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O terror cósmico em Star Trek

Star Trek: kelvans are Cthulhu like

H. P. Lovecraft publicou suas bizarras obras nas décadas de 1920-30, criando uma mitologia própria envolvendo criaturas ancestrais poderosíssimas e assustadoras, a começar pelo famoso Cthulhu. Pelo tom sombrio, pessimista e apocalíptico, sua obra ficou conhecida como  "terror cósmico". 

Em outras palavras, o que deve existir lá fora, nas estrelas, nas profundezas da galáxias, não são formas de vida fofinhas e amistosas, como elfos, fadas e pequenos aliens, mas criaturas tão imponentes e superiores a nós, mortais de carne e osso, que um contato nosso com tais seres seria uma experiência desesperadora, aterrorizante.

Star Trek, apesar de ter uma veia cômica, em alguns momentos adotou essa visão de que lá fora há criaturas assim sinistras e titânicas, seres com poderes divinos que podem destruir os humanos com um pensamento.

Barbara Bouchet
A bela Barbara Bouchet como a alien Kelinda. Que linda hein Kelinda (badumtss).

O episódio 22 da segunda temporada (By Any Other Name) parece inclusive fazer uma referência à obra lovecraftiana, quando a tripulação de Enterprise é capturada por aliens da galáxia de Andrômeda, os kelvans, e, apesar destes estarem temporariamente na forma humana, Spock, com seus poderes telepáticos, consegue vislumbrar a verdadeira forma das criaturas: seres gigantescos e assustadores, cheios de tentáculos e com uma mente complexa e multifacetada, algo que lembra a descrição do monstro Cthulhu.

Bom, o Capitão Kirk e sua equipe conseguem lidar com este bando de cthulhus na forma criativa e meio galhofa típica da série: aproveitam-se do fato que os monstros estão em forma humana (e, portanto, tomados por fragilidades humanas) e exploram suas fraquezas. O Scott, por exemplo, consegue vencer seu adversário alien embebedando-os com muitas doses de uísque e outras biritas.

Star Trek: Scott vs a kelvan
Como diria o Thor: "This drink, I like it. Another!"

Também no episódio 5 da terceira temporada parece haver um conceito lovecraftiano na descrição dos aliens meduseanos, que evoluíram fisicamente de tal forma que são horríveis, a ponto de levar um humano à loucura simplesmente ao olhar para eles. Diferente, porém, de um Cthulhu, os meduseanos não são malignos. São só feios mesmo. Muuuito feios.

Lovecraftian concept of the medeusans

Esse episódio é excelente. Com um ar de terror ou drama psicológico, consegue explorar de forma impressionante essa ideia da "feiura que enlouquece", uma ideia que remonta à Medusa da mitologia grega (e não à toa estes aliens grotescos são chamados meduseanos). 

O bicho é tão inimaginavelmente feio que um simples vislumbre produz um desespero e loucura instantâneos. O próprio Spock, que possui um extraordinário controle mental, por descuido enxerga o alien sem os óculos protetores e é tomado de pavor. A expressão que ele faz neste momento é uma das melhores que já vi em personagens desesperados. Uma atuação impecável do Leonard Nimoy. Parece até algo quadrinhesco, esse olho encarando para baixo, enquanto o rosto volta para cima, tomado de repulsa.

Spock in despair

O interessante nessa história é que os meduseanos de fato são seres pacíficos e muito diplomáticos, mas a sua aparência estranha é nociva à mente humanoide. Os personagens até filosofam sobre a beleza e como a feiura é associada ao maligno.

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