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Elon Musk, personalidade do ano e precursor do mundo cyberpunk

Elon Musk

A revista Time escolheu Elon Musk para o badalado título, a coqueluche do momento¹, Personalidade do Ano de 2021. Acho esta escolha bem emblemática.

Para Personalidade do Ano, a Time não necessariamente escolhe quem fez o melhor pela humanidade. Não é um Nobel da Paz² ou coisa do tipo, mas uma mensuração de influência, positiva ou negativa. Na última década, este título se dedicou bastante a políticos: Obama em 2012, Merkel em 2015, Trump em 2016, Biden e Harris em 2020 e também podemos incluir o papa Francisco em 2013, que em termos globais é uma importante figura política.

A última vez que um empresário do ramo de tecnologia foi Personalidade do Ano foi em 2010, com o Mark Zuckerberg, o que também foi emblemático. O reptiliano-alien-androide representou a era das redes sociais, que teve seu boom nesta década de 2010-2020. 

As redes sociais mudaram o mundo de uma forma que mal podemos estimar. Opiniões, hábitos, a consciência coletiva, novos vícios, novos gostos, novas antipatias, novas estupidezes... muita coisa surgiu ou evoluiu com as redes sociais. 

Logo, pode-se dizer que ninguém foi mais influente na transformação global nesta década do que o Mark Zuck. E olha que o pivete na época do título tinha só 26 anos (e agora 37 anos, a mesma idade em que o Bambam criou o meme do Birl).

O mundo viveu a fase dos reis e imperadores. Eram eles que exerciam a máxima influência sobre os rumos da civilização. Aí também se inclui a igreja católica, que é como um reino em termos políticos. Então veio a era moderna, os estados nacionais, e os rumos da história ficaram nas mãos de políticos, presidentes e primeiros-ministros. O auge desta fase foi o século 20 e vimos no que isto deu: as maiores e piores guerras da história humana.

O século 21 marcará a passagem da era dos políticos para a dos empresários de tecnologia. É um processo parecido com o que Asimov descreveu na Fundação, sendo que no livro estas eras levaram séculos para acontecer, enquanto nós estamos vendo as coisas mudarem em décadas.

Um sujeito como o Mark Zuckerberg teve mais influência nas transformações do mundo nesta década do que todos os políticos. Antes dele, teve o Bill Gates e Steve Jobs. Estes dois ainda representam a era dos boomers. Eles eram pessoas nascidas na década de 50, com visões de mundo do século 20 e seu modelo de negócios estava impregnado desta visão. O Jeff Bezos, nascido em 1964 foi a fase intermediária entre Bill Gates e Zuckerberg.

Sim, ainda hoje Gates e Bezos têm grande influência, mas eles já têm impérios estabelecidos. Os novos reinos do mundo serão as corporações (pois é, a profecia cyberpunk parece cada vez mais real). Amazon, Google, Microsoft e Meta/Facebook são os novos reinos desta era.

Então entra nesta equação o Elon Musk. Diferente dos outros citados, ele ainda não tem um reino estabelecido, no entanto, o que ele vem empreendendo tem potencial (e provavelmente vai se concretizar) para fundar novos reinos com um poder e influência nunca antes vistos. É justo que ele seja a personalidade desta nova década, pois o que vem aí pela frente será em grande parte protagonizado pelas empresas dele.

O debate sobre crise climática existe há décadas. Alguém aí lembra da Eco 92, do Roberto Carlos cantando sobre o fim das baleias e a Xuxa sobre o boto rosa? Antes deles o Gonzagão já cantava no seu Xote Ecológico de 1989:

"Não posso respirar, não posso mais nadar.
A terra está morrendo não dá mais pra plantar.
Se plantar não nasce, se nascer não dá.
Até pinga da boa é difícil de encontrar.

Cadê a flor que estava aqui?
Poluição comeu.
O peixe que é do mar?
Poluição comeu.
O verde onde é que está?
Poluição comeu.
Nem o Chico Mendes sobreviveu."

Recentemente veio a Greta Thunberg, claramente uma ferramenta política para falar aos mais novos, já que ela recorria mais à emoção do que propriamente a argumentação. Na verdade, Greta ainda é velha política, é o ativismo ecológico estilo Green Peace, apelando às emoções. 

Nesta década de 2020-2030, porém, algo vai mudar na agenda ecológica. Ela se tornará bem mais intensa e podemos dizer até autoritária, ou, em termos mais amenos, será mais normatizada, estabelecida em leis e, especialmente, taxas e impostos. O imposto de carbono está vindo aí.

O fato é que, com o acirramento da agenda ecológica, a Tesla do Elon Musk vai crescer como nunca. É aquela coisa, o pioneiro consegue terrenos maiores e melhores. A indústria de veículos em geral vai migrar para a tecnologia elétrica, tornando obsoletos os combustíveis fósseis³. Postos de gasolina vão falir ou migrar para o abastecimento de baterias elétricas. A Tesla, como é pioneira, já estará bem avançada quando tudo isto se normalizar.

Mais ainda, a Tesla também está desenvolvendo os carros autônomos, outra tendência da década. O hábito de possuir um carro será cada vez menos comum. Hoje em dia a cultura do Uber já está implantando esta mentalidade de "ter um carro pra que se posso alugar um quando preciso". 

Eis que ao longo da década o carro autônomo substituirá o motorista de Uber. Pois é, uma onda de mudanças no mercado de trabalho virá aí, já que Uber e motoboys têm sido uma oportunidade de renda pra muuuita gente. Na próxima década esta galera vai ter que se reinventar mais uma vez.

Bom lembrar que antes da Tesla o Elon Musk já havia participado de uma grande transformação global com o Paypal, praticamente lançando as bases do modelo de economia que se tornaria comum: o da transação digital, que depois seria complementado pelas criptomoedas e que se estabelecerá com as moedas digitais nesta década. 

O Brasil mesmo já está planejando testar sua moeda digital em 2022. Não que o dinheiro em papel vá acabar tão cedo, mas ele será cada vez mais incomum, assim como é incomum hoje pagar alguma coisa com um cheque.

É curioso então ver como o Elon Musk já estava presente nesta revolução global envolvendo as finanças e agora irá protagonizar a revolução dos carros elétricos e autônomos. Se parasse por aí, ele já estraria para a história como uma das figuras mais influentes do século 21, só que o danado, nerd que é, soube dedicar seus bilhões em projetos que olham beeem mais pra frente: Neuralink e SpaceX.

A chance destas duas empresas falirem é grande. É um grande tiro de canhão em direção à lua, bem no estilo Julio Verne. Musk planeja nada menos do que construir uma base em Marte, base que será frequentada ocasionalmente por humanos e operada por robôs, os Tesla Bots. A longo prazo (o que em termos viáveis significa séculos), ele vislumbra a terraformação de Marte. Qual bilionário antes dele teve coragem de investir em uma ideia tão fantasiosa?

Uma simples viagem tripulada a Marte já é em si uma tarefa colossal e caríssima, o que dizer então da construção de uma base. A terraformação de Marte será o empreendimento mais gigantesco já feito pela humanidade, mas isto aí já é coisa que deixaremos para as gerações dos próximos séculos resolverem. O fato é que tudo isto está começando por iniciativa do Elon Musk. 

Quanto ao Neuralink, é um projeto que dependerá não só de brilhantes cientistas como de convincentes marqueteiros. Não será fácil popularizar um chip que deve ser implantado no crânio (se bem que o piercing e a tatuagem hoje são coisas bem comuns e o processo de implantação do chip não é muito mais invasivo que isso).

O implante do chip é o de menos. O mais invasivo no Neuralink mesmo será o acesso literal à mente humana, com toda sua imensidão de dados. Será um boom nunca antes visto no data mining.  Pois é, depois da internet das coisas, que já é uma realidade, vem aí a internet dos corpos, que hoje existe na forma de equipamentos vestíveis, como o smart watch, e futuramente virá como implantáveis. Aí sim poderemos dizer definitivamente que vivemos na era cyberpunk.

O potencial do Neuralink é assombroso, para o bem e para o mal. Mais do que os carros elétricos ou a viagem a Marte, se esse troço der certo, vai mudar a humanidade de uma forma comparável à mudança que tivemos quando surgiu a internet. Mais ainda, pois a conectividade humana será ininterrupta. Nos tornaremos criaturas diuturnamente conectadas, até mesmo quando dormimos. 

É uma visão bem distópica, nos traz à mente a comunidade dos borgs de Star Trek. Ter um chip na cabeça que nos mantém ligados todo o tempo na internet e em supercomputadores que vão aprimorar nossas percepções, habilidades e nossa velocidade de comunicação e aprendizado é algo fascinante e ao mesmo tempo terrível. Será a ciborguização da humanidade, pela primeira vez em nossa história conhecida (sabe-se lá se em eras remotas da nossa história de 250 mil anos não houve alguma fase perdida em que algo parecido já aconteceu).

Sendo bem realista, acho improvável que algo como o Neuralink se torne o novo smartphone nesta década. Ora, os óculos VR existem desde a década de 90 e até hoje a coisa não é tão comum ou acessível. Nesta década, porém, parece ser a vez do VR finalmente. É isto que será o trend antes do chip na cabeça. É uma ideia bem mais confortável poder ter acesso à internet usando um óculos de aparência comum, do que tendo um troço implantado no cérebro.

Logo, neste aspecto o Zuckerberg vai continuar relevante e ele já está investindo pesado nesta área. O metaverso, que dependerá bastante dos óculos VR, é um terreno que será pioneiramente do reino Facebook, mas todos os outros gigantes terão também seus latifúndios. Será uma era de avatares fofinhos e deslumbre com toda a ambientação de realidade aumentada que este novo mundo nos apresentará.

Ao mesmo tempo em que nós, humanos, estaremos migrando para o metaverso, fazendo nossas reuniões (como disse o Bill Gates recentemente, nos próximos três anos as reuniões das empresas serão todas no metaverso), socializando (claro que o "rolé com os amigos" vai continuar existindo de forma presencial, mas será um evento tão raro quanto festa de aniversário, comparado ao encontro virtual no metaverso que será um hábito semanal ou diário das pessoas), frequentando cultos religiosos (pois é, a ciberreligião vem aí) e até turismo, o mundo físico será ocupado pela mão de obra robótica.

Aí mais uma vez entra o Elon Musk com o Tesla Bot, os carros autônomos e, mais ainda, a sua colossal infraestrutura de internet por satélite que já está em funcionamento, o Starlink. É isso que vai possibilitar o funcionamento de uma vasta internet das coisas envolvendo drones, carros e robôs diversos, indo e vindo por toda parte, fazendo entregas, limpando as ruas e até cortando a grama das praças.

Obviamente, o mundo não muda homogeneamente. Este cenário acontecerá mais rápido nas metrópoles, que sempre foram o local de teste das inovações tecnológicas. Nas cidadezinhas do interior muita coisa vai demorar a acontecer, tanto que ainda hoje existem carroceiros andando com seus jumentinhos em pequenas cidades. É bom que seja assim, pois existe uma opção aos que não se sentirem confortáveis com tanta invasão tecnológica. Quem não estiver a fim de viver este mundo novo, fuja para o interior. 

Mesmo no interior, porém, certas tecnologias se normalizarão. O metaverso chegará em todas as vilas, até em tribos no meio da selva. Índios hoje usam smartphone e amanhã usarão os óculos VR, o que é uma coisa bem pitoresca de se imaginar. 

Enfim, por tudo isto a escolha do Elon Musk neste início de década foi emblemática. Ele de fato representa o que está por vir, esta nova era pré-cyberpunk que vai mudar o mundo até 2030. 

Notas:

1: Umas gírias arcaicas em um texto futurista, por amor à ironia.

2: Não que Nobel da Paz hoje signifique muita coisa, já que o título é dado até a presidentes que promoveram intermináveis guerras, né, Senhor Obama.

3: Na verdade os combustíveis fósseis vão continuar em uso, porém em usinas, como complemento na geração de energia e provavelmente ainda em aviões, navios e foguetes, mas o usuário final, o indivíduo comum terá acesso apenas a máquinas que usam energia elétrica.

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