Qaligrafia
Séries, livros, games, filmes e eteceteras 🧙‍♂️

Os curtas do canal Dust, pt 3

Continuando a série sobre os curtas do canal Dust (ver também aqui e aqui), seguem mais resenhinhas:

Link do canal:
https://www.youtube.com/channel/UC7sDT8jZ76VLV1u__krUutA

Explorers (2017)

Este curta de cinco minutos dirigido por Rob McLellan não é apenas belo, mas também inspirador e poético. Alguns podem dizer que não é um filme, mas um clipe, e que não tem história, mas isso é algo que engana o olhar desatento. O filme começa com uma garota observando o céu e seguem diversos recortes de feitos astronômicos, naves singrando o espaço, estações espaciais orbitando planetas, astronautas explorando mundos alienígenas, tudo acompanhado por uma música que vai crescendo em intensidade e no final vemos uma mulher que é ninguém menos que aquela garotinha do começo. Ela, que na infância contemplava o céu, após algumas décadas estava diante de feitos grandiosos. Em apenas uma geração a humanidade avançou brilhantemente neste filme.

Este curta, que segue uma estética de recortes e meio "documentário", um gênero já consagrado em filmes como Koyaanisqatsi (1982) e The Tree of Life (2011), foge do padrão em produções futuristas e, em vez de apresentar uma ambientação distópica e invasões alienígenas, opta por um tom otimista e esperançoso, ou melhor, motivador. A ideia é fomentar o interesse pela exploração do cosmo. Movidos por este interesse, um dia não só chegaremos ao nível descrito neste filme, como iremos além.

Explorers (2017)

Explorers (2017)

Explorers (2017)

Explorers (2017)

Explorers (2017)

Explorers (2017)

Explorers (2017)

A Date in 2025 (2017)

Escrito e dirigido por Ryan Turner. Mostra um cara solitário que, por conselho da sua Inteligência Artificial doméstica, resolve sair com uma garota. O interessante é como a IA se mostra manipuladora, ainda que de um jeito afetuoso, mostrando que a vontade humana se tornará cada vez mais guiada pela tecnologia.

A Date in 2025 (2017)

The Leap (2015)

Escrito e dirigido por Karel van Bellingen. A história se passa em 2064, quando já ocorrem viagens espaciais para colonizar outro planeta, a Nova Terra. Os privilegiados da Terra conseguem se mudar para esse novo mundo e aqueles que ficam, párias, tentam também a todo custo embarcar clandestinamente. Um policial, que já serviu por 15 anos reprimindo os imigrantes ilegais, tenta se redimir ajudando uma prostituta.

The Leap (2015)

Indigo (2016)

Escrito e dirigido por Jody Wilson. Esta história foge bastante ao padrão dos curtas do canal, pois não tem elementos de sci-fi nem futuristas. Aparentemente, o protagonista é um garoto que sofreu o trauma do suicídio dos pais e vive em um mundo imaginário, de modo que acha que não é deste planeta e passa toda a vida tentando se comunicar e encontrar uma forma de voltar para sua casa alienígena. E tem uma garota que desde a infância ele gosta, mas nunca teve coragem de se declarar. Mas também é possível tentar uma interpretação menos trágica e acreditar que no final ele de fato estava certo sobre o mundo alienígena e conseguiu se teleportar.

Indigo (2016)

No-A (2015)

Dirigido por Liam Murphy. Uma historinha simples de um robô que enfrenta inimigos pra tentar salvar sua criadora humana.

No-A (2015)

A Stitch in Time (2010)

Escrito e dirigido por Stephen Graves. Sem precisar de muito efeito especial, ele brinca com a ideia de paradoxo temporal, quando um cara encontra outra versão dele mesmo e entra em um loop de eventos.

A Stitch in Time (2010)

From the Future with Love (2013)

Escrito e dirigido por K. Michel Parandi. Desenha um ambiente cyberpunk onde as pessoas recebem proteção policial de acordo com o plano que contratam da polícia privada. Também há hackers que conseguem ocupar o cérebro de uma pessoa, roubando seu corpo.

 From the Future with Love (2013)

Robot & Scarecrow (2017)

Dirigido por Kibwe Tavares. É uma história bobinha de uma performer robô que se apaixona por um espantalho, mas acaba morrendo (ou desligando) porque ela não se dá ao trabalho de recarregar a bateria.

Robot & Scarecrow (2017)

Tears of Steel (2012)

Escrito e dirigido por Ian Hubert. História levemente cômica de uma guerra entre humanos e robôs que foi causada por uma cientista só porque um cara terminou o namoro por não se sentir à vontade com o braço robótico dela. Anos depois ele tenta reverter esse trauma simulando o dia do término dentro da mente digitalizada da cientista.

Tears of Steel (2012)

Genghis Khan Conquers the Moon (2015)

Escrito e dirigido por Kerry Yang. Uma história bem doida sobre Genghis Khan literalmente tentando conquistar a Lua. O mais impressionante nesse curta é o fato de terem conseguido dois grandes atores de Hollywood: Cary-Hiroyuki Tagawa e James Hong.

Genghis Khan Conquers the Moon (2015)

The Brain Hack (2015)

Escrito e dirigido por Joseph White. Um cara descobre uma correlação entre as teofanias religiosas e a área do cérebro responsável pela visão. Ele acredita que é possível induzir uma "visão de Deus" ou iluminação produzindo um filme com certa sequência de imagens. Segundo a sinopse oficial, é um "thriller metafórico para a geração digital". No fim a história ganha um ar metalinguístico, já que o filme produzido pelo personagem é mostrado para nós que vemos o curta.

The Brain Hack (2015)

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O mundo mental

Left-right brain

Um dia você acorda motivado. Outro dia, desanimado. Este é o problema dos sentimentos, tão inconstantes, tão imprevisíveis. Não é algo que se possa dominar. Diferente da razão. Esta a gente ativa quando quer, ou direciona. 

Se tenho diante de mim um cálculo, posso imediatamente usar a razão para calcular. Claro que a razão também é aleatória. Quando dizem "Pense em algo", nós nem sempre escolhemos conscientemente o em que pensar. O algo vem à mente às vezes de forma randômica. 

A não ser que a razão receba uma direção. Se me dizem "Pense numa porta", levo minha razão a buscar uma imagem mental de porta. A imagem está num depósito caótico na memória, e há várias delas, mas pelo menos a razão se deu ao trabalho consciente de buscar uma.

No sonho a razão é mera coadjuvante. O subconsciente reina e cria tudo. É a imaginação em todo seu potencial. A razão só ocasionalmente dá o ar da graça, como quando estamos sonhando e nos perguntamos se estamos sonhando, então a razão começa a investigar e acordamos, justamente porque é a razão que reina enquanto estamos acordados. É o seu habitat.

A razão não é uma consciência. Não é um ser. Mesmo alguém totalmente desprovido de razão continua sendo um ser. Mesmo dormindo e sob total controle do subconsciente. A razão é uma ferramenta. É o trabalhador braçal da mente, o operário, o empregado. É com ela que conseguimos fazer as coisas cotidianas que precisamos para viver. Trabalhar, comprar comida, cuidar da saúde, resolver problemas.

Daí, talvez, ser ela supervalorizada. Porque é ela quem nos permite buscar a satisfação de nossas necessidades. Amar a razão é como amar a colher que leva a comida à boca. E como ela é serva, a amamos porque pode ser dominada, usada à vontade. A razão está à mercê da vontade.

A imaginação, a intuição, a paixão, enfim, toda esta vida interior que faz parte do mundo submarino da mente, é que é a força mais incontrolável em nós. Elas não são instrumentos nem servos de nossa vontade. Pelo contrário, parece que elas têm vontade própria, e muitas vezes vontades conflitantes. Não é à toa que às vezes, movida por paixões, uma pessoa se vê desejando duas coisas antagônicas, resultando na indecisão.

Quanto à emoção, vista como um par oposto da razão, como positivo e negativo, não passa também de mais uma ferramenta. Mas a emoção é instável e tão volúvel que pode ser manipulada por quaisquer influências. 

Um ator, precisando sentir tristeza ou alegria em uma cena, consegue muitas vezes direcionar suas emoções por meio da vontade. Ele recorre primeiro à razão para buscar uma força, um vento que sopre e mova a emoção na direção desejada. 

Uma pessoa pode facilmente manipular as emoções de outra. Para deixá-la com raiva, basta provocar de forma adequada, atingindo o ponto fraco, aquilo que geralmente produz irritação. Para fazê-la rir, pode contar boas piadas. Para despertar a lágrima, pode contar uma história triste. 

E mesmo o ambiente, o clima, os hormônios, a saúde ou doença, o cansaço e a fome ou a saciedade, tudo isto pode manipular as emoções. O hipotireoidismo costuma provocar sensações inexplicáveis de tristeza, tristeza sem um motivo. O transtorno bipolar pode trazer momentos súbitos de euforia. Drogas podem provocar alegria, relaxamento, ira ou depressão. E isto varia conforme a predisposição orgânica de cada um, daí, por exemplo, haver pessoas que, embriagadas, podem se tornar choronas ou briguentas ou ficar muito alegres.

E assim é nosso mundo mental, como um oceano misterioso. Sob a fina superfície deste oceano sopra a brisa da vontade. E navegam nesta superfície os barcos da razão e da emoção. A vontade consegue guiá-las na calmaria e a vontade forte pode ser como um ciclone a impelir com força a razão e a emoção. 

Mas o oceano é mais profundo. Vontade, razão e emoção ocupam apenas a superfície tênue deste mundo. O oceano, por sua vez, é uma imensidão desconhecida, volumosa, densa e escura nas regiões abissais onde não penetra a luz da consciência. O oceano tem uma força monstruosa e, quando se agita, destroça os barcos e é impossível enfrentá-lo.

O oceano é composto por toda a massa disforme do nosso subconsciente. A intuição e a imaginação fazem parte disto. Quando dormimos ou perdemos o controle da consciência, mergulhamos nesta profundeza e a correnteza subaquática nos leva. Nos leva para o sonho, para o insight, para a epifania, para experiências mentais não possíveis enquanto estamos despertos. 

Estas experiências mentais não ocorrem apenas no sonho, mas em toda ocasião de saída da consciência, como a alucinação, o estado de coma ou as experiências religiosas de êxtase ou transe durante meditação etc. 

Mesmo quando estamos acordados o subconsciente continua de alguma forma ativo, ou melhor, passivo, alimentando-se, recebendo conteúdo. É assim que funciona a mensagem subliminar. Ela envia informações que serão absorvidas pelo subconsciente. 

É assim que funciona a sugestão. Pais que vivem dizendo para a criança "Você não faz nada certo", estão alimentando seu subconsciente com estas ideias de modo que esta criança pode seguir por toda a vida com a ideia fixa de que é uma pessoa desastrada sem se dar conta que isto foi algo implantado em si.

Interessante é que o abismo do subconsciente não é, como se costuma julgar, uma besta irracional, um ogro que só tem força e sem inteligência. Pelo contrário. O subconsciente tem um impressionante poder de acesso ao acervo intelectual da nossa mente. Em sonhos podemos lembrar de coisas que vimos há décadas e que, enquanto conscientes, jamais conseguimos recordar. Daí o uso de hipnose para despertar lembranças esquecidas.

Foi sonhando que o químico Kekulé visualizou a molécula do benzeno, que ele havia buscado em vão durante anos de pesquisa. Foi no relaxamento da banheira que Arquimedes fez a descoberta que o levou a correr nu pelas ruas gritando Eureka!

E costumamos pensar que vivemos enquanto estamos acordados e, quando vamos dormir, é um intervalo da vida. Será que não é o contrário? No sono e no sonho a maior parte de nossa mente está viva, a parte mais poderosa. Quando acordamos, o subconsciente adormece, mas permanece em uma atividade silenciosa, nos guiando secretamente. E aqui estou eu escrevendo, usando a razão, neste intervalo da vida que se chama estar acordado.

Os curtas do canal Dust, pt 2

Como já falei em outro post (aqui), descobri há pouco este canal de curtas e estou fascinado com a quantidade e qualidade dos filmes. E aqui vão mais algumas curtas resenhas:

Link do canal:

Perfectly Natural (2018)

De todos os curtas citados aqui, este é de longe meu preferido. Escrito por Sam Hobson e dirigido por Victor Alonso-Berbel, tem aquele tom Black Mirror de um futuro sinistro e ainda assim plausível. Há uma tecnologia de babá virtual que vira moda e um casal resolve usar no bebê. Ele fica plugado em uma máquina e é criado por essa babá enquanto seus pais biológicos estão ocupados trabalhando. A figura virtual vira praticamente uma mãe real para o bebê, faz companhia, ensina, e a coisa chega a um ponto perigoso em que a máquina se considera a mãe verdadeira da criança.

Bom, nas décadas passadas, as crianças foram "criadas" pela televisão, depois veio a internet e o smartphone e as redes sociais que fazem mais companhia às crianças do que muitos de seus pais, então parece que o próximo nível dessa participação da tecnologia na criação infantil será uma realidade virtual e inteligências artificiais como babás, sim.

Perfectly Natural (2018)

Hybrids (2013)

Escrito e dirigido por Patrick Kalyn, que tem uma longa experiência na área de efeitos visuais, tendo trabalhado em Eru, Robô, Blade, King Kong, X-Men e até Blade Runner 2049. Bom, quanto a este curta, ele deve ter feito mais por diversão porque é só uma historinha clichê de uma personagem badass matando aliens invasores.

Hybrids (2013)

Hybrids (2013)

Singularity (2015)

Outro cara com experiência em efeitos especiais que resolveu fazer um curta. Samuel Jorgensen já trabalhou em MiB 3, Thor, Homem-Formiga, entre outros. Neste filme, também clichezinho, vemos uma batalha entre humanos e androides e uma força especial tenta resgatar o presidente dos Estados Unidos.

Singularity (2015)

Singularity (2015)

Rise (2016)

Dirigido por David Karlak. É a história de uma guerra entre humanos e robôs humanoides. Nada de novo até aí. De toda forma, para um curta é uma produção bem caprichada. Possui uma ambientação em CGI bem feita e uma grande quantidade de atores, entre eles o falecido Anton Yelchin (o Chekon de Star Trek), bem como Rufus Sewell, Kerry Bishé, entre outros. Há um projeto para tornar este curta um filme longa-metragem.

Rise (2016)

Rise (2016)

Rise (2016)

The Stowaway (2014)

Escrito e dirigido por Rpin Suwannath. Aborda em uma situação futurista um clássico dilema ético. Uma garota entra clandestinamente em uma pequena nave destinada a levar ajuda médica a um grupo de pessoas em outro planeta. Acontece que o combustível da nave não foi calculado levando em conta esse peso extra e se a garota não sair a nave não chegará a seu destino. A fim de salvar um grupo de pessoas, a garota tem que ser ejetada da nave.

The Stowaway (2014)

Dédalo (2013)

Dirigido por Jerónimo Rocha. Bem no estilo clássico de Alien, uma tripulante de uma nave tenta sobreviver se escondendo de monstros alienígenas. Bom, o visual do monstro não é grande coisa. Fica na cara que é uma pessoa fantasiada. Mas o clima de suspense e as caras de pavor da atriz valem o filme.

Dédalo (2013)

Dédalo (2013)

Good Business (2017)

Dirigido por Ray Sullivan. Mostra humanos negociando armas com uns aliens que parecem crustáceos gigantes. É bem zoado.

Good Business (2017)

Good Business (2017)

Traveler (2015)

Escrito e dirigido por Simon Brown. Um cara inventa um carro que viaja no tempo e a namorada dele testa o troço e consegue fazer o salto temporal, mas pelo visto o futuro não é lá tão amistoso, porque ela volta sendo perseguida por algum guerreiro do futuro.

Traveler (2015)

R'ha (2013)

Escrito e dirigido por Kaleb Lechowski. Um alien é torturado e interrogado por uma máquina por causa de uma guerra entre os aliens e as máquinas. É bem clichê e o final mais ainda, mas o conceito visual é legal.

R'ha (2013)

R'ha (2013)

The Human Equation (2016)

Escrito e dirigido por Eitan Gafny. Um homem e uma mulher se encontram nus no deserto, possuem tatuagens de código de barras e no fim são caçados. É um esboço bem clichê e a performance dos atores não colabora. Não à toa esse curta tem muitos dislikes no canal.

The Human Equation (2016)

The Ocean Maker (2014)

Escrito e dirigido por Lucas Martell. É uma animação digital sobre um mundo desértico onde a água é coletada nas nuvens por aviões de piratas e uma garota possui uma fórmula para produzir chuva. O cenário ficou realmente bem desenhado.

The Ocean Maker (2014)

The Ocean Maker (2014)

The Ocean Maker (2014)

Planet Unknown (2016)

Escrito e dirigido por Shawn Wang. Dois robozinhos estilo Wall-E são enviados a um planeta em busca de condições adequadas para a vida e passam por loucas aventuras da pesada. É interessante que nos comentários muitas pessoas acham que o planeta é a Terra primitiva, pois no final aparece uma lua com textura semelhante à nossa, mas os robôs, além de serem produto humano, possuem inscrições em inglês, o que indica que de fato trata-se de uma civilização terrestre atual e aquela lua é simplesmente uma "falha" de design, os designers não tiveram a criatividade de fazer uma textura diferente para uma lua alienígena, ou fizeram de propósito só pra criar esse equívoco.

Planet Unknown (2016)

Planet Unknown (2016)

Planet Unknown (2016)

Planet Unknown (2016)

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Jargões, gírias e bordões

Tenho esse negócio de ficar notando certas expressões viciadas que as pessoas usam, os tais jargões. Eles muitas vezes identificam um grupo, uma turma, uma tribo urbana, uma modinha, até uma faixa etária. Ultimamente esse troço de "lacrar" foi um jargão usado e abusado nas redes sociais.

Originalmente era uma gíria entre os gays e transexuais meio que sinônimo de "abalar", "dar um show". "Você lacrou com esse vestido, amiga!". Mas aí a turma dos justiceiros sociais adotou o termo pra premiar com uma estrelinha quem fez ou falou algo adequado à sua tabela de méritos. "Vi seu post sobre representatividade no cinema. Lacra mais!".

Existem certas palavras específicas que são preferidas de determinados grupos, jargões de estimação. E não raro é comum a palavra se tornar uma espécie de credencial de uma profissão ou atividade. Por exemplo, todo mundo nota que jogadores de futebol usam os mesmos jargões quando dão suas entrevistas. Talvez o mais comum seja a expressão "dentro de campo" ou, para os íntimos, "dendicampo". Quase sempre terminam uma frase assim. "Ah a gente se esforçou e treinou bastante e num sei que num sei que lá pro bom resultado dendicampo".

Críticos (e palpiteiros) de cinema adoram falar da "quarta parede". Alguns soltam esse termo como se fossem guardiões de um conhecimento oculto, esotérico, que só os críticos de cinema dominam, como se entender a quarta parede fosse um privilégio de iluminados ou um sinal de profundo conhecimento técnico.

Aí tem os vlogueiros de games (que gostam de se nomear "criadores de conteúdo", sendo que quem criou o conteúdo mesmo foram os designers e programadores dos jogos, enquanto os vlogueiros apenas jogam) que, ao fazer a análise de um jogo, gostam de soltar um "mecânica do jogo". Meu amigo, se eu falo em "mecânica do jogo" é certeza que vou soar como um entendido da coisa. "Ah, o que você achou do jogo tal?", "Bom, eu acho que a mecânica do jogo é bem interessante porque o jogo tem uma mecânica inovadora, diferente da mecânica dos outros jogos porque a mecânica da mecânica...".

Também pode ser considerado um jargão a saudação padrão que muitos desses vlogueiros usam no início de todos os vídeos: "E aí, galerinha". Tem uns mais originais que tentam criar variantes como "olá, pessoas" (e a versão estendida "olá, pessoas do planeta Terra") ou "hey, guys", mas se tem várias pessoas fazendo a mesma coisa, então já não é mais original. Entre as vlogueiras de moda essa saudação assume a forma "Oi, meninas".

A palavra queridinha dos advogados e juristas em geral é "celeridade". Pode observar. "Vamos dar celeridade ao processo". O cara podia ter dito "vamos acelerar o processo", "vamos dar rapidez ao processo", "vamos realizar o processo o quanto antes", mas sempre prefere usar essa palavra que ninguém usa no dia a dia. "Celeridade!".

Os críticos de softwares gostam de "responsivo". Quando você quer falar bem de uma nova versão de um sistema operacional, de um aplicativo qualquer, basta soltar um "o sistema é bastante responsivo". Pronto, não precisa dizer mais nada. Se é responsivo é garantido.

Apresentadores de telejornal e outros programas de TV costumam terminar dizendo "o programa tal vai ficando por aqui" e fazem o convite para assistir a próxima apresentação com um "eu espero você". Também surgiram vários jargões para marcar a entrada dos comerciais. O Jô Soares consagrou o "daqui a pouco a gente volta". O Ratinho e alguns outros falavam "vamos faturar". O Chacrinha transformou seu bordão de anúncio do comercial em música: "Roda, roda, roda e avisa um minuto pro comerciaaal". 

O Chacrinha, aliás, criou várias expressões típicas dele, o que já não é jargão, mas bordão. O bordão é a expressão viciada de determinado indivíduo e não de um grupo, é uma marca pessoal, um jeito próprio de falar e um sinal de criatividade, pois, diferente do jargão, que faz você se parecer com várias outras pessoas que usam o mesmo termo, o bordão faz você ser único (pelo menos o criador do bordão, porque depois as pessoas começam a imitar e vira um jargão).

Os curtas do canal Dust

Se você acha que o Youtube só tem vlogueiros, clipes e memes, precisa conhecer o canal Dust. Conheci recentemente e fiquei fascinado com a grande quantidade de conteúdo e de boa qualidade. São curtas produzidos por artistas iniciantes e que chamam atenção logo de cara pelo visual. É um sci-fi que não fica atrás da qualidade gráfica de alguns filmes e séries de grandes produtoras.

Link do canal:
https://www.youtube.com/channel/UC7sDT8jZ76VLV1u__krUutA

Eis alguns que já assisti:

Lunatique (2016)

Escrito e dirigido por Gabriel Kalim Mucci, conta com apenas uma personagem que sobrevive em um mundo pós-apocalíptico e acaba enfrentando uma criatura mutante. É uma história bem simples e que quebra o paradigma do final feliz.

Lunatique (2016)

Lunatique (2016)

Hyperlight (2018)

Dirigido por Nguyen-Anh Nguyen e escrito por Nicolas Billon, explora a ideia de paradoxo provocado pela viagem no tempo e o fato de pessoas encontrarem suas "cópias" de outro tempo. 

Hyperlight (2018)

FTL (2017)

Escrito e dirigido por Adam Stern (que não é tão iniciante no cinema, já que tem uma longa carreira com efeitos visuais em vários filmes), mostra a primeira missão tripulada em uma nave capaz de viajar à velocidade da luz. Por acidente ela acaba indo mais longe do que o esperado e é abduzida por uma nave alienígena. Nota-se ao fundo o que parece uma Esfera de Dyson, indicando que trata-se de uma avançadíssima civilização. Eles simplesmente levam o humano de volta à Terra, o que pra eles deve ser facinho de fazer. Os efeitos visuais são impecáveis.

FTL (2017)

FTL (2017)

Seam (2017)

Dirigido por Elan Dassani e Rajeev Dassani, é o filme mais popular do canal. Há uma trégua entre humanos e robôs, mas ainda restaram robôs humanoides vivendo nas cidades humanas como resquícios da antiga guerra. São chamados de sleepers e o objetivo era serem armas suicidas que explodem. Quando um destes sleepers é descoberto, começa uma caçada e o filme basicamente é uma cena de perseguição. A produção é bem caprichada e tem uma grande quantidade de atores para um curta, mas confesso que não me chamou muita atenção.

Seam (2017)

White Lily (2018)

Esse eu gostei bastante. Com roteiro de Adrian Reynolds e dirigido por Tristan Ofield, mostra um casal viajando no espaço para explorar de perto um cometa, obviamente motivados pela rica recompensa que terão na volta à Terra.

Bom, o casal na verdade é um humano e um holograma, uma IA programada para simular a aparência e as memórias da falecida esposa do cara. Em certo momento ela começa a bugar e tem que ser resetada, o que de certa forma é como matar aquela personalidade e suas memórias. Com as funções de fala comprometidas, a IA diz, antes do reset: [Sujeito] [verbo] [objeto], ou seja, subentende-se que ela diria "Eu te amo".

O curioso nessa história, então, é que mostra a complexidade e profundidade que um dia pode haver no relacionamento entre humanos e máquinas, pois o acúmulo de memórias e a convivência entre o humano e um holograma acabaram que criar um real laço afetivo, mas que também pode ser destruído facilmente por causa de um simples bug.

White Lily (2018)

White Lily (2018)

The New Politics (2016)

Escrita e dirigida por Joshua Wong, a história se passa em 2056. As duas potências do mundo iniciam uma guerra, mas a maneira de realizar a disputa é bem diferente do tradicional. São recrutadas duas campeãs para lutar em uma arena e... bem, não vou estragar a surpresa.

The New Politics (2016)

Grounded (2011)

Escrito e dirigido por Kevin Margo, possui uma história intrigante. Um astronauta cai em um planeta, mas logo se depara com um "clone" seu e outros vão aparecendo e até mesmo encontra uma versão sua mais velha que está vivendo naquele lugar. É o paradoxo da viagem no tempo provocada pela velocidade da luz, de modo que a queda do astronauta acontece em loop e várias versões suas vão surgindo.

Grounded (2011)

Telescope (2013)

Dirigido por Collin Davis e escrito por Eric Bodge. Um arqueólogo espacial de uma civilização futura que já vive fora da Terra está a explorar uma nebulosa quando decide nostalgicamente visitar a Terra no passado, antes de ter se tornado inóspita. Assim, viajando à velocidade da luz, ele consegue retornar ao berço de sua civilização.

Telescope (2013)

Telescope (2013)

Dr. Easy (2013)

Dirigido e escrito por Jason Groves, é uma breve história que simplesmente acompanha a performance de um robô médico que visita uma casa para tentar salvar um suicida. O interessante é que esse curta foge do clichê da ficção científica que costuma mostrar robôs como uma ameaça. O robô médico é paciente, cauteloso e empático, tratando o suicida com muito cuidado. Também fica nas entrelinhas uma impressão de que o robô realmente tem sentimentos e se mostra frustrado quando não consegue salvar o homem.

Dr. Easy (2013)

Dr. Easy (2013)

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