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A Vida Imortal de Henrietta Lacks

Henrietta Lacks

Médicos descobrem uma pessoa cujas células têm um incrível poder de reprodução, formando um organismo praticamente imortal. Estas células são extraídas para estudo e desde então passam a ser cultivadas em laboratórios no mundo inteiro.

Parece um tema de ficção, uma história do Wolverine ou de teoria conspiratória, mas Henrietta Lacks realmente existiu, bem como suas células anômalas, conforme explicado no livro A Vida Imortal de Henrietta Lacks, de Rebecca Skloot (2009).

Mas ela não era exatamente uma "mulher imortal". Aos 30 anos, Henrietta Lacks (1920-1951), descendente de escravos e que trabalhava nos campos de tabaco nos EUA, foi diagnosticada com um tumor e uma amostra de células foi retirada para análise no Johns Hopkins Hospital.

Até aí temos só mais um caso rotineiro de biópsia, mas neste hospital havia um pesquisador que há anos procurava uma maneira de cultivar células humanas com eficiência, George Otto Gey (1899-1970). Visionário, ele entendeu que células cancerígenas, devido à sua rápida reprodução, poderiam ser ideais para este tipo de pesquisa e passou a cultivar aquelas extraídas de Henrietta.

Observou-se então a impressionante capacidade de reprodução destas células, bem mais rápida do que a de células humanas normais, o que faz delas uma espécie de organismo imortal, se mantido em devidas condições no laboratório. Estas células ganharam o nome de HeLa.

Henrietta Lacks faleceu devido ao câncer, mas aquelas células continuaram a ser cultivadas e distribuídas para vários laboratórios no mundo. Foi a partir delas que Jonas Salk (1914-1955) produziu uma vacina contra a poliomielite. Foram enviadas ao espaço para experimento sob a gravidade zero. São usadas para pesquisas sobre câncer, AIDS, efeitos da radiação e substâncias tóxicas, mapeamento genético, etc. 

Segundo Rebecca Skloot, "mais de 60 mil artigos científicos foram publicados sobre pesquisas feitas com células HeLa e esse número foi aumentando de forma constante a uma taxa de mais de 300 artigos a cada mês."

As células HeLa existem até hoje seguindo uma linhagem ininterrupta, desde a sua extração e primeiro cultivo feito por George Otto Gey. Ele fez questão de propagar o material para qualquer pesquisador interessado, de modo que logo HeLa estava presente em diversos laboratórios. 

E mais, elas possuem uma grande capacidade de contaminação, de modo que ao longo das décadas várias outras culturas de células foram e ainda são contaminadas pelas HeLa. A simples presença de uma célula numa proveta, pinça ou qualquer outro material pode ser suficiente pra levar a contaminação adiante.

O biólogo Leigh Van Valen (1935-2010) propôs que as células HeLa fossem classificadas como uma nova espécie, batizada de Helacyton gartleri, uma vez que não podem ser consideradas células humanas propriamente ditas devido ao seu comportamento e mesmo a composição cromossômica serem diferentes das células humanas normais, pois são fruto de uma mutação.

A família de Henrietta Lacks afirmou que as células foram colhidas sem permissão e moveram um processo que foi levado até o Supremo Tribunal da Califórnia no caso "Moore v Regentes da Universidade da Califórnia". Concluiu-se, porém, que, na época em que as células foram extraídas, não havia qualquer lei que exigisse consentimento do paciente quanto ao destino do material extraído durante cirurgia, diagnóstico ou tratamento.

Na verdade, mesmo hoje esse tipo de legislação é raro e vago e geralmente se considera este material extraído como propriedade do médico ou do hospital que então podem descartar, guardar amostras, usar em pesquisas, etc. Um tumor extraído de um paciente, por exemplo, é expurgado como lixo hospitalar sem necessidade de qualquer autorização deste. No caso de HeLa, existem até laboratórios que patenteiam ou vendem o material.

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