Seth Rogen, ator e humorista canadense, conhecido em filmes como Donnie Darko (2001) e Funny People (2009), resolveu ser multitarefa dirigindo o The Interview (2014), onde também foi ator protagonista, produtor e roteirista!
Filmes satirizando líderes políticos, especialmente ditadores, já existem desde as primeiras décadas do cinema. O maior exemplo é O Grande Ditador (1940), de Chaplin, evidentemente visando Adolf Hitler. Outro exemplo é Hot Shots! (1991), protagonizado por Charlie Sheen, que usa um humor bastante debochado e surreal para brincar com a figura de Saddam Husseim.
Agora em A Entrevista o alvo é o líder norte-coreano Kim Jong-un. Numa história simples e direta, dois jornalistas sensacionalistas conseguem uma entrevista com o líder e se envolvem em um plano da CIA para matá-lo. Com muitos palavrões, piadas eróticas e besteirol escatológico, o filme rebaixa o ditador de figura divina a um homem louco, ridículo e comum. Até aí nada de mais.
Não se pode dizer que este longa é escandaloso, não nos padrões ocidentais, pois políticos sempre têm sido alvo de deboche na mídia em diversas ocasiões. Claro que num país que tem fama de estar fechado para o mundo e com uma forte propaganda que praticamente diviniza o líder da nação, um filme que tão diretamente se dirige a Kim Jong-un, sem rodeios, sem sequer mudar seu nome para algum personagem fictício, há de provocar desagrado.
A reação mais notável se deu na forma de ataques hacker à Sony Pictures, vazando conteúdos como roteiros de filmes ainda não lançados e até mesmo dados pessoais de milhares de funcionários, o que levou a empresa a adiar o lançamento do filme e até mesmo informar que o lançamento seria cancelado.
Todo este imbróglio teve grande repercussão na mídia. Atores, jornalistas, ativistas da liberdade de imprensa comentaram o caso; o escritor Paulo Coelho chegou a falar no Twitter que oferecia 100 mil dólares para comprar os direitos do filme e distribuí-lo de graça em seu site.
Até o presidente Barack Obama deu seu parecer, afirmando: "Não podemos viver em uma sociedade em que um ditador de algum lugar imponha censura aos Estados Unidos. Se eles estão fazendo isso com um filme satírico, imagine o que eles não farão quando tiver um documentário ou um noticiário que eles não gostem?".
Mas enfim, após esta tensão e a despeito das ameaças de terrorismo do grupo hacker que se intitulou Guardians of Peace, a Sony disponibilizou o filme em diversos meios virtuais, incluindo o Youtube, e depois conseguiu lançar nas salas de cinema.
O curioso é que há mais a se falar sobre este contexto em que o filme se envolveu do que do filme em si. A Entrevista não é tão ousado, em se tratando de sátira, e nada tem de especial, em se tratando de cinema. É a sua repercussão diplomática que chama atenção, pois por causa dele a Coréia do Norte e os Estados Unidos aumentaram a troca de farpas, a tal ponto que em um dos pronunciamentos, a Coréia do Norte chamou Obama de "macaco" e em represália os Estados Unidos derrubaram a internet da Coréia do Norte por algumas horas!
Enfim, a história da história, a trama que se desenvolveu por causa do filme é que acabou lhe dando grande popularidade; os ataques hacker, os contra-ataques de outros hackers, as trocas de críticas entre os governos coreano e estadunidense, as entrevistas, reportagens, comentários que em resumo têm a ver com uma questão: a democrática liberdade de expressão.
Também é interessante observar que A Entrevista na verdade não critica apenas o governo norte-coreano. Em certos momentos, também os Estados Unidos recebem indiretamente sua parcela de culpa, por praticar sanções contra a Coréia do Norte, por criticar programas nucleares, mas manter as suas próprias bombas, etc.
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