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Army of Thieves, o filme menos violento do Zack Snyder

Army of Thieves (2021)

Zack Snyder sempre foi um autor/diretor de terror. Seu melhor filme (na minha mera opinião) foi Dawn of the Dead¹, onde ele mostra como sabe contar uma boa história de terror (ok, o roteiro era do James Gunn, mas a narrativa visual do Snyder funcionou muito bem).

Aí veio a fase de filmes de super-heróis e Snyder deu ao gênero as cores, ou melhor, a falta de cores, do seu estilo graduado na escola do terror. Liga da Justiça, especialmente o Snyder Cut² é sombrio e mais violento do que os Vingadores da Disney.

Nesta fase, o tio Zeca se tornou mundialmente conhecido, um diretor mainstream e que dividiu opiniões. Após tragédias pessoais e o drama que foi o lançamento e relançamento de Liga da Justiça, o diretor parece que largou o osso dessa bilionária indústria e voltou ao puro gênero de terror com algo mais próprio e autoral, uma volta às origens em Army of the Dead³.

Em Army of the Dead ele ficou bastante livre para ser o verdadeiro Zack Snyder: tascou muito gore, castigou os personagens, brincou com humor negro, além de manter suas assinaturas visuais, o slow motion, o filtro sombrio, etc.

Army of the Dead parecia ter a intenção de se expandir, de criar o próprio universo cinematográfico fictício do Zack Snyder, o snyderverso. E esta expansão está começando a acontecer, agora que saiu o spin-off Army of Thieves (2021).

Matthias Schweighöfer; Army of Thieves (2021)

Army of Thieves é focado em um dos personagens do filme anterior, o alemão loirinho Sebastian, que foi o arrombador do cofre no cassino do primeiro filme. Ambos os filmes se encaixam no gênero heist movie, só que com uma diferença enorme de tom. 

O primeiro tem zumbis e é puro terror e violência sem dó. O segundo é curiosamente bastante contido na violência e os personagens se esforçam ao máximo para não dar um só tiro com armas de fogo. É a coisa mais estranha que Zack Snyder já fez em sua carreira.

A explicação pra isto parece simples: o diretor na verdade foi o Matthias Schweighöfer, o próprio ator que interpretou o protagonista Sebastian. Todavia, não só a direção explica o tom "sereno" do filme, já que o roteiro é de fato de Snyder. 

Parece então que desta vez o velho Zeca tentou algo bem diferente do seu estilo e intencionalmente criou personagens que são ladrões por arte e não por maldade ou necessidade. Isto mesmo, em Army of Thieves vemos um bando que assalta cofres como uma espécie de realização pessoal, como escalar um Everest para depois ter um grande feito a se gabar. São amantes da arte do arrombamento de cofres.

O grupo já profissional de ladrões recruta o pacato Sebastian, que é um aficionado por cofres, e se engaja numa saga para assaltar uma série de cofres construídos por um lendário artesão, Hans Wagner, que se inspirou na obra musical de Richard Wagner para adornar suas caixas com a versão wagneriana da mitologia nórdica.

A ação se passa em Paris, seguindo a fórmula básica de um heist movie. Temos uma equipe de especialistas, um plano para entrada e saída do banco e um policial que persegue passionalmente o grupo como sua Moby Dick particular. 

As cenas de perseguição nas ruas são bem típicas, com aquela musiquinha frenética e genérica de sempre, um romance forçado e insosso é desenvolvido entre Sebastian e Gwen, a ladra que o recrutou, e no final ele obviamente sobrevive, já que o filme é uma prequel de Army of the Dead.

O mais estranho é de fato o comportamento "politicamente correto" deste grupo de assaltantes. Eles evitam ao máximo usar armas de fogo e em uma cena um dos personagens usa um rifle que dispara dardos tranquilizantes. A Gwen é artista marcial e luta contra guardas só com as mãos e, quando muito, ao pegar em uma arma usa para bater neles com a arma, mas sem jamais atirar.

Army of Thieves (2021)
Uma das raras vezes em que um personagem fala "vai tomar no cu" em um filme gringo.

Uma curiosa personagem do grupo é a Korina, interpretada por Ruby O. Fee, uma atriz poliglota por natureza, já que ela nasceu em Costa Rica, filha de mãe alemã e pai francês, passou a infância no Brasil e depois viveu na Alemanha. No filme, Korina é brasileira e a vemos falar português em algumas ocasiões, inclusive mandando o bom e brasileiro "vai tomar no cu!" (a atriz fala em português mesmo, mas na tela aparece uma legenda traduzindo como o genérico "fuck off"). 

A propósito, Ruby e Mattheus são namorados desde 2019. Em certa cena Korina dá em cima de Sebastien, mas leva um tácito fora, o que acaba sendo uma piada interna, já que os atores são namorados.

No finalzinho temos o link entre os dois filmes: Dave Bautista e Ana de la Reguera aparecem para recrutar o alemão para assaltar o cofre em Las Vegas. Este cofre é nada menos que um Hans Wagner, o que imediatamente ganhou o interesse de Sebastian. 

Sendo uma prequel de Army of the Dead, a história se passa ainda no início do surto zumbi, de modo que zumbis são apenas ocasionalmente mencionados nas notícias da TV e aparecem também em alguns pesadelos de Sebastian, como uma profecia de sua futura aventura e morte em Las Vegas.

Notas:



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