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Aposentando o Team Fortress 2

Team Fortress 2

Team Fortress 2 foi minha primeira experiência com esta categoria de jogo, um FPS competitivo. Ele é nada menos que um dos precursores do gênero. Ao longo de um ano e meio, acumulei um bom número de horas de diversão até que finalmente resolvi me aposentar. Eis aqui algumas observações sobre o que aprendi acerca da jogabilidade e dos personagens.

Desde o começo não me dei bem com o Spy. É um personagem poderoso e já vi vários Spys ficando nos primeiros lugares na pontuação das partidas, mas meu santo não bateu com o personagem. Primeiro que ele é essencialmente um personagem de melee, isso em um FPS. 

Ele até pode usar pistolas e uma delas é capaz de matar com headshot, mas geralmente o trabalho do Spy é corpo a corpo, e pelas costas. Ele só presta se apunhalar pelas costas. Além disso ele tem uma importante função estratégica de desabilitar as máquinas do Engenheiro. Nenhuma destas atividades me interessa. Então nem tenho uma hora de jogo com Spy. Não tenho nem conquistas.

Team Fortress 2

Aliás, entre os inimigos, é o personagem que mais odeio. Ser apunhalado pelas costas por um inimigo invisível é frustrante e irritante e talvez uma das maiores raivas que os jogadores iniciantes passam em TF2. Com o tempo a gente vai pegando as manhas, aprendendo a não correr direto sem olhar pra trás. 

Isso inclusive é bem irritante também, ter que ficar olhando pra todos os lados nessa paranoia de que a qualquer momento um Spy pode chegar pelas costas. É uma disputa injusta, pois todos os outros personagens veem uns aos outros e podem combater em iguais condições, mas o Spy ataca com a vantagem da invisibilidade, de modo que o primeiro hit sempre será dele. Claro que no momento do ataque ele fica visível, mas aí já é tarde demais pra quem está de costas pra ele.

E talvez só por isso o Pyro seja meu segundo personagem mais jogado, depois do Engenheiro. De tudo o que o Pyro pode fazer no jogo, sua melhor função é desvendar o Spy, fazer o spycheck. E nisso fiquei muito bom, motivado pelo meu ódio por essa raça. 

O bom Pyro não sai correndo em linha reta (o famoso W + M1, ou seja, a tecla W de andar pra frente e o botão de tiro do mouse), o Pyro deve correr em ziguezague, em círculos, dando voltas em torno de si e spamando chamas pra todos os cantos porque com isso possui mais chances de acertar Spies que estejam passando por perto e aí os malditos se revelam, já que um Spy em chamas fica parcialmente visível. Aaah, que sensação boa é essa de ver um Spy incendiado correndo desesperado porque não está mais invisível!

Depois do Spy, os que menos joguei foram Sniper e Scout. No começo o Sniper me pareceu bem atraente, mas ele é talvez o personagem mais incompatível com a natureza desse jogo. Team Fortress é competitivo, cada mapa é uma arena e a movimentação de jogadores é frenética. 

Devido à estrutura dos cenários, é impossível um Sniper ficar a uma distância consideravelmente longa dos jogadores. Não é como em um mundo aberto em que você pode atirar do alto de uma montanha. A distância entre o Sniper e os inimigos é curta de modo que é comum os Snipers serem atormentados por Scouts e Spies e Pyros que correm até o seu spot ou Soldiers e Demomans que chegam em pulos surpresa.

A meu ver, a graça de snipar está no cálculo e na precisão (como disse o Jovem Nerd, é "o poder da matemática"). É um estilo de tiro de frieza e paciência. A ideia é matar com a menor quantidade de tiros possível. Cada tiro importa, diferente de um ataque de infantaria que mete o louco dando spray de tiros feito Rambo. 

Snipar é praticar a atenção e o olho bom, capaz de mirar certinho em pixels à distância e pixels em movimento. Mas no TF2 o Snyper está a todo momento tendo que lidar com situações de curta distância, usando melee inclusive.

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Quanto ao Scout, acho divertido jogar com ele. Sua velocidade o diferencia de todos os outros e é claramente o personagem mais capaz de se meter na linha de frente e atravessar uma área cheia de inimigos e ainda sair vivo. 

Sua principal tarefa é capturar as maletas ou os pontos das bases e também pode ser bom em matar pelas costas. Mas creio que uma boa jogabilidade com Scout requer um bom ping, sem lags, de modo que os benefícios da velocidade saltam aos olhos. No meu computador e com minha internet não dá.

Aí vêm o Heavy e o Demoman que tenho um tempo mediano de jogo. São personagens com alto poder de fogo e resistência. Ao contrário do que muitos iniciantes pensam, o Heavy não é ofensivo, mas defensivo. Não à toa ele é lento. Seu papel é ficar atrás, atirando em todos que se aproximam do grupo. 

Mas há ocasiões em que um Heavy indo na frente é interessante, como nas partidas de payload, quando se vai carregando um carrinho com bomba. Coloque o Heavy na frente do carrinho e será empurrado por ele por todo o caminho, ao mesmo tempo em que é suprido com munição infinita e pode atirar feito louco. Divirta-se.

O Demoman é um dos mais versáteis. É entre todos o melhor no uso de melee, tanto que possui uma variedade enorme de armas brancas, machados, espadas, garrafas. Possui uma charge que faz que ele avance feito um touro na direção do alvo. Seu ataque explosivo é igualmente versátil, pois pode tanto atacar em quase linha reta, atirando diretamente nos alvos, quanto explorando as parábolas que o projétil faz. 

Pode atirar por cima de obstáculos e até escondido atrás de edifícios e montes, aí vai depender da sorte ou de um bom cálculo acertar quem estiver do outro lado. E tem as stickbombs que são uma maravilha. Estas bombinhas aterrorizam todo mundo porque podem ser detonadas à distância, o que significa uma espécie de ataque furtivo. Jogue as bombinhas em algum canto e espere alguém passar por cima pra mandar um kaboom.

Estes cinco, portanto, foram os que menos joguei. O Médico joguei bastante e me diverti muito, também peguei 3 milestones de conquistas com ele e dei por encerrado meu trabalho. Aí resolvi me dedicar ao Soldier.

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O Soldier é o primeiro personagem apresentado ao jogador no tutorial e aparentemente é o mais fácil e simples. Com o tempo, porém, a gente descobre sua complexidade. Primeiro, ele tem uma variedade de lança-foguetes com dano considerável, principalmente à curta distância. Nem é preciso ter boa mira, já que ao atirar no chão você causa um raio de explosão que pode atingir quem estiver por perto. É ideal pra começar no jogo.

Aí você logo nota que jogadores mais experientes usam o Soldier de uma forma diferente: saltando alto feito cangurus explosivos. É o rocket jump. Essa técnica é útil pra se locomover a longas distâncias, alcançar pontos altos que outros jogadores não conseguem, fugir, desviar de perigos e caçar inimigos. 

Você pode atirar enquanto está ainda no ar, virando um bombardeiro vivo. Acontece que aprender essa arte requer treinamento. Nesse sentido fui um eterno Soldier noob porque até aprendi a dar o rocket jump, mas nunca me dediquei a aprimorar. Existem até mapas feitos só pra treinar isto.

Por outro lado, o rocket jump é supervalorizado e também mal utilizado por jogadores entusiastas deste hábito. Quando você salta impulsionado por uma explosão nos próprios pés, leva dano, também leva dano quando pousa no chão. 

Ou seja, esse método foi feito pra se usar em poucas ocasiões, mas tem uns carinhas que ficam saltando feito malucos pra todo lado e já vi alguns que chegavam no meio dos inimigos com um terço da vida restando só porque fizeram todo o caminho saltando e levando dano desnecessário. Então é preciso calcular se compensa esse sacrifício.

Enfim, meus momentos mais divertidos com Soldier vieram depois que fabriquei uma arma peculiar: o Avacalhador. Esse troço que parece um lança foguetes futurista não precisa de munição, então com ele tenho uma preocupação a menos. Só é preciso reativar as 4 cargas depois de gastá-las. 

Ao matar alguém, o corpo da vítima é pulverizado em uma espécie de choque elétrico. Um efeito lindo e aterrorizante. Por fim, existe um ataque especial que consome 4 cargas de uma vez em uma explosão capaz de incendiar todos por perto. Esse ataque é muito prazeroso e todos têm medo dele.

Claro que um ataque tão forte tem um preço. É lento e, enquanto você está carregando o disparo, fica vulnerável. A dica é a seguinte: se você quer atirar em determinado ponto, não fique parado diretamente em linha reta para esse alvo. Fique em um ponto que tenha uma parede ou algo que te dê cover, levemente próximo da linha de tiro. Então carregue o especial e vá se movendo até sair do cover no instante em que o grande disparo é feito. 

Uma das melhores utilidades desse especial é quando tem vários inimigos capturando um ponto. Aaah, você pode fritar todos eles com um tiro só. É lindo ver o desespero do grupo. É um prazer semelhante ao do Demoman quando explode vários players de uma só vez com um chão coberto de stickbombs.

Por fim, o Soldier tem até para-quedas e um ataque melee único feito pelo ar, quando ele dá o rocket jump e cai em cima da vítima com uma pá que tem o poder de dar danos críticos se usada dessa forma. 

Aaah, e o chicotinho. Tem um chicotinho que você pode bater nos colegas pra aumentar a velocidade deles e sua e também é bom pra matar os inimigos na chicotada. Tem também outros itens que dão determinados boosts em todos por perto, o que só aumenta a versatilidade desse personagem.

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Ennnfim... Poderia falar mais do Pyro, que me consumiu várias horas, a maioria delas só porque eu estava louco de ódio pelos Spies e queria caçá-los. E meu personagem main foi o Engenheiro. Creio que gosto mais de personagens generalistas do que especialistas. Gosto da versatilidade e o Engenheiro é o mais versátil de todos. Posso dizer que o seu papel de suporte supera o do Médico, pois o Engenheiro também pode curar os jogadores, mas vai muito além disso. 

Ele pode curar e reabastecer munições de todos com o dispenser, pode defender pontos e atacar com a sentry, pode ajudar na locomoção de todos para locais estratégicos com o teleporter e ainda tem lá suas pistola e espingarda pra se virar numa troca de tiros. É o único que pode empunhar um item que permite que se teleporte para a base ou para a saída de um teleporter sem precisar pisar numa entrada de teleporter

Ou seja, o Engenheiro é cheio de brinquedinhos que ele pode espalhar pelo mapa ou concentrar em um só ponto. O Engenheiro que fica recluso em um canto cercado com suas máquinas é chamado de "tartaruga", porque é excessivamente defensivo. Esse tipo não costuma ganhar muitos pontos e passa a maior parte do jogo sem enfrentar ninguém. 

Tudo bem se ele ficar do lado de sua sentry defendendo uma base, mas o bom Engenheiro mesmo é aquele que sabe colocar uma dispenser à disposição de todos. Achar cura e munição é uma preocupação constante de todos. Se no meio da batalha tem uma dispenser oferecendo estes materiais infinitamente, é um alívio para o grupo. Mas coloque num cantinho protegido e longe da vista dos inimigos. 

Team Fortress 2

O melhor amigo do Engenheiro é obviamente o Pyro e ambos costumam ficar sempre perto. O Pyro faz o spycheck pra evitar Spies quebrando as máquinas do Engenheiro e em troca tem sua arma sempre recarregada pela dispenser, pois um bom Pyro não tem pena de gastar fogo.

No começo eu achava estranho quando via em plena partida um grupinho dançando ou o famoso Hoovy pelos cantos. O Hoovy é um Heavy pacato, empunhando sanduíche (sandvich) e muitas vezes encostado e agachado nas paredes. Ele está ali pra não matar ninguém e só assistir e enfeitar a partida. Geralmente são jogadores assim, já "aposentados" dos tempos de porradaria e só querem curtir a partida. Agora eu os entendo.

Sobre a comunidade, poderia escrever outro post apenas pra isso, porque não se pode julgar um jogo pela comunidade. Isso é uma generalização tola. Ora, jogadores legais e tóxicos existem em toda parte e encontrá-los é uma questão de estatística. 

Nestes cinco meses vi gente jogando numa boa e gente que fica xingando no chat ou votando pra kickar pessoas sem motivo. Quanto ao chat, você pode simplesmente ignorar. Nunca perdi tempo discutindo no chat, então nunca xinguei nem fui xingado. 

Outra coisa que pode tornar a experiência de jogo melhor ou pior é o matchmaking. Até escrevi outro post sobre isso¹. Esse mecanismo ainda está em evolução e nem sempre a inteligência artificial acerta nas combinações. Já caí num time que era visivelmente mais poderoso e massacramos o adversário e também já estive do lado dos massacrados, mas bom mesmo é quando há um equilíbrio e temos uma partida decente. 

Creio que a maioria das minhas partidas teve um match razoável e quando o desequilíbrio era absurdo eu percebia logo nos primeiros minutos e aprendi que é melhor sair do jogo e procurar outro do que ficar sofrendo em vão.

Demorei pra conhecer Team Fortress, mas no fim valeu muito a pena. É um jogo fantástico que inspirou vários outros depois dele, influenciou uma geração inteira de jogos e é legal descobrir seus memes no Pinterest ou as animações feitas no Youtube. Sim, tem várias animações porque as sprites estão disponíveis pra quem quiser trabalhar com elas usando o software Source Filmmaker. Team Fortress 2 é definitivamente parte da cultura nerd.

Shut up and take my hummmmph!

Notas:


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