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Ad Astra não é sobre o espaço, mas sobre laços

Brad Pitt; Ad Astra (2019)

Brad Pitt; Ad Astra (2019)

Interestelar (2014)¹ foi um dos maiores filmes de ficção espacial de todos os tempos, um descendente do clássico 2001 (1968) e o que melhor explorou o conceito de buraco negro. Todavia, além de sua camada científica, havia outra mensagem mais voltada ao cerne da humanidade: a importância do amor. Tudo o que o Cooper fez, no fim das contas, não foi pensando na humanidade em geral, nessa abstração coletiva, mas em uma pessoa, sua filha Murphy. Ad Astra (2019) segue pelo mesmo caminho. 

Uma missão espacial, chamada Lima Project, foi enviada com destino aos confins do sistema solar, o que seria a primeira viagem de humanos para além da heliosfera. Ali seria possível obter dados mais precisos do universo e vasculhar planetas em busca de vida inteligente. A busca final da civilização humana.

Ad Astra (2019)
Um grande clichê do sci-fi: o tablet translúcido.

Só que a missão falhou e após 16 anos a nave, que ficou na órbita de Netuno, apresentava defeitos em seu motor de antimatéria, expelindo pulsos eletromagnéticos que afetaram a Terra e havia o risco da antimatéria provocar uma grande catástrofe em todo o sistema solar. O astronauta Roy (Brad Pitt) é enviado em uma missão secreta para destruir a nave.

Roy não foi escolhido à toa, pois o comandante do Lima Project, Clifford (Tommy Lee Jones) era seu pai. Havia a suspeita de que Clifford estava enlouquecido e tinha sabotado a nave, de modo que Roy foi enviado até Marte para tentar contato com ele.

A mensagem de Roy é enviada e Clifford responde, mas os superiores na base de Marte sequer deixam Roy ouvir a resposta e o afastam da missão. O que fica subentendido é que Clifford não deu uma resposta amistosa e agora um foguete seria enviado até a nave da Lima Project para destruí-la, mesmo à custa da vida de Clifford. Afinal o destino da Terra dependia disso.

Roy consegue se infiltrar no foguete e acidentalmente a tripulação acaba morrendo. Agora ele está indo sozinho em direção a Netuno para encontrar seu pai.

E no fim das contas a história é sobre isto. Além da grandiosa causa da busca por vida alienígena e da urgente missão para impedir uma catástrofe global, existe a saga particular de Roy para se reconciliar com seu pai e completar esse ciclo de sua vida.

Roy seguiu os passos do pai na carreira de astronauta, mas sempre reprimiu um sentimento de abandono e frustração, já que Clifford há décadas largou a família para se dedicar ao ambicioso Lima Project. Quando Roy o encontra, vê o velho devastado, pois todos estes anos de investigação deram em nada. Nos logs da nave, ficaram registrados diversos mundos pela galáxia, mas nenhum deles com vida. Ficou constatado que, pelo menos aqui nesta imensa e velha galáxia, os humanos são os únicos.

Esta não deixa de ser uma possível solução para o Paradoxo de Fermi. Talvez estejamos mesmo sozinhos na Via Láctea. Talvez outras civilizações já tenham surgido num passado remoto e agora só restamos nós. No vasto universo, há uma grande chance de haver vida em meio às trilhões de galáxias tão distantes de nós, mas aqui na nossa vizinhança, pode ser que estejamos de fato solitários.

Ad Astra (2019)
O laço umbilical do filho com o pai.

Antes de explodir a nave, Roy quer levar seu pai de volta, mas o velho teimoso se recusa a voltar para a Terra. Ele se joga no espaço, mas como está ligado por um cabo ao corpo de Roy, os dois vagam em direção a Netuno. É claramente uma simbologia umbilical, o laço do filho com seu velho pai e que precisa ser rompido para que ele aceite a partida, a morte do idoso. Clifford insiste: "Me desate". Até que Roy se rende.

Roy guardava um arrependimento de não ter construído uma família. Ele chegou a ter uma esposa, mas se dedicava tanto à carreira que acabaram se separando. Ele estava seguindo o mesmo curso solitário de seu pai. Foi preciso passar por toda uma saga de retorno às origens. Ele foi à Lua, dali até Marte e depois Netuno, tudo para encontrar seu pai e se despedir dele. 

Brad Pitt; Ad Astra (2019)

Agora, após explodir a nave da Lima Project, eliminando a ameaça cósmica, ele volta à Terra e disposto a reatar os laços com a esposa, redescobrindo sua humanidade.

Pois é, no fim das contas, não há nenhuma descoberta de alienígenas, nenhum progresso na grandiosa saga humana de exploração do cosmo. Ad Astra é sobre laços humanos, o que lembra também o filme Gravidade (2013)², em que a personagem da Sandra Bullock também passa por toda uma aventura espacial de morte, redenção e renascimento. 

Notas:



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