TV a cabo foi, para mim, durante a infância e juventude, como caviar: nunca comi, mas só ouço falar. Lá nos anos 90, era um luxo ter TV a cabo e nem lembro se conheci alguém que tivesse. Por outro lado, as antenas parabólicas estavam se tornando coisa comum e foi assim que tive acesso a canais diferentes daquele padrão Globo-SBT-Band, etc.
Como um nerdão que era, lembro que um de meus canais preferidos era o Futura, mas foi também pela parabólica que conheci a Record que na época tinha ótimos programas infantis. Aliás, a TV em geral tinha muitos e bons programas infantis até o início dos anos 2000 e isto é algo que a TV perdeu misteriosamente. RIP TV Globinho.
Nunca procurei saber a fundo o motivo deste expurgo dos canais infantis, mas se não me engano a culpa, como sempre, foi dos políticos. Devido ao rigor e à burocracia em cima da publicidade infantil, ficou cada vez mais difícil para os canais veicular programação para crianças, uma vez que se tornou impossível exibir publicidade para este nicho. A superproteção do Estado acabou privando as crianças do entretenimento.
Ora, até hoje lembro de jingles que passavam na TV no meu tempo de criança, como a música do Bubbaloo ("Olha só o que chegou/ Bubbaloo melancia..."). Aí os políticos acharam que criança não devia ver propaganda e os desenhos animados foram trocados por programas de culinária para as donas de casa.
Anyway, eu cheguei a ter um gostinho de programação da TV a cabo porque ocasionalmente alguns canais abriam o sinal para a parabólica, e assim pude assistir aos clipes malucos da MTV de vez em quando.
Quando cheguei à vida adulta, TV a cabo já não tinha mais aquele tchan, já era um serviço em decadência por causa da internet e caiu mais ainda com o surgimento do império Netflix. Mesmo assim, só por curiosidade, teve uma vez que resolvi assinar um serviço.
Foi em 2014, já numa época em que a Netflix estava em alta. Acho que o que me motivou a assinar foi apenas a curiosidade mesmo, já que era algo que nunca provei antes. Confesso que gostei e a programação dos canais realmente superava a TV aberta, principalmente na oferta de filmes e documentários.
Alguns canais exibiam filmes o dia inteiro, mas o que encontrei de melhor lá foi que conheci algumas pérolas da animação, como Adventure Time, Steven Universe, o psicodélico Titio Avô, o brasileiro O Irmão do Jorel, os Teen Titans. Também os documentários da Discovery me agradavam.
Na época eu tinha um plano de internet sofrível, de modo que nem podia pensar na possibilidade de assinar Netflix, muito menos de ficar assistindo filmes via streaming com frequência. Só com a TV a cabo mesmo eu poderia ter uma oferta de filmes todos os dias sem problemas. Então, para a época, foi algo que me serviu.
Até que comecei a ter problemas, alguns canais sumiram, a recepção começou a ficar ruim e entrei em contato com o suporte técnico que de suporte não fez nada. Aí peguei abuso pelo serviço, pois vi que na hora que precisava eles eram péssimos em atender. No final do mesmo ano cancelei.
A verdade é que eu cancelaria cedo ou tarde, assim que conseguisse uma internet melhor pra poder aderir de vez ao streaming. Matei a curiosidade quanto à TV a cabo e é certo que é algo que nunca mais vou assinar de novo. Este serviço ficou no século passado e realmente não faz mais sentido hoje em dia.
Ok, ainda tem suas vantagens. Para quem é fã de certos tipos específicos de programação, como a esportiva, como canais de notícias e algumas séries que passam primeiro em certos canais, a TV a cabo ainda compensa. Inclusive foi assim que acompanhei The Walking Dead no canal da Fox no mesmo dia do lançamento de cada episódio naquele ano.
Uma curiosa "vantagem" é o automatismo. Tá certo que em sites de streaming você pode deixar uma série rodando ininterrupta, mas o streaming é uma coisa mais individual. Você vai escolhendo sua programação, o que é ótimo. É curioso, porém, que às vezes há um prazer em simplesmente ligar a TV e deixar que passe o que quer que esteja passando, uma programação que não foi você que escolheu. É uma espécie de comodismo.
De toda forma, pra mim a experiência bastou por um ano e nunca mais me interessou. Agora já sou um full adepto do streaming, tanto que ultimamente cheguei ao ponto de assinar três canais (Netflix, Amazon e HBO Max) e pagando muuuito menos do que a abusiva mensalidade que a TV a cabo cobrava.
Isso era algo que me incomodava nesse serviço. Você aluga um receptor. O contrato deixa claro que ele não é seu e que você nem mesmo pode mudar o receptor de lugar na casa sem chamar um técnico. É um estado de dependência e controle que me desagradava. Tão diferente do streaming que você assiste em qualquer aparelho e não tem toda essa putaria de recorrer a assistência técnica.
Sem contar a burocracia. Para assinar um streaming, tudo o que você precisa é de um email e um cartão de crédito (em alguns casos nem isso). Eu lembro da aperriação que foi assinar essa bendita TV a cabo, com atendentes me ligando pra pedir um monte de documentos e dados pessoais. É um negócio bem invasivo e parece até que você tem que provar que merece ter aquele serviço.
Enfim, foi destas coisas que a gente experimenta um dia pra conhecer e que depois não tem o menor interesse em voltar a ter.
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