A princípio, o roteiro de Gravidade (2013) é bem simples: temos uma astronauta envolvida em um acidente no espaço tentando sobreviver e voltar à Terra. O que realmente chama atenção não é a história, mas a magia visual. Não à toa foi o ganhador do Oscar de efeitos especiais daquele ano.
Cenas de astronautas na órbita da Terra já existem há décadas no cinema e TV, sempre belas e impressionantes, mas desta vez o Alfonso Cuarón levou a coisa para outro nível, explorando de fato o poder da gravidade no vácuo do espaço.
Os astronautas estão sempre girando, sendo jogados de um lado para o outro. A gravidade é implacável e de tirar o fôlego. Assistir esse filme é uma experiência de montanha russa, sendo que a montanha russa é o mundo.
Os astronautas estão sempre girando, sendo jogados de um lado para o outro. A gravidade é implacável e de tirar o fôlego. Assistir esse filme é uma experiência de montanha russa, sendo que a montanha russa é o mundo.
Conseguiram brincar bastante com isso, a locomoção no espaço, a dificuldade em se nortear, em se manter numa direção, somado aos perigos mortais representados pelos detritos do lixo espacial. Ao mesmo tempo é tudo tão belo.
Falando em beleza, temos a Sandra Bullock com toda sua fofura e exuberância (e presenteando o público com um pouco de fan service das suas elegantes pernas). Quanto à atuação, ela conseguiu passar muito bem a sensação de perda de fôlego, tontura e desespero, pena que o roteiro fez da sua personagem uma figura muito dependente da ajuda heroica de um príncipe do cavalo branco, representado pelo George Clooney. Mas ok, o personagem dele nem dura muito (opa, spoiler) e ela se vira muito bem sem ele.
A aventura pela qual a moça passa chega a ser surreal e nisso o filme trai a proposta de ser uma ficção científica limpa e verossímil. É um espetáculo de sorte e azar. Primeiro o ônibus espacial é destruído por detritos e ela fica vagando no espaço. É resgatada pelo companheiro e consegue chegar em uma estação espacial (a ISS). Aí o que acontece? Um incêndio na estação. Agora ela vai escapar em um módulo, mas ele fica preso nas cordas do para quedas.
E eis que essa estação também é destruída por detritos e a moça consegue escapar para outra estação (agora chinesa). O que acontece? Esta também é destruída, mas dessa vez a moça consegue descer em direção à Terra em outro módulo e fim. É muita sorte e muito azar. Essa cientista é a própria Deusa da Destruição, pois toda nave que ela toca é reduzida a detritos.
Mas ok, essa aventura muito doida de saltos e caronas pelo espaço é legal no fim das contas. Não é apenas uma ficção científica, mas um filme de sobrevivência e ação. É como se a Sandra Bullock, que no passado esteve em um ônibus com uma bomba na auto estrada (Velocidade Máxima, 1994), agora está em outro tipo de autoestrada, a espacial, enfrentando novamente o desafio da velocidade e destruição.
Se fosse apenas ação, sobrevivência, destruição e ótimos efeitos especiais, já estaria bom demais. Todavia existem sim outras camadas. A astronauta Ryan perdeu a filha e vive carregando essa sensação de vazio e impotência. Lutar pela própria vida nesta saga espacial será uma redenção, uma forma de recuperar a vontade de viver e renascer.
A cena da posição fetal, a mais simbólica do filme. |
E isto é simbolizado visualmente. Quando ela consegue entrar na estação espacial, depois de quase morrer sufocada no espaço, se põe a flutuar em uma posição claramente fetal. É um momento simbólico de renascimento, de gestação.
Após enfrentar o Ar (ou Vácuo) do espaço e o Fogo da queda, vem a Água e a Terra do renascimento. |
Também o uso dos elementos da natureza ilustra a alquimia da personagem que está sendo recriada. Ela começa no Ar, o espaço. Quando entra na atmosfera no módulo em chamas, está passando pelo Fogo. O módulo mergulha na Água, da qual a mulher sai como que nascendo de novo e enfim ela pisa na Terra da praia e se ergue. O renascimento está completo.
Deixar aqui mais um pouco de pernas para vossa alegria:
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