O gênero de terror slasher é algo que existe para entreter o nosso primitivo lado sádico. Nos tempos antigos, este sadismo era satisfeito por meio da violência real, envolvendo gente real, como nos espetáculos de carnificina do Coliseu.
Hoje em dia a civilidade nos levou a abandonar estes hábitos bárbaros, ou melhor, sublimamos por meio da arte e da ficção. O slasher movie, portanto, existe para este fim.
A verdade é que torcemos pelo vilão, enquanto ele persegue suas vítimas. E se o vilão sobreviver no final para permitir uma sequência, uma trilogia, uma pentalogia, melhor ainda.
Este subgênero consagrou grandes personagens na cultura pop como Jason, Freddy Kruegger, Chucky, Michael Myers, etc.
Outro subgênero é o terror com feras ou algum animal considerado assustador, o que vai de aranhas e piranhas a anacondas gigantes, crocodilos, tubarões, etc.
Filmes de tubarão são praticamente um subgênero dentro deste subgênero. Seu grande clássico foi o Jaws (1975), de Spielberg, e chegou ao ponto da auto-sátira na fantástica e zueira franquia Sharknado.
Em alguns casos, como no próprio Jaws, filmes de tubarão se assemelham a um slasher, pois o tubarão, ou um grupo de tubarões, se torna uma espécie de assassino serial a perseguir os pobres protagonistas, matando-os um a um.
Deep Blue Sea (1999) segue bem este modelo. Buscando a cura do Alzheimer, uns ingênuos cientistas fazem experimentos no cérebro de três tubarões, tornando-os mais inteligentes. O que poderia dar errado, não é mesmo? Eis que os tubarões escapam, destroem o laboratório submarino e perseguem a tripulação.
Então temos a diversão típica de um slasher: ficamos curiosos pra ver de que maneira os tubarões vão matar as vítimas. Há algumas mortes de figurantes, mas a coisa fica interessante mesmo quando um tubarão carrega o Dr. Jim Whitlock (que já havia perdido um braço e estava em uma maca) e o arremessa contra o vidro da estação submarina. É como se o tubarão, com sua inteligência e sadismo aprimorados, estivesse mesmo dando uma declaração de guerra, jogando um membro da equipe na cara dos demais para verem o que os espera.
Para mostrar como o vilão é mesmo cruel, temos uma cena em que o mascote do filme, um papagaio, é também devorado pelo tubarão.
Aí temos um momento em que Russell Franklin, ninguém menos que o Samuel L. Jackson, resolve fazer um discurso motivador, basicamente dizendo para a equipe "get your shit together" e revidar, mas é interrompido por um tubarão que aparece do poço e o devora num instante. Os outros olham assustados com uma cara de "fudeu!".
Depois é a vez da pobre Janice, que no momento em que estende a mão para ser retirada da água, um tubarão dá-lhe uma bocanhada por baixo, erguendo-a no ar e depois sumindo com a coitada dentro da água.
A morte mais gore é a do Tom Scoggins, que é partido ao meio em uma mordida e vemos as suas pernas, separadas do corpo e tendo espasmos como uma lagartixa.
Por fim, a Dra. Susan McCallister morre de bobeira, porque ela pula na água pra atrair o tubarão e evitar que ele atravesse uma cerca em direção ao mar. A morte dela pelo menos é rápida, literalmente engolida inteira.
Só que os vilões também se dão mal. Um tubarão é morto em uma explosão de um forno industrial, outro é eletrocutado e o último vira mil pedacinhos com uma flecha explosiva.
Vale notar que quem matou tanto o primeiro quanto o último foi o cozinheiro Sherman, o dono do papagaio e alívio cômico do filme. É uma espécie de justiça poética que os tubarões fossem mortos pelo cozinheiro.
No fim, obviamente, tem que sobrar alguém pra contar a história. No caso, o badass Carter (interpretado pelo Thomas Jane, que sempre tem o typecast de badass) e o sortudo Sherman que, sendo um homem muito religioso, não teve apenas sorte, mas uma ajuda divina pra sair daquela enrascada.
O filme, mesmo sendo de um gênero já clichê, conseguiu surpreender em algumas destas mortes. Ninguém esperaria, por exemplo, que uma figura imponente como o Samuel L. Jackson tivesse uma morte tão patética. Também no final é de se esperar que sobreviva o casal Carter e Susan, com direito a um beijo na última cena, mas ela tem uma morte rápida e inesperada, de modo que sobram apenas dois caras vivos.
O Sherman, aliás, por ser o personagem mais atrapalhado, era desde o início alguém que o público esperaria que em algum momento cometeria um erro que o levaria à morte. O fato dele ter sido um dos últimos sobreviventes é também uma surpresa.
Duas décadas depois, resolveram ressuscitar a franquia com Deep Blue Sea 2 (2018) e Deep Blue Sea 3 (2020), mas são bem fraquinhos e nada há de interessante neles.
Pra não dizer que nada se salva nos últimos filmes, no final do terceiro tem uma cena legal, quando o último tubarão é morto esmagado em um compactador de lixo e o bicho literalmente estoura na cara da protagonista.
Este último filme também encerra a trilogia com uma justiça poética. Enquanto no filme original só sobreviveram dois homens, agora restaram apenas mulheres.
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