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Eternidade e consciência

Consciousness

Há uma palavra que me desperta um sentimento parecido com um transe: Eternidade.

O tempo é o maior dos mistérios da realidade. A realidade física é basicamente a combinação de tempo e matéria. Em nossa milenar saga gnóstica, já alcançamos uma profunda compreensão da matéria. Fomos da molécula ao átomo, do átomo ao mundo subatômico. Entendemos os mecanismos essenciais da matéria, a natureza e velocidade da luz e já vislumbramos no horizonte as próximas fronteiras de compreensão, onde a matéria escura e a anti-matéria nos acenam.

Já o tempo, este permanece um mistério formidável, algo sobre o qual ainda pouco sabemos. Nossa compreensão do tempo é mais pragmática do que fundamental. Entendemos o tempo apenas para usá-lo como parâmetro, como instrumento de medição, mas ainda não sabemos do que o tempo é feito ou como ele surgiu e somos incapazes de manipulá-lo.

O que exatamente é o presente, uma vez que o tempo está sempre em movimento? O presente não pode ser um segundo, pois há tempos menores do que um segundo. Há frações de segundo e, como todo número, as frações podem reduzir-se infinitamente, de modo que nunca chegaremos ao exato momento que pode ser considerado o presente.

Não há presente, há apenas o imparável movimento do tempo.

A consciência nos brinda com esta capacidade milagrosa de pensar sobre o tempo e só assim conseguimos vislumbrar o seu fluxo tanto para o passado quanto para o futuro, o que nos leva à conclusão de que o tempo é infinito. Eis que surge uma palavra capaz de conter toda esta infinitude: Eternidade.

A vida humana, se chega a 100 anos, é considerada uma longeva existência, tão longa que uma pessoa centenária mal consegue se lembrar de muitos eventos da sua juventude. Uma longa vida humana, porém, é uma minúscula partícula na história humana, que remonta a alguns milhões de anos.

Pegue um humano, com seu século de vida, e multiplique por dez mil gerações. Uma longa vida vivida de novo e de novo dez mil vezes. Eis o que é o tempo relativo a 1 milhão de anos. Esta mesma vida repetida dez milhões de vezes chegará a 1 bilhão de anos. Se você vivesse de novo e de novo cento e quarenta milhões de vezes, teria então vivido a idade estimada do universo.

Mas o que são bilhões de anos perto de trilhões, de quatrilhões, de septilhões (1.000.000.000.000.000.000.000.000)? O que é um septilhão perto da eternidade? É como uma minúscula fração de segundo.

Se a consciência for de fato eterna, ela realmente, para sua própria proteção, possui algum mecanismo de esquecimento, de se desfazer das memórias da eternidade, pois uma eternidade de memórias seria insuportável. Ao menos é assim no caso das consciências individuais. Da minha e da sua consciência. Se somos eternos, somos fadados a esquecer. Cada vida é um reset.

Se existe uma Supraconsciência, uma consciência cósmica ou mesmo que transcenda o universo e o multiverso, esta deve conter um repositório de todas as memórias da eternidade, memórias que consistem no registro de todos os momentos infinitos e infinitesimais. Não bastando a própria realidade ser absurdamente infinita, também a memória da realidade será infinita, gravada nesta consciência suprema.

Se, todavia, tal consciência existe, não haverá necessidade de um mundo fora dela. O mundo, o tempo, a matéria e a eternidade podem existir como um pensamento desta imensurável consciência. Se existe uma consciência com a capacidade "computacional" (para usar um termo mais compreensível ao nosso raciocínio lógico) de registrar toda a eternidade, tal consciência transcende a eternidade e a engloba. Num simples pensamento ela é capaz de trazer à existência um universo com bilhões ou trilhões de anos, com a mesma facilidade com que nós, aqui na nossa breve existência, criamos uma cena imaginária durante um efêmero sonho.

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