O dinamarquês Lars von Trier tem uma longa filmografia, mas ele é mundialmente conhecido particularmente por dois filmes que têm uma forte assinatura: Anticristo (2009) e Melancolia (2011). Ele se destaca pelo tom depressivo e pessimista, com certa simbologia até satânica, o que pode ser bem resumido na sinistra raposa do Anticristo que literalmente fala: "O caos reina".
O negócio do Lars von Trier é chocar, explorar a tragédia humana. Eis que em Ninfomaníaca (2013), ele não apenas choca como escandaliza, pois, como o título sugere, é uma história extremamente erótica.
O filme é longo, tão longo que foi dividido em duas partes, dois filmes separados e que somam umas quatro horas. A protagonista, interpretada pela Charlotte Gainsbourg (que já trabalhou outras vezes com o diretor), conta sua história para um velhinho judeu culto e assexual. A história basicamente é: sexo, sacanagem, transas.
O sexo é uma das coisas mais complexas e paradoxais da existência humana, pois, ao mesmo tempo em que possui profundas raízes na psique e exerce uma grande influência na vida das pessoas e nos rumos da sociedade, também é um dos hábitos mais banais do mundo. O sexo está em toda parte. Na internet então, nem se fala.
É difícil, portanto, contar uma história envolvendo sexo que seja realmente profunda. No geral, esta história vai parecer pura apelação, uma forma fácil de causar escândalo, de provocar os moralistas e polemizar em cima de tabus.
Na longa contação da história, a protagonista é interrompida ocasionalmente pelo seu ouvinte que faz algumas digressões, alguns comentários sobre cultura geral, música, história, até a sequência de Fibonacci, o que tenta cria um ar de papo culto e profundo, mas, por serem dados enciclopédicos pincelados aqui e ali, esta conversa continua sendo superficial. Inclusive a protagonista reage com bastante apatia diante das digressões e até as critica.
Curiosamente, há algumas cenas cômicas, o que contrasta com o ar sombrio e trágico da história. Provavelmente a cena mais memorável é a da "brincadeira do pato", em que um cara mete a mão na vagina dela de tal maneira que produz um som de pato grasnando.
Também há uma discussão interessante em que ela critica o politicamente correto: "Toda vez que uma palavra se torna proibida, você retira uma pedra dos alicerces democráticos". Isto de fato foi um importante alerta, um alerta já feito há décadas no conceito de novilíngua do 1984.
Além de disparar contra o santarronismo secular do politicamente correto, também naturalmente ataca o santarronismo religioso, afinal a protagonista tem uma vida devassa, para os padrões religiosos, uma verdadeira heresia.
Por isso digo que o filme é raso, porque ele é direto. Ele é explícito tanto nas cenas de sexo e nudez quanto na quebra de tabus, de modo a chocar e até ofender o público. Não há mais nada além disso e os personagens são todos rasos, incluindo a própria ninfomaníaca, cuja vida gira em torno desse desejo sem fim por sexo.
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