Normalmente a ficção retrata invasões alienígenas com naves e tecnologias avançadíssimas, os aliens são mais inteligentes que os humanos ou mais fortes ou ambos. Afinal, se uma civilização é capaz de fazer uma viagem interestelar, deve ser muito próspera e evoluída.
Distrito 9¹ subverte totalmente este conceito, apresentando aliens que são encontrados em sua nave num estado de desnutrição, escorregando nos próprios excrementos. Tal é a miséria destas criaturas que precisam da ajuda dos humanos pra sobreviver, ainda que em condições insalubres, aglomerados em uma favela improvisada.
A explicação para este fenômeno é convincente: a nave devia fazer parte de uma frota maior e se desgarrou. Devia existir uma classe mais avançada no comando da nave, mas morreram por algum motivo, sobrando apenas a classe inferior, que devia ser menos inteligente e responsável por tarefas braçais.
Estes aliens, apelidados pelos humanos de "camarões", são mais fortes e resistentes que os humanos, mas não parecem mais inteligentes ou civilizados, com algumas raras exceções. No geral se comportam como bárbaros, são literalmente viciados em ração de gato, que aceitam como escambo, trocando pelas armas e a tecnologia presente na nave.
Camarão. |
As armas de fogo são mais avançadas e poderosas que as dos humanos, mas têm alguma espécie de trava baseada no DNA do usuário, de modo que só os aliens conseguem ativá-las. É aí que entra o Wikus, um burocrata que é enviado ao acampamento para assinar ordens de despejo, pois o governo pretende realocar aqueles seres para outro acampamento distante da cidade, de modo a evitar conflitos com os moradores locais.
O trabalho de Wikus parece um episódio de The Office. Ele é um cara palermão e atrapalhado, além disso trata os aliens com desprezo, como se fossem meros bichos. Por um lado é compreensível, pois mesmo que os "camarões" sejam inteligentes e se comuniquem com os humanos, eles têm essa aparência grotesca, como baratas humanoides kafkianas, que acaba contribuindo para o efeito desumanizante.
Esta é uma verdade. Nós desenvolvemos mais empatia por seres com rosto humano ou que de alguma forma nos pareçam belos ou fofinhos. É fácil simpatizar com um doguinho ou admirar um belo gavião, mas quem em sã consciência criaria uma barata de estimação? Normalmente a primeira reação de uma pessoa, caso uma barata passe em cima de seu pé, é tentar chutá-la para longe ou esmagá-la.
Os tribbles eram uma verdadeira praga, mas pelo menos eram fofinhos. |
Criaturas gosmentas, molóides ou cascudas artrópodes estão entre as que mais nos causam nojo e estes aliens que vieram acidentalmente para a Terra deram azar de ter uma aparência nada atraente para humanos. Na certa se fossem fofinhos, como os tribbles de Star Trek, as pessoas iam querer segurar no colo.
Enfim, o Wikus, que é tão escroto a ponto de se divertir tacando fogo nos bebês dos aliens, o que ele chama de "aborto", entra em contato com uma substância que gradativamente vai mudando seu DNA, literalmente transformando-o em um dos aliens. É uma autêntica situação kafkiana.
A reação dos militares e cientistas é previsível: aprisionam Wikus e começam a fazer torturantes experimentos com ele, testam as armas alienígenas, que reconhecem o DNA dele, mas o coitado consegue fugir antes de ser dissecado e começa uma caçada humana. Ao longo de sua fuga, Wikus vai se tornando mais e mais alienígena e acaba desenvolvendo por eles uma nova empatia, já que agora ele faz parte da espécie.
A redenção do Wikus acontece quando ele se transforma completamente naquilo que antes desprezava. Todo o corpo dele se metamorfoseia e ele vira um alien indistinguível dos outros, o que é a melhor forma dele permanecer oculto dos humanos que queriam capturá-lo.
Com ajuda de Wikus, um dos aliens consegue voltar para a nave e ativá-la, partindo para o espaço. Ele promete voltar para resgatar Wikus e, levando em conta que o alien viu o que os humanos faziam no laboratório com a espécie dele, provavelmente voltarão para travar uma guerra.
Após mais de dez anos, o diretor Neill Blomkamp confirmou que há uma sequência sendo produzida, chamada Distrito 10. Ele enfatizou que Distrito 9 foi inspirado no apartheid, um fenômeno social que ele vivenciou na África do Sul, e que vai manter este tema na continuação.
Notas:
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