Escrito em 1888, este foi o penúltimo livro de Nietzsche (o último foi O Anticristo), portanto pouco antes dele ser consumido pela doença e a insanidade. O título foi uma referência a uma obra de Wagner, Crepúsculo dos Deuses. Wagner foi notavelmente o músico predileto do filósofo.
O subtitulo, Como Filosofar com um Martelo, apenas enfatiza o sentido do título: seu objetivo é iconoclasta, quebrar ídolos. Este era, para Nietzsche, um dos principais propósitos da filosofia: quebrar. Neste caso, a filosofia se põe como inimiga do dogma, das verdades estabelecidas e impostas como indiscutíveis, particularmente as verdades religiosas, mas não somente elas.
Usando então o martelo, a crítica filosófica, ele sai quebrando ídolos, verdades estabelecidas, autoridades consagradas. Critica os pós-socráticos, Platão, o cristianismo, a moral e diversos outros pensadores contemporâneos. Mas é generoso nos elogios para com uns poucos, especialmente Goethe e Schopenhauer.
Combater ídolos foi o que Nietzsche mais fez em toda sua carreira. Pensar que seu objetivo era simplesmente discordar da religião é uma leitura superficial. Para Nietzsche, o problema não era a religião, mas o fato desta ter alcançado um status de ídolo, de verdade estabelecida, intocável, imaculada. Obviamente, a Igreja havia se tornado um dos maiores e piores ídolos, inimiga do pensamento livre e mesmo do instinto livre, já que pregava a repressão da natureza sensual.
Um ídolo é algo para o qual o homem se dobra, algo superior ao homem e do qual este se faz servo. Em termos de pensamento, pode ser uma moral estabelecida, uma instituição religiosa ou secular, uma autoridade acadêmica, um filósofo consagrado. Pressupõe-se que a filosofia deva buscar a liberdade do homem, não a sua prisão, de modo que o pensamento crítico será um martelo a quebrar estes ídolos que nos aprisionam.
É nesta obra que está uma de suas mais famosas frases: "O que não me mata, me fortalece". A seguir, mais alguns trechos:
Ajuda-te a ti mesmo: então todos te ajudarão.
O verme se enrola quando é pisado. Isso indica sabedoria. Dessa forma ele reduz a chance de ser pisado de novo. Na linguagem da moral: a humildade.
Sem música a vida seria um erro.
Em todos os tempos os sábios fizeram o mesmo juízo da vida: ela não vale nada...
A Igreja combate as paixões pela extirpação radical: seu sistema, seu tratamento é castratismo.
A espiritualização da sensualidade se chama amor.
A fórmula geral que serve de base a toda religião e a toda moral se exprime assim: "Faça isto ou aquilo, não faça isto ou aquilo - então serás feliz! Caso contrário..."
Só às almas mais espirituais, admitindo que sejam as mais corajosas, é dado viver as tragédias mais dolorosas: mas é por isso que estimam a vida, porque ela lhes opõe seu maior antagonismo.
O valor de uma coisa reside às vezes não no que se ganha ao obtê-la, mas no que se paga para adquiri-la.
É preciso ter necessidade de ser forte, caso contrário, nunca se chega a sê-lo.
Dostoiewsky - o único psicólogo, que seja dito de passagem, de quem se tem algo a aprender e que se faz parte dos acasos mais felizes de minha vida, mais ainda que a descoberta de Stendhal.
Platão é covarde diante da realidade e por isso se refugia no ideal; Tucídides é senhor de si e portanto senhor das coisas.
Para os iguais, igualdade; para os desiguais, desigualdade - essa deveria ser a linguagem de toda justiça.
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