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Boomers, millennials e alfas unidos em A Guerra do Amanhã

The Tomorrow War (2021)

A Netflix ultimamente tem investido em filmes de ação para engordar seu catálogo, criando um acervo Sessão da Tarde (aqueles filmes pra deixar passando na TV da sala). Só que a maioria destes filmes é bem fraquinha, como é o caso de The Old Guard¹, Extraction² e até o Esquadrão 6³, que mesmo tendo o selo Michael Bay de ação, só impressiona nos primeiros quinze minutos, depois perde a graça. Um dos mais recentes, Awake é um dos mais tediosos filmes apocalípticos que já vi.

Agora a Amazon Prime está entrando nessa de filmes de ação e já chegou mostrando pra Netflix como se faz. The Tomorrow War (2021) é produzido pela Paramount, um studio que tem experiência em filmes de ação. Na verdade o longa foi feito pela Paramount para o cinema, mas com o lançamento interrompido no peculiar ano de 2020, a distribuição ficou por conta da Amazon no streaming.

No começo a história não parece muito séria. Um grupo de pessoas surge em um portal no meio de uma partida de futebol, uma porta-voz explica que vieram do futuro (2051) e precisam recrutar pessoas da era atual (2022) para ajudar na luta contra os aliens. No futuro só restaram 500 milhões de humanos e o número segue caindo.

O filme não perde tempo em mostrar a reação do mundo, especialmente das autoridades, diante deste contato imediato com viajantes do tempo. Só mostra que logo o recrutamento se tornou normal e todo dia pessoas estavam sendo levadas para o futuro, inclusive civis, a fim de ajudar nesta guerra desesperada. 

Me incomodou o fato do dispositivo de teleporte implantado nos recrutas ser um bracelete. Faria mais sentido ser um cinto ou qualquer coisa ligada ao tronco. Ora, no caso de uma pessoa ter o braço amputado, ela teria chances de continuar viva, mas estaria incapacitada de voltar para seu tempo. Cada recruta fica sete dias em batalha, voltando automaticamente para 2022, caso sobreviva até o final.

Também o tempo de treinamento foi problemático. Os recrutas, mesmo civis totalmente despreparados e que nunca seguraram uma arma, são treinados em apenas sete dias. Se aquelas pessoas conseguiram voltar trinta anos no passado, por que não teriam um tempo maior para treinar os recrutas?

Mas ok, há uma explicação tecnológica para essa urgência, pois a viagem no tempo ainda estava em fase de testes e eles só conseguiram estabelecer este link específico de tempo entre 2051 e 2022. Isto cria uma situação de urgência ideal para um filme de ação. Também a cena em que o protagonista chega pela primeira vez no futuro é claramente inspirada nos games battle royale, com a galera caindo do céu e já tendo que pegar em armas e se virar num campo de batalha com inimigos desconhecidos.

É interessante como o portal do tempo é apresentado como uma coisa assustadora, afinal é uma tecnologia experimental. As pessoas são cercadas por uma tempestade elétrica e sugadas por um buraco de minhoca. Uma experiência bem diferente do elegante e tranquilo teleporte de Star Trek.

The Tomorrow War (2021)
A cena mais engraçada do filme.

O roteiro é bem costurado e consegue desenvolver duas tramas, como se fossem dois filmes. Na primeira parte, a trama consiste na viagem de Dan Forester (Chris Pratt) para o futuro, enfrentando os monstros e capturando uma fêmea para estudo, sendo então desenvolvida uma toxina que pode matar os aliens. 

Como Dan encontra sua filha no futuro, já adulta, acontece um drama familiar, pois ela alega que fora abandonada pelo pai ainda na infância. Aí temos uma das pegadinhas em histórias com viagem no tempo. O Dan que abandonou sua filha era o mesmo que a encontrou depois já adulta, trazido do passado, ou a viagem no tempo criou diferentes timelines e universos paralelos?

De toda forma, o nosso Dan, protagonista da história, quis consertar este erro que ele sequer havia cometido ainda, tentando reatar os laços com a filha. No momento do clímax, quando há uma invasão dos bichos, Emmy está prestes a morrer, despencando em cima de uma horda deles, então Dan se lança na direção dela num gesto de sacrifício. Ambos ali deveriam morrer, mas pelo menos ele não a abandonou e a catarse entre pai e filha se realiza. Como o timer do bracelete zerou naquele exato momento, Dan é teleportado de volta ao passado, escapando da morte. Aí a história recomeça.

Então vem a segunda parte, como um novo filme com uma nova trama. Agora, em vez de voltar ao futuro para continuar lutando naquela guerra, ele descobre que os monstros estavam congelados há séculos em uma montanha na Rússia e que em 2051 não houve uma invasão do espaço e sim o descongelamento daquela montanha que libertou as criaturas ali dormentes. Eram aliens, mas chegaram aqui num passado distante.

A nova missão, então, é matar os bichos antes que descongelem. E agora ele tem a toxina pronta para usar contra eles. Enquanto na primeira parte o drama familiar se passa entre Dan e sua filha, na segunda será entre Dan e seu pai, James (J. K. Simmons), um velho rabugento e recluso que abandonou toda a família. Novamente uma catarse de religamento. Primeiro Dan se religou à filha, agora ao pai.

Toda a história, portanto, aborda uma relação entre gerações. James representa os boomers. Até suas piadas fazem referências a celebridades conhecidas só pelos boomers, como Stevie Nicks e Julia Child (eu tive de ir no Google pra saber quem eram). O boomer é mais grosseiro, mais rude com a família, porém é focado e durão. James não hesita em ajudar na luta contra os aliens, quando a presença dele se faz necessária.

J.K. Simmons; The Tomorrow War (2021)
J. K. Simmons como o boomer badass.

Dan é a geração millennial. Já no início se vê que ele enfrenta um dos problemas típicos dos millennials, que é conseguir emprego. Diferente dos boomers, é mais afetuoso e preocupado com a família e guarda esse ressentimento quanto à rudeza dos boomers

Curiosamente, a maioria dos recrutas para a guerra eram millennials por um motivo técnico. Eles não eram ainda velhos e estavam fisicamente capazes de lutar, mas em 2051 já estavam registrados como mortos. Ou seja, recrutaram pessoas que já não existiam em 2051 simplesmente para evitar possíveis paradoxos temporais caso uma pessoa encontrasse a sua versão mais velha ainda viva.

Emmy, por sua vez, filha de Dan, representa a geração alfa, as crianças que estão nascendo agora na década de 2020. Obviamente não podemos ainda descrever quais serão as características desta geração, mas no filme vemos que são jovens que cresceram em um  mundo em crise, mais ainda, um mundo em extinção. Esta geração vai precisar da ajuda dos millennials e dos boomers para sobreviver.

The Tomorrow War (2021)
A catarse entre o pai boomer e o filho millennial.

Dramas à parte, temos um bom filme de ação com efeitos especiais decentes. O Chris Pratt já está estabelecido como um ator que mistura ação e comédia (desde Guardiões da Galáxia e Jurassic World). Ele é o brucutu desta geração, um brucutu que tem um lado cômico, mas que também convence como badass.

Os aliens não têm uma grande lore ou personalidade. São feras brutas e só o que se sabe é que devem ter sido projetadas por aliens inteligentes para devastar mundos, ou seja, são armas biológicas. Eles parecem grandes cachorros com tentáculos, garras e carapaças e são de fato assustadores.

The Tomorrow War (2021)
O cachorro do capeta.

Notas:


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