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Drama e fantasia em The Lovely Bones

Saoirse Ronan in The Lovely Bones (2009)

Este filme, dirigido por Peter Jackson, foi baseado no livro The Lovely Bones (Uma Vida Interrompida, 2002), da autora Alice Sebold e conta a história de uma garota na década de 70, Susie, que é raptada e morta, indo parar num limbo intermediário entre o Paraíso e o mundo dos vivos. 

Susie irá observar o sofrimento de sua família e também investigar seu assassino, tentando de alguma forma interferir no mundo dos vivos a fim de conseguir vingança, mas percebe que terá de escolher entre dois caminhos: lutar contra o destino e vingar-se de seu assassino ou aceitar a morte e subir para o Paraíso, deixando que a sua família siga adiante.

Saoirse Ronan in The Lovely Bones (2009)

Saoirse Ronan in The Lovely Bones (2009)

Há uma certa semelhança gráfica entre este filme e Amor Além da Vida (What Dreams May Come, 1998). Ambos usam bastante as cores azul e dourada. No caso de Amor Além da Vida, há uma evidente inspiração em Van Gogh, que usava muito estas cores, e, em ambos os filmes, elas sugerem uma simbologia dualista, pois azul é a cor da tranquilidade e amarelo a da euforia. Inclusive a personagem Susie tem olhos azuis e é loira, além de usar roupas com estes tons.

Peter Jackson, famoso por longas como King Kong e Senhor dos Anéis, investiu justamente naquilo que é seu forte, os efeitos especiais. As cenas que descrevem o limbo e o paraíso são belas e coloridas, como um mundo dos sonhos. Ao mesmo tempo, a trama tem um aspecto mórbido e dramático, pois trata de um tema pesado, do abuso e assassinato de crianças.

Saoirse Ronan in The Lovely Bones (2009)

Saoirse Ronan in The Lovely Bones (2009)

O filme segue assim, sempre dualista, pois ora estamos encantados com a beleza e a leveza do além-vida, ora sentimos o amargor deste mundo em que qualquer pessoa pode ser perigosa e destruir a paz de toda uma família. Uma mistura incomum de fantasia e horror. 

Afinal, a história tem de ser dualista. Ela opõe vida e morte, conflito e descanso. A vida terrena é perigosa, trágica, o que fica evidente no assassinato das garotas pelas mãos de um suposto "homem de bem", um homem pacato de quem ninguém desconfiaria. 

The Lovely Bones (2009)
A primeira cena em que o assassino aparece. Ele é apenas mais um na multidão, um sujeito aparentemente pacato de quem ninguém desconfiaria.

Era a década de 70 nos Estados Unidos e ainda não havia a onda de assassinos seriais, maníacos e terroristas. As crianças brincavam na rua sem medo e não desconfiavam de seus vizinhos.

Desta forma, o filme também parece fazer uma discreta crítica à decadência da sociedade. Outrora se vivia com mais tranquilidade e segurança e então foi se tornando cada vez mais difícil identificar um possível agressor. 

O dualismo céu/terra, pureza/perversidade tem ares de gnosticismo, o que é muito comum no cinema: existe um mundo falso, com aparência de pureza, que na verdade é impuro. É uma matrix, uma realidade corrompida e ilusória. Em contraste, há outro mundo que é realmente puro, celestial, o pleroma gnóstico. Por fim, é um filme sobre aceitação, pois todos nós vamos morrer um dia.

The Lovely Bones (2009)
Cena curiosa mostrando como a pilha de livros da mãe mudou depois que ela teve filhos. Foi de Albert Camus e Virginia Woolf para livros de culinária e jardinagem.

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