O fascínio pela caçada humana existe desde sempre. As lutas de gladiadores na Roma antiga são um bom exemplo de quão glamourizada a caçada humana se tornou, afinal construíram até o belo e imponente Coliseu só por causa deste show de carnificina.
Muitas das antigas formas brutais de jogos mortais foram amenizadas com o tempo, se tornando esportes de luta ou meros rituais simbólicos. Na ficção, porém, a brutalidade pôde ser mantida, para deleite do público.
O cinema já está cheio destes filmes em que pessoas são caçadas em um jogo macabro. A franquia Jogos Vorazes (2012-2015) fez tanto sucesso que logo surgiram outras séries do gênero, como Divergente (2014-2016) e Maze Runner (2014-2018).
Um grande ícone da ficção de jogo mortal é o romance Battle Royale, de 1999, que mostra uma bizarra sociedade em que os alunos do ensino médio são forçados a lutar entre si até a morte, por ordens do governo totalitário.
O livro foi adaptado para mangá, depois filmes e hoje em dia o termo battle royale já é bem conhecido no mundo dos games para definir um tipo de jogo eletrônico em que os jogadores caçam uns aos outros, como PUBG e Fortnite.
Enfim, não há nada de novo neste assunto. Em 2020, o canal Quibi produziu uma série de 16 episódios curtinhos, estrelada pelo tarantinesco Christoph Waltz, a bela Sarah Gadon e o irmão do Thor, Liam Hemsworth. Em 2021, a Amazon relançou a série, porém com todos os episódios juntos, como um filme.
O título original deste filme é Most Dangerous Game, mas os tradutores brasileiros resolveram tirar da gaveta de títulos uma versão clichê que já foi usada antes: Jogo Perigoso. Antes deste, já teve outro filme traduzido como Jogo Perigoso, o Gerald's Game, adaptação de um livro de Stephen King.
Esse filme também teve uma inspiração literária e bem mais antiga, baseado no conto The Most Dangerous Game, de Richard Connell, publicado em 1924. Inclusive este conto rendeu adaptações bem nos primórdios do cinema. Não cheguei a assistir nenhuma, mas suspeito que devem ser mais interessantes que a versão de 2020.
O conceito lembra também o Hostel, do Tarantino e seu pupilo Eli Roth, em que ricaços pagam pra torturar pessoas, só que no Hostel estes ricos são mais covardes e recebem suas vítimas já acorrentadas. Já em Jogo Perigoso os caras ricos são os próprios caçadores e devem ser talentosos, atléticos e corajosos para correr atrás da vítima.
Ok, ok, a premissa é divertida, afinal todo mundo curte a ideia de uma caçada humana (na ficção, obviamente). Só que o formato da caçada, feita em plena cidade, torna a coisa bem improvável e inverossímil.
Ora, se algo do tipo acontecesse no mundo real, qualquer pessoa com um mínimo de malandragem conseguiria "embromar" os caçadores. Parece que não havia nenhuma regra sobre ficar sempre no mesmo local ou interagir com as pessoas.
Ele podia ficar em uma praça, um ambiente aberto, com seguranças por perto. Podia ficar enrolando os caras. Sentava em um banco. Se alguém se aproximasse, levantava, dava uma voltinha correndo, parava num vendedor de sorvete, puxava papo. Enfim, em ambiente público há muitas maneiras de ficar driblando os caras.
Sabendo que os caçadores tentariam matá-lo de forma discreta, era óbvio que não tentariam chamar atenção em ambiente público. Em vez de se manter em cenário aberto, o protagonista entrou em locais fechados, se trancou em um banheiro, entrou em um confessionário de igreja. Foi o típico personagem burro de filmes de terror.
Além de burro, Dodge é um banana. O cara é um atleta, é ágil e forte, mesmo doente, mas quando fica cara a cara com os caçadores não tem a mínima iniciativa de meter um soco na cara. Na cena do banheiro, ele chuta a porta e consegue até derrubar o ricaço, o que seria a oportunidade pra dar uma bela surra até deixá-lo inconsciente.
Mas ok, há uma justificativa pra isso, que é o fato de Dodge ser um cara muito certinho e bonzinho. Ao longo da caçada ele vai se transformando até finalmente se tornar capaz de matar. Anyway, é um filme de ação ok, nota 6 (só não é 5 porque tem o Christoph Waltz como vilão).
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