os templos egípcios que o digam, adornados com desenhos como uma imensa história em quadrinhos da antiguidade. Na Europa, os escribas medievais gostavam de enfeitar os textos com desenhos nas letras, nas bordas, na capa, etc. Eram as iluminuras. Nos mosteiros havia monges especializados em fazer estes desenhos nas cópias da Bíblia. A literatura não se prestava apenas a registrar informações, mas como uma peça de arte em parceria com o desenho e a pintura.

Até aí temos um trabalho totalmente manual. Do "escultor", que escrevia entalhando na pedra, ao amanuense, que usava pena de ganso e tintas de várias cores, chegamos à imprensa. A China já havia desenvolvido na Idade Média sua máquina de fazer livros. Na Europa, o crédito coube a Gutenberg. A partir destas máquinas, a publicação de livros experimentou seu primeiro grande boom.

No final do século XIX, surge a máquina de datilografar. Praticamente uma imprensa portátil. Dá-se a Mark Twain o crédito de ser o primeiro escritor consagrado a escrever os originais de seus livros usando a máquina em vez de escrever à mão. Um século depois, Sidney Sheldon será o primeiro grande escritor a produzir seus originais usando um computador. 

E é nesta era que vivemos, a era digital. Da pedra ao papiro, depois ao pergaminho e ao papel; do cinzel à pena, depois à imprensa e à máquina datilográfica, chegamos agora ao teclado e ao computador. O livro assume meios eletrônicos de gravação. O papel é virtual, uma folha que o computador "imagina" e nos exibe no monitor. De sua forma mais bruta e pesada, a pedra, o livro transcendeu para o formato digital, quase abstrato.

O próprio papel e tinta ganhou uma versão eletrônica, o chamado e-ink, a tela de um aparelho (e-reader, como o Kindle) que simula as funções do papel, sendo menos luminescente, garante uma leitura mais confortável em relação a outras telas eletrônicas.

E hoje o livro experimenta seu segundo grande boom, o maior de todos os tempos. Nunca antes se escreveu nem se publicou tanto.

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