Life Like (2019) é um filme genérico sobre robôs domésticos que achei por acaso na Amazon Prime. Este é um tema cada vez mais comum na ficção, como vemos em séries como Humans e Better Than Us¹, mas o filme acabou me surpreendendo pelo desfecho. Então prepare-se que lá vem spoiler.
A princípio, parece uma história bem genérica do tema. Um casal compra um robô humanoide que é um produto inovador de um programador revolucionário. O robô realmente parece indistinguível de um humano, a não ser pela extrema obediência e um jeito meio esquisito.
Com o tempo vai se formando um relacionamento afetivo, a ponto do casal se apaixonar pelo robô, e vice-versa. Mas aí vem a grande descoberta: aquele ser, bem como todos os robôs vendidos pelo tal programador, eram humanos reais que sofreram lavagem cerebral.
Esta revelação realmente me pegou de surpresa e foi uma sacada legal da história. O programador era um charlatão na robótica, mas pelo visto era muito bom em manipular pessoas, pois criou estes humanos desde crianças, fazendo-os acreditar que eram robôs.
Apesar da ideia ser interessante, convenhamos que na prática seria difícil convencer os clientes por muito tempo. Ora, estes "robôs" em algum momento devem transpirar, ter cheiros humanos, sangrar, etc. E como eles se alimentavam?
No filme, vemos que o robô recarrega as "baterias" numa cama com algum tipo de dispositivo de recarga wifi, o que pode à primeira vista enganar os clientes. Mas então quando aqueles humanos se alimentavam? Sendo "robôs", eles não precisam comer, logo, seus donos não lhes davam comida. Eles comiam e bebiam água escondidos? E os donos nunca os flagraram fazendo as necessidades no banheiro?
Bom, o roteiro resolve este problema de uma forma muito simplista em uma cena na qual o robô bebe um vinho com a dona só porque ela pediu e ele explica que seu corpo tem um compartimento que acumula as coisas que ele ingere e depois é esvaziado na estação de recarga.
Mas uma coisa é ele beber uma taça uma vez na vida pra fazer companhia à dona e outra é a sua real necessidade humana de beber e se alimentar que se tornaria logo conspícua, algo difícil de disfarçar, ainda mais levando em conta o corpo musculoso do cara que deveria precisar de uma alimentação farta todos os dias.
É até compreensível que os próprios falsos robôs ignorassem estas evidências físicas neles mesmos, pois a lavagem cerebral podia criar um estado de negação, mas para a coisa funcionar seria preciso fazer lavagem cerebral nos clientes também.
Anyway, este plot twist acaba fazendo que o sci-fi hard (a princípio focado em tecnologia) vire sci-fi soft (a tecnologia é apenas um tema de fundo para o drama). É curiosamente também um plot twist do tipo de gênero de filme, pois a princípio esperamos algo voltado à robótica, mostrando o quão avançado e human-like um robô pode ser, mas a história de repente se torna um drama psicológico, pois vemos como a lavagem cerebral pode ser poderosa a ponto de fazer pessoas acharem que são coisas, máquinas. Quando o robô (interpretado por aquele ator que faz o Holden em The Expanse) descobre que é humano, entra numa baita crise existencial, obviamente.
Notas:
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