Hoje se fala muito em doutrinação e lacração nos quadrinhos e desenhos animados, o que de fato acontece. Os que reclamam desta prática costumam dizer que antes não era assim, que os desenhos dos anos 80 ou 90 eram puro entretenimento sem doutrinação, mas deixe-me falar uma coisa: isto sempre existiu e não era propaganda apenas de um lado.
Como diria Alan Moore, no mundo não existe apenas UM grupo de poder conspirando e impondo sua agenda, mas sim um conflito caótico de interesses e grupos diversos. Assim é na indústria do entretenimento.
Bom, é conspícuo que o cinema hollywoodiano em geral é mais simpático a propagandas da agenda progressista, pelo simples fato de que a California é um estado repleto de progressistas, a maioria dos atores, roteiristas e diretores o são.
Já houve tempo em que o cinema era mais dedicado a pautas ditas conservadoras, porque era o zeitgeist do momento, como nos anos 50-60, em que os filmes e séries eram voltados à chamada "família tradicional". Aí vieram os hippies, a revolução cultural dos anos 60 e a arte pop foi se impregnando de influências não conservadoras.
Um exemplo emblemático disso é a transição de Elvis para os Beatles. Elvis era um cristão conservador e em seu repertório havia muitas músicas gospel. Não que ele não fosse um rebelde para os padrões do recato conservador da época. Seu rebolado era um escândalo para as senhorinhas, mas encantava as filhas e netas destas senhorinhas. O fato é que, mesmo com seu jeito ousado, Elvis se encaixava no zeitgeist conservador.
Aí vieram os Beatles flertando com a nova era, com filosofias asiáticas e até o satanismo (Aleister Crowley não estava na capa do disco à toa). Os Beatles fizeram a atrevida declaração (e bem chocante para a época) de que eram mais famosos do que Jesus. Era um tapa com luva de pelica no rosto do conservadorismo ou um chute na porta, como que dizendo: agora estamos entrando nesse mercado.
E assim tem sido ao longo das décadas. A indústria do entretenimento possui evangelistas de todas as causas. Tem cristãos, tem ateus, tem satanistas, tem moralistas e pervertidos. Normalmente as pessoas só vão enxergar propaganda quando se trata de algo que elas não concordam.
Enfim, fiz esta introdução apenas porque hoje do nada lembrei da música de abertura de um desenho dos anos 80 chamado Jem, ou Jem e as Hologramas. Olha, os desenhos antigos sabiam fazer música-tema chiclete, pois até hoje lembro dessa musiquinha "Ôhh Jem! É contagiante, chocante. Meu nome é Jem e não há ninguém igual a Jeeem!"
O curioso nesse desenho é que as heroínas, especialmente a Jem, tinham este visual de Barbie e uma postura de "moça direita", enquanto as vilãs, chamadas de Desajustadas, tinham uma aparência inspirada nos punks. Era esta a mensagem implícita, os rebeldes punks eram maus e o certo era ser a moça comportada.
Pode-se dizer que isto é um tipo de propaganda e mais voltada para o conservadorismo, se bem que nos anos 80-90 nem os progressistas gostavam dos punks, pois estes eram os verdadeiros críticos do sistema (antes de punk virar apenas mais uma moda estética). Como em toda propaganda, o tiro pode sair pela culatra, pois tinha crianças que simpatizavam mais com as Desajustadas.
Fiquem com a abertura contagiante:
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