Política, como tudo na vida, é um assunto que possui um cardápio variado para todos os gostos. Não existem absolutos na política e tudo é passível de discussão e questionamento (o que não é?).
Geralmente a política tem sido polarizada em "direita" e "esquerda", mas convenhamos que estes termos não somente são obsoletos, como também bastante vagos e incapazes de representar realmente as opiniões das pessoas ou grupos.
De toda forma, eles fazem parte do cardápio, bem como suas variantes (extrema esquerda, centro esquerda, centro direita, extrema direita, etc.). Há outras formas mais específicas de dualismo, como individualismo e comunitarismo, liberalismo e protecionismo econômico, nacionalismo e globalismo e por aí vai.
Mais do que uma questão de sociedade, economia e instituições, a política também tem um aspecto psicológico que é muito forte e que a maioria das pessoas não se dá conta. Projetamos nas nossas ditas opiniões e posicionamentos políticos desejos inconscientes, traumas, preconceitos, idealizações, neuroses. Há tantos sentimentos misturados a argumentos, que é difícil rastrear a origem profunda daquilo que acreditamos e defendemos na política.
De toda forma, em uma sociedade minimamente saudável, deve haver a liberdade para que cada um escolha seu "lado", no entanto, independente daquilo em que você acredita, deve existir um core de valores mútuos às pessoas de qualquer alinhamento político. Os direitos humanos fundamentais podem ser um bom padrão para definir este core.
Quanto a formas de governo, também há tantas e para tantos gostos, mas é fundamental que todos, independente de qual lado, concordem com uma única coisa: que jamais apoiem o estabelecimento de uma tirania.
É fácil identificar uma tirania: ela se impõe e se perpetua contra a vontade da população, ela usa da força para manter seu poder, o que inclui a censura e o aprisionamento ilícito, perseguição e até assassinato de opositores políticos ou qualquer um que ouse criticar o poder estabelecido.
Na tirania, toda a população é subjugada a um estado de culpa e medo. Todas as pessoas são tratadas como criminosas e mantidas reféns do medo. Há uma gritante diferença entre uma sociedade onde há normas e que possui mecanismos para deter pessoas que causam danos às outras e um estado que alimenta um clima de suspeita constante, causando nas pessoas comuns uma tensão e temor de que qualquer coisa que façam pode irritar o leviatã estatal.
O mundo de 1984 ilustra bem isto. As pessoas viviam nesta tensão por saberem que o Big Brother as vigiava. Elas temiam ser punidas por simplesmente tocarem em determinado assunto. O mundo se encheu de tabus, de palavras proibidas e todos tinham que viver de cabeça baixa. Até os pais e filhos temiam uns aos outros, pois qualquer comportamento fora da total subserviência poderia ser denunciado.
Não existem sociedades nem governos perfeitos. A existência humana é um perpétuo conflito, uma mistura fervilhante num caldeirão de diferenças que nunca se torna homogêneo. Isto é o normal na natureza e é a maravilha da vida.
A tirania, ao contrário, busca homogeneizar, uniformizar, enfim, desumanizar. Você deixa de ser esta coisa complexa e complicada que é um humano e se torna um objeto, uma máquina de dizer "sim", incapaz de questionar ou dizer "não". A liberdade para dizer "não" é um dos maiores termômetros de quão próxima ou distante uma sociedade está da tirania.
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