A consciência é um tipo específico de inteligência. Não é preciso uma superinteligência para a consciência existir. Os computadores são bastante inteligentes em determinadas tarefas, superando em muito os humanos, mas, em termos de consciência, eles não são tão diferentes de uma formiga.
Nos animais existe uma proto-consciência, que consiste na distinção entre si mesmo e os outros, entre o eu e o ambiente. Uma formiga sabe que um torrão de açúcar é outra coisa externa a ela própria, uma coisa que ela pode coletar. Obviamente, a formiga não dá nomes às coisas e não chama aquilo de "açúcar", mas ela tem uma noção básica de que se trata de algo com o qual ela possa interagir, no caso, coletando e levando para a toca.
A proto-consciência também permite aos animais fazer distinção entre amigos e inimigos, até entre parentes e estranhos. Um gato vê seu dono como uma mãe e trata-o com um afeto e distinção que não dedica a outras pessoas. Se entra um estranho na casa, o gato entenderá como um estranho, olhará com desconfiança, mas, caso esta pessoa seja uma visita frequente ou interaja com o dono do gato, o gato com o tempo pode criar amizade com ela.
Também se uma pessoa maltrata um gato, ele passará a entender que trata-se de uma ameaça, um inimigo, e a evitará. O gato sabe distinguir as pessoas. Para ele cada humano é um ser distinto, que ele identifica pelo cheiro, aparência, comportamento, etc. Isto é uma proto-consciência. Até galinhas e ratos, com seus minúsculos cérebros, têm esta capacidade.
Logo, não é preciso uma gigantesca capacidade computacional para ter uma proto-consciência, para fazer distinção das coisas. De fato, computadores já fazem isto. Um computador tem noção de que é um computador, pois é isto que o faz funcionar. O software reconhece e entende suas próprias partes, seu hardware, seus comandos, e quando se depara com um hardware ou código incompatível, ele reconhece que se trata de algo que não faz parte dele, algo estranho e que requer novas instruções para ser entendido.
A IA já é capaz de fazer reconhecimento facial e distinguir uma bola de uma maçã, de modo que já está no nível dos gatos, embora ainda sem a formidável capacidade de percepção felina, que é algo que a IA só terá com um upgrade de hardware, ganhando sensores mais detalhistas, pois basicamente a IA hoje percebe o mundo por meio da visão e audição. A IA, diferente dos gatos, ainda não sente cheiros.
E onde está a pura consciência? Ao que parece, só humanos a possuem neste planeta (ignorando-se a possível existência de outros seres do nosso nível e que estejam entre nós discretamente, como alienígenas e seres de outras dimensões ou espectros).
Animais podem ser extremamente inteligentes. Existe este mito, ou não, de que golfinhos são tão inteligentes quanto humanos. Bom, os golfinhos não levaram um golfinho à lua, mas enfim... O fato é que mesmo golfinhos não parecem demonstrar a presença de uma consciência profunda.
Enquanto a proto-consciência se manifesta no reconhecimento da distinção eu/outro, o que basicamente é uma distinção material, física, uma distinção de corpos e objetos, a consciência faz isto em um nível subjetivo, imaterial, a ponto dela ser capaz de reconhecer a si mesma!
Os humanos são capazes de pensar sobre os próprios pensamentos, de ter um diálogo interno, o que demonstra o reconhecimento da existência de um ser interno, uma alma ou mente que é uma entidade, um indivíduo, tanto que você conversa com ele.
A consciência é uma espécie de espelho em que narcisicamente contemplamos a nós mesmos e este espelho acaba se tornando um caleidoscópio, uma vez que a auto-percepção se depara com os aspectos multifacetados da mente.
Curiosamente, esta capacidade mental não parece ser algo que exija um grande volume de dados ou processamento. A consciência é um processo simples. Se fosse comparada a um software, ela não seria um sistema operacional inteiro, mas apenas aquela ferramenta responsável por fazer a varredura dos arquivos, uma ferramenta de auto-análise.
O maior volume de dados que ocupa o cérebro é a memória. Há uma estimativa de que o cérebro trabalha cerca de 2,5 petabytes de dados, sendo boa parte disto a sua gravação de tudo o que vê, ouse, sente, lê, aprende, enfim, a memória. Se, porém, mutilarmos a memória de uma pessoa, se ela sofrer de uma forte amnésia, ainda assim ela chegará ao ponto de se perguntar: "Quem sou eu?". Ora, perguntar "quem sou eu" é um ato de consciência.
Cogito, ergo sum. O ato de pensar sobre si mesmo revela a existência da consciência, de modo que a consciência é a maior evidência de sua própria existência e do ser que a possui. A consciência é a única coisa plenamente auto-evidente em todo o universo. Quem a possui tem certeza de que ela existe porque ela testifica a si mesma. Você pode duvidar de tudo o mais. Tudo à sua volta pode ser uma miragem, uma simulação, um sonho, mas a sua consciência não pode ser desmentida, pois a própria dúvida sobre a existência dela já é a prova da mesma.
O grande mistério é a origem da consciência. Como se forma na mente uma entidade tão idiossincrática, tão própria? A partir de que momento ela "nasce" nos humanos? Bebês já a possuem? Já existe uma semente de consciência no primitivo sistema nervoso de um feto? Qual região do cérebro é responsável por este processo?
Para o budismo, a consciência é autocriada, o que, convenhamos, tem uma lógica. Esta entidade etérea dedicada à autocontemplação parece ter sempre existido assim, voltada a si mesma. Expandindo esta ideia é que se chega ao conceito panteísta de que a consciência é algo que permeia todo o cosmo, talvez algum tipo de campo quântico ou de outra natureza desconhecida, e que ela encontra certos receptores, como o cérebro humano.
Neste caso, nós somos um roteador da consciência cósmica, o que também explica a existência da consciência coletiva, dos fenômenos de sincronicidade, telepatia, do "eu pensei em você" ou "sonhei com você" em curiosas coincidências quando algo acontece com uma pessoa e nós, à distância, sentimos.
A consciência cósmica é o próprio universo observando a si mesmo, o que ele faz em uma escala microcósmica, por meio dos indíduos dotados de consciência. Se, por um lado, isto faz você se sentir pequeno diante da magnitude universal, também deveria fazê-lo sentir-se grande, pois você foi dotado de nada menos que o olho do universo, a capacidade de refletir no mais puro sentido desta palavra: refletir, como num espelho.
O que falta, então, para que computadores tenham consciência? Aparentemente, bastaria elaborar um software com a função de pensar sobre si mesmo, mas isto daria ao computador os poderes mágicos que a nossa consciência tem? Provavelmente seria só um simulacro.
Talvez o despertar da consciência seja algo que depende da vontade do próprio universo. Talvez a nossa estrutura física, nosso DNA, tenha uma configuração especificamente afinada para a captação da consciência cósmica, de fato como uma antena.
Aliás, se somos antenas, qual é o alcance de sua percepção? Nossa percepção estará limitada a este planeta ou será que podemos alcançar as estrelas e as consciências de outros seres mundo afora? Será que, em sonhos, já tivemos contato com outros mundos?
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