Em 2013 perguntaram a Justin Trudeau qual país ele mais admirava e a curiosa resposta foi: "There’s a level of admiration I actually have for China because their basic dictatorship is allowing them to actually turn their economy around on a dime and say, ‘We need to go green … we need to start investing in solar’".
Ou seja, basicamente ele disse: "O bom de uma ditadura é que não existem obstáculos para o que o governo quer fazer. Ele simplesmente faz. É eficiente". Vez ou outra alguém aqui no ocidente tece este tipo de comentário quando está decepcionado com a ineficiência e morosidade do estado. É até um raciocínio irônico: para resolver o problema da ineficiência do estado é preciso dar mais poder ao estado.
Anarquistas, libertários e minarquistas (não confundir com monarquistas) raciocinam o contrário disso: é preciso abolir ou reduzir o estado, deixar que a sociedade se organize livremente sem todos os obstáculos da burocracia estatal.
Não vou aqui discutir formas de governo e ideologias. Confesso que não tenho uma doutrina ideológica bem definida e na verdade nem quero ter. Quero a independência do livre pensar, me dar ao luxo de um certo caos, de não ter que comprar todo um pacote interconectado de ideias, vestir uma camisa. Que os dogmáticos discutam entre si na eterna luta em busca da certeza.
A questão é que existe um equilíbrio entre liberdade do povo e a eficiência da sociedade. Tomemos como exemplo o gerenciamento de um condomínio. Um dia o síndico decide que todo o edifício precisa renovar a instalação elétrica. Para isto ele deve organizar uma reunião com os moradores a fim de combinar os detalhes, os custos, o horário em que a reforma será feita.
Nesta reunião deve-se buscar o interesse comum. Uma vez que esta reforma envolve entrar nos apartamentos dos moradores e afeta suas rotinas, é preciso combinar o dia e horário que agrade a todos. Pode levar dias até a reforma dar certo. Ou o síndico pode simplesmente virar um ditador e dizer: "vai ser amanhã e pronto!".
A ditadura é eficiente porque passa por cima dos obstáculos do interesse comum. Para ela, a eficiência é mais importante do que a liberdade individual. É uma visão mecânica da sociedade, como se as pessoas fossem máquinas.
A máquina obedece ordens sem questionar, sem ser psicologicamente afetada. Acontece que é diferente com pessoas. Esta suposta eficiência do estado totalitário tem um preço trágico a longo prazo.
Um bom exemplo das consequências psicológicas e sociais de um governo "forte" é visto agora na juventude chinesa que está aderindo ao chamado movimento "lying flat" (ficar deitado). É como desistir da vida. Não querem trabalhar, estudar ou constituir família. Entregam-se à apatia. Pelo visto, o estado forte não é capaz de motivar as pessoas da maneira correta.
Recentemente, no auge dos lockdowns na China, policiais chegaram à porta de um casal ordenando que saíssem para serem levados à quarentena. Eles resistiram e o policial ameaçou: "vocês serão punidos até a terceira geração". A resposta do casal foi: "somos a última geração".
As ameaças e a pressão do governo perdem a importância quando as pessoas já não têm motivação, quando não pensam no futuro e vivem na apatia. E a tendência é que o totalitarismo leve à apatia, já que priva as pessoas da liberdade. Pessoas não podem ser motivadas à força. Ninguém vai se sentir feliz porque alguém ordena que seja feliz.
A vida humana é um complexo balanceamento de vários elementos. Não podemos viver totalmente dedicados a uma causa, ao trabalho, à obediência, mesmo ao progresso da sociedade. É preciso espaço para descanso, lazer, vida interior, arte, espiritualidade, etc.
E tudo isto deve existir em um ambiente de liberdade, o que significa que as pessoas estão voluntariamente decidindo fazer isto ou aquilo sem serem obrigadas por ameaças de uma força coercitiva. Se não for desta maneira, a resposta psíquica será de apatia ou revolta. Uma sociedade não se sustenta a longo prazo desta maneira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário