Este filme, dirigido por Peter Jackson, foi baseado no livro The Lovely Bones (Uma Vida Interrompida, 2002), da autora Alice Sebold e conta a história de uma garota na década de 70, Susie, que é raptada e morta, indo parar num limbo intermediário entre o Paraíso e o mundo dos vivos.
Susie irá observar o sofrimento de sua família e também investigar seu assassino, tentando de alguma forma interferir no mundo dos vivos a fim de conseguir vingança, mas percebe que terá de escolher entre dois caminhos: lutar contra o destino e vingar-se de seu assassino ou aceitar a morte e subir para o Paraíso, deixando que a sua família siga adiante.
Há uma certa semelhança gráfica entre este filme e Amor Além da Vida (What Dreams May Come, 1998). Ambos usam bastante as cores azul e dourada. No caso de Amor Além da Vida, há uma evidente inspiração em Van Gogh, que usava muito estas cores, e, em ambos os filmes, elas sugerem uma simbologia dualista, pois azul é a cor da tranquilidade e amarelo a da euforia. Inclusive a personagem Susie tem olhos azuis e é loira, além de usar roupas com estes tons.
Peter Jackson, famoso por longas como King Kong e Senhor dos Anéis, investiu justamente naquilo que é seu forte, os efeitos especiais. As cenas que descrevem o limbo e o paraíso são belas e coloridas, como um mundo dos sonhos. Ao mesmo tempo, a trama tem um aspecto mórbido e dramático, pois trata de um tema pesado, do abuso e assassinato de crianças.
O filme segue assim, sempre dualista, pois ora estamos encantados com a beleza e a leveza do além-vida, ora sentimos o amargor deste mundo em que qualquer pessoa pode ser perigosa e destruir a paz de toda uma família. Uma mistura incomum de fantasia e horror.
Afinal, a história tem de ser dualista. Ela opõe vida e morte, conflito e descanso. A vida terrena é perigosa, trágica, o que fica evidente no assassinato das garotas pelas mãos de um suposto "homem de bem", um homem pacato de quem ninguém desconfiaria.
A primeira cena em que o assassino aparece. Ele é apenas mais um na multidão, um sujeito aparentemente pacato de quem ninguém desconfiaria. |
Era a década de 70 nos Estados Unidos e ainda não havia a onda de assassinos seriais, maníacos e terroristas. As crianças brincavam na rua sem medo e não desconfiavam de seus vizinhos.
Desta forma, o filme também parece fazer uma discreta crítica à decadência da sociedade. Outrora se vivia com mais tranquilidade e segurança e então foi se tornando cada vez mais difícil identificar um possível agressor.
O dualismo céu/terra, pureza/perversidade tem ares de gnosticismo, o que é muito comum no cinema: existe um mundo falso, com aparência de pureza, que na verdade é impuro. É uma matrix, uma realidade corrompida e ilusória. Em contraste, há outro mundo que é realmente puro, celestial, o pleroma gnóstico. Por fim, é um filme sobre aceitação, pois todos nós vamos morrer um dia.
Cena curiosa mostrando como a pilha de livros da mãe mudou depois que ela teve filhos. Foi de Albert Camus e Virginia Woolf para livros de culinária e jardinagem. |
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