Pois é, o James Gunn havia prometido revelar alguns planos para a DC em janeiro e ele esperou até o último dia para enfim soltar as novidades. E não foram poucas.
É inevitável a sensação de estranheza no fato de que agora a DC entrará num momento de transição e que teremos conteúdo ainda da velha fase, do snyderverso, à medida em que a nova fase vai se instalando. Mas lembremos que Man of Steel¹ veio apenas um ano depois do final da trilogia do Batman de Nolan, prometendo recomeçar todo um novo universo de filmes.
A série Smallville terminou em 2011 e no ano seguinte começou Arrow, construindo um mundo totalmente novo e sem relação com a timeline de Smallville. Ou seja, recomeços vão e vêm, ainda mais neste vasto multiverso de super-heróis. Nos quadrinhos a DC já passou por diversos reboots.
É um curso natural do ciclo de vida destes shows. Em algum momento é preciso recomeçar. Os atores já envelheceram ou mesmo se cansaram do papel, o público está saturado ou não consegue acompanhar a abundância de material que já foi produzido. Chega o momento de voltar ao número zero.
A Marvel já passou do tempo de fazer isto. De fato, poderia ter aproveitado o grand finale de Vingadores Ultimato para se despedir de vez daquele universo e começar algo novo, focando nos X-Men, por exemplo. Eles ainda estão tentando extrair a última gota de suco daquela bilionária laranja, mas nos próximos anos personagens como Thor, Capitão América e Hulk devem no mínimo passar por um recast ou ficar fora de ação por um tempo. O Tony Stark já está aposentado, mesmo porque o cachê do Robert Downey Jr. acabou supervalorizando demais.
Voltemos, porém, à DC. Enquanto a Marvel conseguiu tamanho sucesso em sua franquia que foi capaz de manter a mesma timeline por 15 anos, a DC nunca engatou direito seu universo, fez uma bagunça até no filme da Liga da Justiça², nunca conseguiu fazer sequer uma trilogia do Superman ou um filme solo do Batman. A melhor saída só poderia ser uma: o reboot.
E foi pra isso que chamaram o James Gunn. A ideia é fazer o tal "plano de dez anos", desenvolvendo toda uma nova timeline do zero. A promessa é de que agora vai. E já temos alguns anúncios.
O grande feito do James Gunn até o momento foi a consagração dos Guardiões da Galáxia³, um grupo totalmente desconhecido do grande público (e eu mesmo confesso que nunca li uma revistinha deles) e que foi um sucesso, virou parte da cultura pop. Hoje qualquer pessoa minimamente engajada na cultura pop reconhece a frase "I am Groot".
Depois ele investiu em outro personagem desconhecido, o Peacemaker⁴, produzindo uma série de sucesso. Temos aí um padrão. James Gunn gosta de apostar em personagens desconhecidos. E agora ele planeja fazer isto no novo DCU.
Entre os filmes anunciados, temos The Authority, um grupo que originalmente pertencia à Image Comics, do studio Wildstorm, fundado pelo Jim Lee, que depois foi adquirido pela DC. Tem a pegada sombria e realista que a DC gosta, de modo que será mais voltado ao público adulto.
O Swamp Thing vai ganhar mais uma chance. Ele já teve uma série que foi cancelada na primeira temporada lá em 2019 e agora volta em um filme obviamente de terror. Lembrando que lááá na década de 80 ele teve dois filmes trash, em 1982 e 1989.
Supergirl: Woman of Tomorrow será um filme baseado em uma minissérie em quadrinhos bem recente, de 2021-2022, escrita por Tom King. Tem uma pegada de ficção científica, de modo que promete ser um longa bem encantador e com bastante CGI.
E agora chegamos aos medalhões, Batman e Superman. Não poderia faltar um anúncio a respeito deles, pois tudo o mais é um aperitivo. Convenhamos que já estamos saturados de filmes de origem do Batman, então foi uma escolha interessante começar com outro tipo de história. The Brave and the Bold terá como protagonistas o Batman e seu filho rebelde Damian, o Robin mais querido de todos, justamente por seu jeito problemático.
Por fim, temos o maior de todos, o Superman, que terá uma nova origem em Superman: Legacy, com data já prevista para 11 de julho de 2025. O roteiro será do próprio James Gunn. É justo que o maestro de todo este novo universo se encarregue do personagem que estará no núcleo de tudo isso.
Curiosamente, no vídeo de anúncio do James Gunn, ao falar em Superman foi usada uma ilustração de All-Star Superman, série do Grant Morrison. The Brave and the Bold também faz referência à fase em que Morrison escreveu o Batman e até mesmo The Authority teve sua fase Morrison.
Temos aí a fonte de inspiração do James Gunn? É possível que ele pretenda desenvolver um universo tendo como norte a visão fantástica e até psicodélica do Grant Morrison, o que será algo bem peculiar de se ver.
Sim, mas e quanto à Wonder Woman? Parece interessante dar um descanso à personagem que teve seu último filme em 2020, então em vez disso veremos uma série ambientada em Themyscira, chamada Paradise Lost. Parece que será uma espécie de Game of Thrones da DC, com uma estética medieval e provavelmente muita violência. Esta série deverá preparar o caminho para a vinda da futura Wonder Woman.
Haverá uma série animada, Creature Commandos, que será escrita pelo próprio James Gunn e imagino que será o espaço onde ele poderá se divertir com ideias bizarras sem grandes preocupações, pois trata-se de um bizarro grupo de monstros liderados por ninguém menos que o Frankenstein.
Outra série será do Booster Gold, obviamente voltada para a comédia. Há rumores e torcida de fãs para que ele seja interpretado pelo Chris Pratt. É bem possível.
O que promete ser o novo arrowverso é Lanterns, sim, uma série dos Lanternas Verdes que trará nada menos que os dois mais memoráveis personagens desta corporação, Hal Jordan e John Stewart. Pela sua natureza, este programa tem potencial para se expandir, apresentar novos personagens, ramificar-se em spin-offs, enfim, se tornar de fato o novo arrowverso.
Uma série que causa estranheza neste grande anúncio é Waller, que terá como protagonista a Amanda Waller interpretada pela Viola Davis. Ou seja, mesmo que o show do Peacemaker tenha entrado em hibernação e talvez não volte mais, surge este spin-off com personagens daquele núcleo. Dá a entender que o reboot não será tão completo assim. Ao menos este pedaço do velho DCU, o gunnverso ou proto-gunnverso, parece que terá seu espacinho garantido.
Na verdade não seria difícil preservar alguns personagens do velho DCU, pois o filme do Flash está vindo aí e é a oportunidade perfeita para fazer um reboot que interligue os dois mundos. Em vez de simplesmente começar algo novo sem qualquer nexo com os filmes anteriores, como aconteceu na transição entre The Dark Knight Rises (2012) e Man of Steel (2013), agora é possível criar um link.
Pode ser que The Flash de fato realize um flashpoint em que o personagem resetará a linha do tempo, abrindo o caminho para uma nova realidade e assim dando sentido para o fim do snyderverso. Neste processo de reset, alguns personagens podem extraordinariamente migrar para o novo mundo, como pode ser o caso da Amanda Waller. Bom, é esperar pra ver.
Além de The Flash, este ano também teremos Shazam 2 e Aquaman 2, que serão definitivamente os últimos da velha safra. O modesto filme do Blue Beetle parece ser um meio termo e não se sabe ao certo se será um resquício do snyderverso ou parte do novo gunnverso.
À parte de todo este imbróglio envolvendo a transição entre o velho e o novo DCU, existe o selo Elseworlds, que é como a DC costuma classificar suas histórias que se passam em universos independentes e sem conexão entre si. É o caso do Batman do Robert Pattinson, que terá sua continuação em 2025 e promete completar uma trilogia, e também o peculiar coringa do Joaquin Phoenix, que voltará em 2024 com o título Joker: Folie à Deux.
Em 2013, durante a Comic Con, Zack Snyder apresentou um pedacinho, um misterioso e brevíssimo teaser de seu projeto para a DC. Surge o logo do Superman e a galera grita empolgada com uma possível sequência de Man of Steel. Não parou por aí, pois um segundo depois surge o logo do Batman envolvendo o do Superman. Logo caiu a ficha na nerdaiada que gritou numa empolgação há tempos não vista em um anúncio de filme da DC. Era o Batman v Superman.
Eu estava lá. Não na Comic Con, mas no Youtube vendo os vídeos vazados e minha empolgação não foi diferente. Eu estava vendo o nascimento do universo compartilhado da DC e acompanhei ano após ano este projeto ir por água abaixo.
Infelizmente o DCU não foi aquilo que a hype inicial nos fez esperar. Batman v Superman foi um filme decente, mas controverso. O fato é que não deu certo no sentido de construir um longo e bem sucedido universo da DC, não como a Marvel conseguiu.
Agora que o James Gunn prometeu novidades sobre seu plano para um novo DCU, acabei lembrando daquele momento lá de 2013, mas desta vez confesso que contive minha empolgação, pois agora tenho esta desconfiança de que a coisa pode não dar certo. De toda forma, eu quero acreditar e ainda enxergo o copo meio cheio.
Acho que James Gunn tem potencial para orquestrar um universo de super-heróis bem melhor do que o Zack Snyder, então estou confiante. Eu torcia para um reboot já há alguns anos e eis que ele está acontecendo. É o certo a se fazer. Quero ver um novo Batman, um novo Superman e Wonder Woman. E finalmente teremos uma série dos Lanternas Verdes. Creio que já começamos bem.
Notas:
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